domingo, 16 de maio de 2010

COLUNA UM - Daniel Teixeira - Quem somos nós, afinal!?

COLUNA UM - Daniel Teixeira - Quem somos nós, afinal!?

Tenho-me deparado nestes últimos tempos com alguns trabalhos, que vou lendo por essa Net fora, onde a pergunta - pelo menos implícita - que surge é a já velha questão «netística» de se saber se as pessoas na Net são reais ou são diferentes da sua realidade.

Pessoalmente, e apesar de já ter entrado algumas vezes na discussão do tema, acho que essa pergunta é, pelo menos parcialmente, uma falsa questão, quando colocada exclusivamente no âmbito do raciocínio sobre a Net. Na verdade nunca ninguém é, de uma forma estável e estática, ou duradoura, da forma que o outro desejaria e idealiza em termos comportamentais na Net ou fora dela.

Todos flutuamos em termos de «humor», quase todos temos problemas e alegrias que condicionam os nossos comportamentos e as nossas apreciações, quase todos somos um pouco aquilo que somos e um pouco aquilo que não somos, com Net ou sem ela. Isto no que se refere a comportamentos, a formas de agir, a atitudes que se tomam.

Amos Oz, um escritor israelita, define, por outras vias e com uma outra gravidade esta situação com o seu tema a mulher à janela. Nenhuma delas, Israelita ou Palestiniana sabe concretamente o que a outra pensa, quais os seus problemas pessoais, as razões de uma estar bem ou mal disposta, enfim, não existe qualquer informação trocada entre elas, só podem imaginar-se...

O problema pode ser colocado em qualquer circunstância e em qualquer meio, e tendo como exemplo o referido acima sobre Amos Oz, trata-se de saber se o comportamento ou a atitude de uma dada pessoa entra dentro de um padrão que se considera aceitável. Quer dizer, se esse comportamento não sai, para mais ou para menos, de um espaço que a nossa mente calcula razoável.

A ideia que se pretende e que na Net não se consegue obter senão após um lapso de tempo maior do que na vida real, é esta acima referida certeza relativa de uma regularidade comportamental que só se consegue através da solidificação da nossa ideia, da nossa opinião e aqui entram em linha de conta outros factores que já foram aflorados acima : na verdade, e sumarizando e muito, até que ponto o outro imaginado do lado de lá não corresponde a um modelo que nós mesmos temos criado dentro de nós!?

Quer dizer, até que ponto a ideia que fazemos e vamos fazendo do outro não é para nós aquela que nós consideramos razoável e / ou desejável e / ou possível dessa mesma pessoa tendo como «modelo» um modelo ou um conjunto de modelos que recolhemos em meio múltiplo e armazenámos na nossa mente?

sábado, 15 de maio de 2010

Florbela Espanca - Por Arlete Deretti Fernandes

Florbela Espanca - Por Arlete Deretti Fernandes

«Irmã, Sóror Saudade, ah! se eu pudesse,
Tocar de aspiração a nossa vida,
Fazer do mundo a Terra Prometida
Que ainda em sonhos às vezes me aparece!»

Américo Durão

Florbela Espanca por outros poetas

Um modelo de inspiração de Florbela foi o poeta Americo Durao que encontrou durante os seus estudos em Lisboa e que é o criador do nome Soror Saudade como ele assim chamou Florbela num dos seus poemas, nome que Florbela posteriormente usou como o nome da segunda coletanea o Livro de Soror Saudade.

Florbela Espanca causou grande impressão entre seus pares e entre literatos e público de seu tempo e de tempos posteriores. Além da influência que seus versos tiveram nos versos de tantos outros poetas, são aferidas também algumas homenagens prestadas por outros eminentes poetas à pessoa humana e lírica da poetisa.

Manuel da Fonseca, em seu «Para um poema a Florbela» de 1941, cantava «(...)«E Florbela, de negro,/ esguia como quem era,/ seus longos braços abria/ esbanjando braçados cheios/ da grande vida que tinha!».

Também Fernando Pessoa, em um poema datilografado e não datado, de nome «A memória de Florbela Espanca», descreve-a como «alma sonhadora/ Irmã gêmea da minha!».
Florbela foi do interior, Évora, para estudar em Lisboa. Tinha vários amigos intelectuais.

JORGE DE SENA - Por Liliana Josué 

JORGE DE SENA - Por Liliana Josué

BIOGRAFIA DE JORGE DE SENA
Jorge de Sena nasceu em Lisboa a 2 de Novembro de 1919 e faleceu a 4 de Junho, em Santa Bárbara - Califórnia no ano de 1978.
Filho de Augusto Raposo Sena, natural dos Açores , tendo como profissão comandante da marinha mercante, e de Maria da Luz Grilo, dona de casa, natural da Covilhã.

