domingo, 15 de agosto de 2010

Reflexão doentia - Reflexão de Michel Crayon

Reflexão doentia - Reflexão de Michel Crayon

Há bocado estive a ver mais um episódio do Dr. House, coisa que já me vai chateando, mas que falta de melhor me vai satisfazendo naquele patamar de exigência mínima a que sou forçado por vezes, porque não dá nada de melhor na TV e eu preciso de me distrair um bocado, mesmo que essa distracção seja uma distracção mínima.

Havia duas personagens, doentes, em jogo, com maior relevância (para além do para mim já pseudo carismático Dr. House): uma, uma jovem que alegadamente tinha sido violada e um outro, um velhote canceroso em fase terminal.

A jovem, chata como o penico, na minha visão cínica, e passe a aparente insensibilidade, é preciso não esquecer que se trata de um filme, com uma história limada pelos especialistas emocionais que realizam a série e fazem o argumento, adquiriu, essa jovem, pelas mãos do argumentista, o estatuto privilegiado de ter de ser tratada nas palmas das mãos.

Para o efeito, durante uma consulta de psiquiatria, jogou a mão a um frasco de comprimidos e engoliu-os de uma assentada. O facto de ter sido violada (numa festa de uma amiga, esclareço, não se trata daqueles rappes vadios em ruelas escuras) não terá parecido suficiente ao argumentista para alicerçar a história, pelo que este (o argumentista) lhe meteu uma vintena de comprimidos pela goela abaixo, deitando-a no chão a espumar.

Por outro lado e noutro lado o velhote em fim de vida chama a atenção da Dr.ª Cameron (um bom borracho mas muito insonsa, diga-se) recusando os tratamentos paliativos que lhe atenuariam a dor, porque alegadamente quer morrer com dor. Depois, afirma à referida Dr.ª, que só pretende que ela se lembre dele, numa manifestação de isolamento e num desejo de deixar pelo menos uma memória nesta terra, plantada na mente da Dr.ª Cameron.

Leia este tema completo a partir de 16/08/2010

Raizonline entrevista o produtor e realizador cinematográfico Julião Silvão Tavares

Raizonline entrevista o produtor e realizador cinematográfico Julião Silvão Tavares (Cabo Verde)

Quem é Júlio Silvão Tavares (Julião Silvão) ?

Durante cerca de três anos teve um programa radiofónico, na então Rádio Nacional, hoje Rádio de Cabo Verde, denominado «ARTICULTURA» (1992). O objectivo do programa era divulgar a cultura tradicional e os seus promotores. A partir deste programa, foi contactado para realizar uma proposta idêntica na Televisão. Não havia na TV programas que divulgassem as tradições, os hábitos e costumes de Cabo Verde. Em 1993 começa a produzir e realizar o programa cultural «DRAGOEIRO», de periodicidade quinzenal que teve três anos de vida.
Actualmente, não está ligado à televisão nacional. Criou uma empresa de Produção e Realização Cinematográfica, Silvão- Produção, Filmes, em 2004. Em 2005, realiza o seu primeiro filme documentário, o «Batuque, a Alma de um Povo».

A «Silvão - Produção, Filmes» produziu e realizou um documentário de 24 minutos sobre a arte plástica cabo-verdiana, que já foi visto tanto na TCV como na RTP Africa. Tem em projecto a produção de um filme que retrata a história do Centro Prisional do Tarrafal a partir do assalto à mão armada do navio «Pérola do Oceano», em Agosto de 1970, por alguns nacionalistas cabo-verdianos para alcançarem a Guiné Bissau e tomarem parte na luta de libertação.

Tem em preparação uma primeira longa-metragem. Um filme cuja sinopse já fez parte da colectânea do Festival de FIICAV em São Paulo (Brasil), no ano passado. O nome provisório do projecto foi «Triângulo Virgem», uma obra de ficção, que retrata a fragilidade e inexperiência de Cabo Verde em termos de segurança nos primeiros anos da independência, a ser utilizado como empório de droga da América para Europa.

Tem em execução o projecto «Cinema Aberta» que é uma parceria da Produtora Silvão - Produções, Filmes com o Centro Cultural Francês que tem como propósito fazer mostra de filmes produzidos em Cabo Verde ou sobre Cabo Verde por produtores e realizadores cabo-verdianos e estrangeiros. A mostra é feita em ecrãs gigantes e em via pública, gratuitamente, em diferentes povoados. Para além de ver filmes, a comunidade tem a oportunidade de ver e analisar a sua vivência na sua localidade de sua residência, através de imagens da própria residência recolhidas na antevéspera da mostra. Por este facto, a comunidade é um cinéfilo participativo do Cinema Aberta.

