domingo, 25 de abril de 2010

Duque – parte II - Conto por Roberto Kusiak

Duque – parte II - Conto por Roberto Kusiak

Aos domingos a igreja lotava. Famílias inteiras compareciam ao culto para ouvir minha pregação, e Deus, como eu sabia articular a palavra. O povo me venerava. Aos poucos comecei a freqüentar a casa das famílias, na maioria pobres, esquecidos pela sociedade e por Deus.
Levava-lhes esperança, palavras amigas de fé, de apoio, de elevação da alma. Em dois anos conseguimos ampliar o templo. Tínhamos até uma banda, formada por moleques da periferia, que não tinham espaço para expor o talento que Deus havia lhes dado.

Com sacrifício, consegui construir um templo no centro da cidade, maior que o da periferia. Aos poucos os fiéis começaram a surgir. Comecei a abrir em dias de semana para poder atender o grande número de seguidores. O triunfo afinal chegara, em partes, Deus ouviu minhas preces.

Uma noite, pouco antes do culto, no templo do centro, entrou um senhor de cabelos grisalhos, terno bem passado, sapatos lustrosos. Sentou-se na última fila, próximo da porta, como todos que comparecem a primeira vez ao templo. Aquela noite não usei as palavras dos antigos mestres, apenas a palavra do Senhor.

Ao final, como sempre, convidei os visitantes a permanecerem após o culto, para que pudessem conhecer um pouco mais o templo, o modo como tratamos os fiéis, para que se sentissem acolhidos, amados.

Ele foi o último, esperou todos saírem e dirigiu-se a mim. Parecia-me abatido, atormentado. As rugas em seu rosto mostravam que tinha uma vida turbulenta, um vazio na alma.
- Pastor, eu posso falar com o senhor um minuto?
- Claro meu filho. Venha, vamos até o escritório para que possamos ficar mais à vontade. Assim você já conhece um pouco mais do nosso humilde templo.

- O que houve com sua perna, pastor?
- É uma longa história filho. Mas para saciar-lhe a curiosidade, quebrei há alguns anos atrás. Desde então eu manco. Mas Deus me deu forças para continuar.

Leia este conto completo

1 comentário:

  1. Os meandros da alma humana podem elevar-nos ás estrelas ou lançar-nos nos abismos mais abjectos. Mas julgar? Quem somos nós...? Afinal quem nunca errou que atire a primeira pedra...e este conto é de uma gritante actualidade, com as notícias que constantemente vêm a lume na comunicação social. Reflectir? Sem dúvida que será o caminho mais acertado nestes tempos que correm. Reflectir e tiras as devidas ilações. Arlete Piedade

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