domingo, 11 de abril de 2010

Duque – parte I - Conto por Roberto Kusiak

Duque – parte I - Conto por Roberto Kusiak

Quando pequeno, eu gostava de usar as roupas de mamãe. Achava aquilo engraçado, me sentia bem. Depois, com o tempo, comecei a usar seus batons, sem que ela percebesse. Mas isso era vez que outra. Fazia por diversão, talvez. Gostava de tomar banho com meu pai, ele sempre me convidava. Era coisa normal na nossa família. Muitas vezes, eu e meus primos ficávamos nos bolinando, fazendo competições infantis tolas.

Hoje, passados trinta anos, relembro daquele tempo. Comentava com Carlos, que me olhava com os olhos estupefatos, deitado na cama. Eu sabia que ele teria aquela reação, mas não me importava. Carlos estava ali por um motivo, e ele sabia disso. Tornei-me professor cedo, logo depois da faculdade eu já lecionava. Era um colégio interno, antigo, construído no tempo em que a igreja católica ainda dominava os povos. Eu gostava da nostalgia daquele prédio, com seu pé direito muito alto, as portas de madeira trabalhada, estilo rococó. Ficava admirando aqueles corredores longos, escuros. Ficava pensando o que teria ocorrido naqueles corredores no tempo que os padres eram os professores.

Minha turma era composta por meninos na faixa dos treze anos. Em sua maioria branquinhos, a pele parecia algodão. Gostava de ficar com eles, me sentia bem. Tratava-os com muito carinho, não faltavam afagos. Poderia dizer que éramos cúmplices, todos nós. Um dia fiquei até mais tarde na escola, precisava corrigir alguns trabalhos, tinha pedido para o Júnior, um garoto que tinha como meu pupilo, para me ajudar. Percebi que ele estava um pouco estranho naquela tarde. O brilho de seu olhar havia sumido. Estava abatido, procurava não me olhar nos olhos. Segurei seu rosto em minhas mãos e beijei-lhe a testa.

- O que houve Júnior? Por acaso não gosta de ficar comigo?
- Gosto.
- Então por que esta cara amarrada? Não está se divertindo? Você sempre adorou ficar aqui comigo.
- É outra coisa professor. Outra coisa.

Achei estranho demais aquele comportamento, Júnior não era assim, estava sempre festivo, tratava-o como a um filho. No outro dia, na sala de aula, percebi que ele continuava do mesmo jeito, não falava com ninguém, estava cabisbaixo. O olhar por muitas vezes estava longe, mirando o céu pela janela da sala de aula. Comecei a me questionar se havia feito algo que ele não tivesse apreciado, se o magoei de alguma forma. Será que fui longe demais com ele?

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