Leia este tema completo a partir de 16/08/2010

sábado, 14 de agosto de 2010

COLUNA UM - Daniel Teixeira- Pensamentos

COLUNA UM - Daniel Teixeira- Pensamentos

Estou neste momento a ouvir na nossa rádio Raizonline o cantor português José Afonso. Conheci-o um pouco, não tanto ao ponto de ter ficado na sua lista de relações, mas é sempre gratificante ter contacto com gente famosa, mesmo que na altura as coisas já andassem mal para o seu lado no plano da saúde: esclerose múltipla, ao que me disseram foi-o levando aos poucos desta vida.

O José Afonso, por aquilo que sei, passou tempos difíceis, extremamente difíceis, lutou, manteve-se sempre igual a si mesmo, derrubaram-no, levantou-se sempre e...passado tempo uma doença leva-o.

Convenhamos que este tema não é propriamente muito leve, mas serve, não acho que haja outra forma de o fazer, para reflectir um pouco não sobre e efemeridade da vida mas sobre os absurdos com que tropeçamos na vida e sobre o que nos leva a deixar de crer na possibilidade que sempre foi remota de termos um conhecimento tranquilo sobre o nosso futuro. Já não há - se é que houve alguma vez.

A Cristina Maia Caetano na sua crónica desta semana escreve sobre a cada vez maior solicitação das pessoas pelas crenças chamadas de alternativas mas serão mesmo alternativas?
Quando se fez aqui um trabalho sobre o Albinismo em Africa - depois vimos os albinos no Brasil e noutros países do mundo - li textos em francês sobre o tema e havia lá uma frase que eu achei bastante profunda e reveladora.

Um autor francês (não tenho o texto exacto aqui nem vou procurar o seu autor ) dizia de uma forma liminar: levámos estes últimos tempos a dizer às pessoas que a «curandaria» (ou seja a chamada cura tradicional) tinha desaparecido e perdido a sua influência porque a ciência se lhe tinha sobreposto e acabara por a reduzir a uma expressão residual.

Mas, segundo este autor, a situação é precisamente ao contrário: a medicina tradicional terá desaparecido não por força da ciência mas por força da crença na ciência. Ou seja, e por outras palavras, não foi a ciência no seu sentido efectivo e actuante que se sobrepôs à medicina tradicional, mas sim a «fé» em si que ela criou.
Ou seja, a uma fé sobrepôs-se uma outra fé.

Leia este tema completo a partir de 16/08/2010

O Dom Queixote e o Sancho Prancha - Conto - Humor por Conceição Bernardino

O Dom Queixote e o Sancho Prancha - Conto - Humor por Conceição Bernardino

Dom Queixote perdera o juízo na rua do Sobradinho lá prós lados da Vila de Cima, queria ser reconhecido a todo o custo, nem que fosse à lei do estandarte. Dizia-se senhor das palavras escritas, que Camões colheu, dos feitos do Gama e do Infante, do Bocage, o alucinado herdara o penteado.

Um dia jurou vingança, pediu ajuda ao seu fiel mano Sancho Prancha, um lavrador vindo da parvónia, que confundia nabos com nabiças.
Este aceitou de imediato o pedido do Viriato desde que lhe pagasse umas feriazitas na Ilha dos Gormitis, onde habitam uns monstrinhos com falta de sal na moleirinha.

Fizeram-se à estrada mas ninguém lhes deu boleia, a pobre da Mula já não andava, nem de frente nem de lado, sentia-se cansada, sofria de má circulação e de cólicas renais, tinha passado o dia anterior na feira de Anais. Servia de poiso para regalar uns postais, fotos e caricaturas, era Mula estimada, fidedigna e recatada, sócia número dois da cooperativa das Mulas de Cima.

Dom Queixote iria até ao fim ou não fosse cavaleiro pedante. Subitamente avistou um grupo de idosos acabados de chegar numa excursão da Pavoa de Lanhoso, mas o alucinado era tão ranhoso que disparou uns quantos livros de outros escritores menos lidos, aos quatro ventos da Penha.

- Prancha, Prancha ao ataque olha lá estão eles, os cobardes que me querem roubar a literatura. Como são fortes e barrigudos devem ser castelhanos, atira-lhes com o Neruda ou com o Salvador, que eles piram-se já daqui.

Prancha aparvalhado, respondeu:
- Meu amo repare bem, são um grupo de idosos que visitam a nossa Penha, que mal nos podem fazer?
- Não meu fiel trapaceiro!
Para além de burro és parvo como a pêra rocha, não vês o que os gajos trazem na mão, espadas de vários tamanhos, vamo-nos a eles.

Leia este conto completo a partir de 16/08/2010

Crónicas «Ver e Sentir» - Por Cristina Maia Caetano - (LIV)

Crónicas «Ver e Sentir» - Por Cristina Maia Caetano - (LIV)

Cada vez mais, é notório o interesse por questões espiritualistas!
Cada vez mais, é crescente o número de adeptos e participantes de retiros espirituais, meditação, Reiki e, por aí fora...
Cada vez mais, o refúgio para diversas adversidades quer familiares, saúde ou de negócios, leva a uma diferente abordagem de vida e na vida!

