domingo, 28 de março de 2010

Lágrimas e risos - in A PRECE DOS MAL AMADOS - CAPITULO DEZ-Por Manuel Fragata de Morais

Lágrimas e risos - in A PRECE DOS MAL AMADOS - CAPITULO DEZ-Por Manuel Fragata de Morais

Uma criança é um hóspede na casa, a ser amado e respeitado - jamais possuído, pois ela pertence a Deus.(J. D. Salinger)
Decorreram cinco dias desde a chegada de Balanta, e a vida tendia a retornar ao normal. A surpresa fora grande, não menos que a alegria e, após os dias festivos iniciais, a aldeia parecia encontrar a tranquilidade perdida há quase dezoito anos. Afinal a paz viera mesmo para ficar, dizia-se sem muito receio de falha, os sinais ominosos não deixavam margem para dúvidas e o regresso de Balanta, com o reencontro da filha, seria um culminar dessa bem aventurança.

Nehone, duvidoso de poder confiar por inteiro em Nazamba, sobretudo com o regresso da mãe, a velha poderia tirar-lhe a ideia da cabeça, já muito haviam sofrido, achara melhor ir sondando a maior parte dos velhos que integravam o conselho. Por intuição, Juba de Leão mandou-o chamar e, sem os rodeios e os salamaleques habituais, talvez por não mais os tolerar ou se sentir cansado, com o chapéu do poder enfiado na cabeça e o cabo de rabo de boi na mão, como sempre fizera quando desejava asseverar autoridade, apenas esperou que se sentasse onde lhe indicara, propositadamente no chão, sem resguardo. Nehone, manteve-se estático, de pé, por longo tempo, porém achou não ser prudente antagonizar o velho e sentou-se, com as pernas para o mesmo lado.
- Sonhei de novo com o sonho antigo. – disse, abruptamente.
Nehone olhou para ele e esperou, não quis responder e encaminhar a conversa, Juba de Leão que o fizesse. De qualquer dos modos, era bom que tivesse sonhado com a neta, ser-lhe-ia mais fácil encará-lo com as palavras certas.
- Sei que andam a tramar a minha sucessão... – Falou novamente Juba de Leão.
Nehone estremeceu quase que imperceptivelmente, não esperava a afirmação de chofre e, sobretudo, despida, crua. Juba de Leão sorriu para dentro. O bagre tinha entrado na nassa.

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