Foi um filho tardio deste casal e, segundo consta, terá tido uma infância e adolescência pouco felizes, devido ao pesadelo da Guerra Civil de Espanha que viu de perto, e pela austeridade de seus pais pertencentes à alta burguesia, ou mesmo aristocracia, os quais pretendiam delinear-lhe a vida a seu modo.

O pai era um homem marcada pelo rigidez militar e a mãe pertencia a uma «casta» de grandes comerciantes.

O escritor iniciou os seus estudos secundários no extinto Colégio Vasco da Gama e terminou-os no Liceu Luís de Camões, tendo sido aluno de Rómulo de Carvalho (o grande poeta António Gedeão), na disciplina de Físico-Química. Ingressou na Escola Naval com excelente aproveitamento, mas formou-se em Engenharia Civil no ano de 1944, contra a vontade dos progenitores mas compensado pela a ajuda de dois grandes amigos: Ruy Simati e José Blanc.
Ao realizar a primeira viagem de navio a sua paixão pela descoberta de novos mundos nunca mais o largou. Em 1949 casou com Mércia de Freitas Leça com quem teve nove filhos. Ambos tinham uma visão nada tradicionalista nem conservadora em relação ao casamento, e que talvez ainda hoje continue a não ser bem aceite. Quanto a eles este acto não deveria ser uma privação de liberdade, mas a continuidade da mesma.

Em 1959 foi exilado para o Brasil devido à sua participação abortada dum golpe de estado. Aí exerceu a profissão de Catedrático de Teoria da Literatura Portuguesa na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, em S. Paulo, até 1965.

A partir de certa altura o regime político brasileiro deixou de o favorecer, e nesse mesmo ano (1965) partiu para os EUA onde exerceu vários cargos de relevo a nível cultural e onde acabou os seus dias.

VOZES - Conto de Liliana Josué 

VOZES - Conto de Liliana Josué

Sinto o fumo da estupidez à minha volta. Tem um cheiro intenso a mesquinho; qualquer coisa insuportável.
Sento-me num banco de tampo forrado a oleado amarelo e branco, da ampla cozinha desolada e fria, assim como eu. A máquina lava a roupa pachorrenta num gesto teatral de infinitude.

Meu corpo balança ligeiramente ao ritmo do seu tambor num impulso quase inconsciente mas inevitável, enquanto um murmúrio de canção sai dos meus lábios entrecortado pela minha falha de memoria do seu todo.

Sigo o vazio num vago olhar de espírito ausente e corpo presente. O óculo da máquina, semelhante a vigias de barco, mostra seu mar revoltoso de espuma branca.
Um estranho odor surge inesperadamente do silêncio deslizando nas paredes geladas. Tremo de frio, aconchego o casaco mais ao corpo enquanto tomo consciência da minha realidade, e é quando surgem as vozes emboloradas escorrendo estupidez, como panela ao lume vertendo o caldo pelas bordas.

Salpicam-me os seus borrifos e escaldam-me a mente. Tento fugir mas não vou a tempo e acabo polvilhada de nódoas enquanto o meu cérebro é martelado por essas vozes:
- Não é assim… está mal… mas está mal!!!

Virou para esquerda? Errado, o correcto seria para a direita! Ai virou para a direita também? Desculpe, não sabia. E que eu olho e a posição é sempre a mesma! Talvez fosse melhor virar para a esquerda e para a direita…! Também virou para a esquerda e para a direita…? Ah! não sabia. Mas vire, vire sempre - !!

Eu canso de explicar saber que é assim que as coisas se processam mas não sinto qualquer receptividade. Os cenhos tornam-se de um macio duvidoso e voltam à carga forçando simpatia: - Ai sim…? Mas vire, vire sempre!!

A máquina acorda-me irritantemente numa centrifugação barulhenta, e em forma de protesto atira com a espuma de mar para o chão.
Observo-a surpreendida enquanto barafusto num despertar de factos e considerações reais.

A solenidade do buraco - Reflexão de Michel Crayon

A solenidade do buraco - Reflexão de Michel Crayon

O mirone, termo depreciativo normalmente utilizado para quem gosta de ver, não forçosamente porque não gosta de fazer, mas a maior parte das vezes porque não tem mais nada que fazer, é um fenómeno que tem sido referido ao longo da literatura e mesmo na filosofia: Jean Paul Sartre por exemplo utilizou o sistema (mironês) para dizer que não se pode ser espectador e actor ao mesmo tempo, questão que eu acho discutível mas que não vou aqui discutir.