Cada vez mais, dúvidas e questões surgem!
O abraçar directivas mais de índole espiritual, de facto pode atenuar e suavizar sofrimentos que até então eram demasiados pesados! É certo que não desaparecem! Mas também, é certo que a percepção das coisas muda e com ela a capacidade «tolerar» determinadas circunstâncias aumenta...

Afinal, nada acontece por acaso e, coincidências não existem!

Continua, no entanto, a aprendizagem em qualquer dos casos ser árdua! Inclusive, muitas das vezes, quando tudo parece já ter acontecido, que tudo já se ultrapassou, outro golpe surge e outro e mais outro! Mais uma vez, o ciclo de intempéries parece jorrar! Aí, parece chegar altura para novo ciclo, novo rol de perguntas e incertezas!

E é como se nos estivessem a preparar e avisar!

Se calhar, falta-nos aprender mais do que pensávamos!

Se calhar, é o universo a questionar-nos acerca do que realmente queremos! Se valemos a pena o esforço! Se merecemos!

Indubitavelmente e com toda a certeza, pessoas boas, com formas de pensar e viver diferente, existem. Quantas e quantas tempestades já resistiram! Quantas delas, continuam e de forma condigna e admirável, a percorrer trajectos sinuosos! Quantas delas, assoladas por dúvidas são. Quantas lágrimas nos seus humanos rostos não espreitam e escorrem.

Leia este tema completo a partir de 16/08/2010

Renata Rimet - Pequena Biografia e um Poema - VERSOS TORTOS 

Renata Rimet - Pequena Biografia e um Poema - VERSOS TORTOS

POESIA

VERSOS TORTOS

Seja qual for a definição,

conclusão somente ao final
Loucura, o norte dessas vidas
viciam em versos tortos...


Presos numa história
que aos poucos desenrola e
fascina por caminhos soltos


Promete ao mesmo tempo que foge
de longe nem acredita
mas espera...


Seja qual for a definição
a conclusão
também será escrita,
descrita em versos
que sejam ou não tortos
em mensagens secretas
ou cifradas

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A «Impossível», o segredo afrodisíaco e ancestral do Ypioca.- Por Se Gyn

A «Impossível», o segredo afrodisíaco e ancestral do Ypioca.- Por Se Gyn

Apareceu um feridão meio doido e, não deu outra: caí na estrada, baixando pra terrinha, em busca de descanso e, a intenção de rever família e amigos.

No domingo, fui até a casa de um primo, pra convidá-lo para uma escapada, até o rancho do Cabo. Ele topou e, então resolvemos levar umas cervejas, pra encarar o tempo de calor e secura. Fui pegar as cervejas na geladeira e, deparei com uma garrafa pet de dois litros, com uns pedaços de caule, dentro de um líquido meio laranja.

Perguntei a ele, então, pra que era aquela garrafada. Ele veio de lá, e me estendeu a garrafa, perguntando com um olhar de incredulidade, se eu ainda não havia visto uma garrafada da «impossível»...

Ah, a lendária «impossível» - uma planta misteriosa da região que, tem, segundo aqueles que a experimentaram, um estupendo efeito afrodisíaco e, da qual, somente o nosso amigo Jerônimo, apelidado Ypioca, conhecia, por ter recebido do pai, Maurílio, aquele segredo de alegria, afirmação e rejuvenescimento masculino.

Dos filhos do velho Maurílio (que era um tipo de traços típicos de quem tinha na descendência, traços do sangue caiapó e, que tinha fama, talvez injusta de... tarado, justamente por conta de alardear o consumo da misterioso tônico sexual e da constante prática de assédio feminino), somente Jerônimo permaneceu na terrinha e, foi o único que que herdou do pai o conhecimento do segredo e, mantém a tradição avoenga - isto é, o consumo da beberagem resultante do libertação da tintura do caule da planta na água, cujo efeito era tornar impossível o fracasso do homem na hora do amor (todas as viagens de Jerônimo à capital, para demoradas visitas à namorada são precedidas de pelo menos uma semana de consumo pontual e adequado daquele caldo).

Mas, ganhar uns pedaços de caule de «Impossível» do Ypioca, é coisa difícil, um privilégio, do qual somente gozam os amigos mais chegados, que dividem com ele o gosto pelas pescarias, ocasiões em que, costuma aparecer, inopinadamente, vindo do mato, trazendo os pedaços da caule da venerada planta, que corta e reparte com os presentes, que por sua vez, repassa uns pedacinhos da lenhazinha para outros afortunados amigos.


Leia este tema completo a partir de 16/08/2010