domingo, 20 de junho de 2010

COLUNA UM - Daniel Teixeira - A história da morte, das formas como se encara a a nossa sempre potencial morte ou a morte de alguém sempre me fascinou.

COLUNA UM - Daniel Teixeira - A história da morte, das formas como se encara a a nossa sempre potencial morte ou a morte de alguém sempre me fascinou.

Não temos muitos estudos sobre isso, embora agora a necessidade das instituições serem os mensageiros cada vez mais preferenciais da noticia da morte tenha trazido para um campo «científico» a questão e tenha feito despoletar um maior numero de estudos.

Por uma razão ou por outra, mas quase sempre porque se tenta, pelo menos, dar ao moribundo ou não a última chance num estabelecimento de saúde, cada vez se morre menos (muito menos) em casa e se morre cada vez mais num Hospital.

A história da morte, neste plano mais terra a terra dos posicionamentos das pessoas perante o falecido ou potencial defunto com prazo mais ou menos definido pelas análises médicas despiu-se de todo aquele ritual que era eminentemente familiar ou de pessoas chegadas e transformou-se na «notícia da morte» de uma forma objectiva, despida em grande parte daquela envolvência emocional mais ou menos duradoura.

Eu, por exemplo, nem sabia que o José Saramago, nestes dias falecido, estava doente e que sofria de doença grave capaz de não ser debelada. Soube, assim a notícia, só a notícia, do seu falecimento. E no entanto ele faleceu em sua casa, rodeado dos seus familiares e não num Hospital.

Evidentemente que lhe coube a ele, enquanto teve discernimento para isso e se por acaso o não teve depois, deixar disposto que a sua doença não devia tornar-se pública e que o seu provável desenlace deveria ficar desconhecido do grande público. Dispôs da noticia da sua provável e concretizada passagem a seu modo, gozando de um direito que nestas circunstâncias ainda é mais imperioso que todos os outros.

Em toda a minha vida tenho assistido a talvez dezenas de mortes, assim, nestas circunstâncias de só saber a notícia depois do desenlace se ter concretizado. Antes disso, salvo um caso ou outro de familiares mais próximos, tudo se passa sempre da mesma maneira: sei quando devo saber, quer dizer, passada a hora, até porque muitas vezes ou quase sempre a morte é inesperada mesmo que o não seja de facto.

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