Por sua vez um escritor americano (salvo erro Erskine Caldwell) relata num dos seus romances a luta entre dois indivíduos pela «posse» de um buraco na parede de um armazém naqueles ambientes um pouco surrealistas do campesinato americano dos anos 20 ou 30, com homens de calças de presilhas à jardineiro e ausência de banho anual.

Pois o dito buraco dava para a apreciação não de qualquer coisa extremamente escandalosa, não para a visão intromissora em algo de íntimo e pessoal mas sim para uma extensa pradaria, vazia e sem qualquer significado se fosse vista da porta do dito armazém. O importante era, pois, o buraco, a visão que era proporcionada pelo filtro do buraco, o facto de haver algo a separar o espectador da paisagem, a sensação diferente que era ter de mexer o corpo, e o olho, para olhar para a esquerda ou para a direita, enfim, isto vai continuar!

Quando se trata de obras, sobretudo as públicas, é frequente ver-se nos taipais pequenos furos, apenas suficientemente largos para que uma ou mais pessoas possam espreitar e não sei se por piada se por filosofia empresarial aparecem por vezes os dizeres, acompanhados de seta a feltro :«Espreite por aqui.»

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Nirma Regina Constantino (Salto, São paulo, Brasil) - Notas pessoais, Composição Impressões Chopinianas e video (Anna)

Nirma Regina Constantino (Salto, São paulo, Brasil) - Notas pessoais, Composição Impressões Chopinianas e vídeo (Anna)

Sou uma pianista que, através de muita reflexão, desenvolvi alguns «padrões diferenciados» de sintonia com a música erudita.
Desde tenra idade «estagio» entre movimentos artísticos ( teatro, dança, pintura, literatura), porém com o intuito de melhor entender a dinâmica social.

A música é minha forma de «sabedoria intrapessoal» e acredito que o som produz o princípio para o autoconhecimento. Consequentemente, sua ministração reporta a alma do «ser»... para o núcleo... em «si mesma».

Meu objetivo com as composições é aflorar nos ouvintes a percepção «surreal» de inúmeros códigos e signos benéficos, que as «esferas melódicas, harmônicas» tem para nos oferecer e «recriar» condições de «nova vida» para as energias sutis que ficaram estagnadas entre os condicionamentos antropológicos.
Há muito o que se aprender e apenas compartilhando com sinceridade é que nos desenvolveremos através dos «infinitos mundos».

Pensamentos de uma compositora clássica contemporânea
Autora: Nirma Regina Constantino (Salto, São paulo, Brasil)
© Copyright da autora .
E-mail: Contato: nirma.constantino@gmail.com
Blog: http://aartedoslivrespensadores.blogspot.com/

A MUSICA é entidade viva e existe, coexiste por si mesma. Está em todo o universo e em todas as formas que nele se fazem presentes. Os chamados «mestres da música» compreenderam e sentiram esta potência atemporal em si mesmos e em toda a criação.
Respeitaram «sua vontade» e fizeram com que a energia da vida fluísse em todas a direções. Isto não é privilégio de uns, mas de todos que possuem olhos para contemplar sua face e assim o querem.

Podemos entendê-la com as prerrogativas intelectuais humanas, porém para senti-la é preciso sentirmos a nós. E para manifestá-la é preciso ir além do pensamento, das teorias, dos conceitos daqui, que estipulamos como princípios e fins, de verdades quase absolutas. Por isso, somos um PENTAGRAMA...em movimento.

Poesia escrita e declamada de Arlete Piedade - Sonho impossivel - Terapia

Poesia escrita e declamada de Arlete Piedade - Sonho impossivel - Terapia

Sonho impossivel

Sonhei em encontrar um amor
que fosse antes de mais, amigo
que falasse e brincasse comigo
a quem confidenciar as mágoas
e receber dele, uma palavra amiga
que fosse também minha fantasia
que comigo fizesse acontecer magia
na troca de olhares, a faísca
do amor, da paixão incendiária
em quem pudesse confiar sem medos
a quem pudesse entregar por inteiro

Terapia

Deste coração dolorido e tristonho
Vou expulsar um amor do passado
Para limpar de mágoas e fantasmas
Esta alma que agora te quer tanto
E que hoje só a ti deseja para amar

O passado está enterrado há muito
Numa terra longínqua para lá do mar
Num cemiterio desconhecido ao sol
Repousam os seus restos mortais
O sonho há muito que já terminou

Mas a vida tem que continuar
Enquanto o coração ainda bater
E o meu sangue nas veias circular
Enquanto o sol pela manha, nascer
Eu ainda vou ter alguém para amar

és tu o amor maduro no ocaso da vida
és tu que me amparaste na queda
és tu que me fizeste sentir querida
és tu que me fizeste sentir amada
és tu que quero a meu lado ate ao fim
és tu que ele queria saber junto a mim

Leia e ouça estes poemas completos