domingo, 6 de junho de 2010

A rendição - Conto por Roberto Kusiak - Parte II

A rendição - Conto por Roberto Kusiak - Parte II

«Voltamos a falar ao vivo da Rua Videiras, no jardim residencial Paraíso, zona oeste da cidade. Nesse instante o Major Itacílio que é o negociador da PM, tenta conversar com o bandido. Segundo o capitão Rodrigo, o Major deverá em primeiro lugar, propor a rendição em troca da garantia de vida do agressor. E recebemos nesse momento a confirmação da identidade do indivíduo. Trata-se de Luiz Alfredo do Espírito Santo, o Nequinho, um foragido do presídio de segurança máxima de Indaiatuba.

Segundo a PM, Nequinho é um indivíduo de alta periculosidade, responsável por vários assaltos a agências bancárias e carros-fortes no interior do estado. Acreditava-se que Nequinho tinha sido assassinado por traficantes no Morro do Paleta em dezembro passado. A refém é Ana Maria de Jesus, de vinte e três anos. Voltaremos a qualquer instante. Beatriz Lafèem para o Plantão Notícias».

Desliguei o televisor após a última notícia. Espiei pela janela e vi aquele homem baixinho, cabelos grisalhos e com pinta de James Bond se aproximar cautelosamente da casa.
- Luiz. Aqui é o major Itacílio da polícia militar. Estou aqui para resolvermos esta situação da melhor maneira possível. Mas para que isso aconteça, eu preciso conversar com você.
- O cacete, Mané. Comigo o papo é reto cumpadi, tá ligado? Não tem essa treta de trololó não. Vacilou a mina recebe o alvará do Padre Chico, vai ficar com o corpinho cheio de avenida, tá ligado?.
- Tudo bem, vamos ter um papo reto então. Eu vou bater um fio e dar o desenrole, pode ser?
- Aí. Pode ser cumpadi. Mas não embaça senão eu apago a bonitinha aqui. Mas aí ó, fala pros home aí sair de perto da baia, senão a chapa ferve.
Estava ansioso, o meu celular já deveria ter tocado. Ascendi outro cigarro e olhei outra vez para o relógio da parede, faltavam quinze minutos para as dezesseis horas. O maldito celular não tocava e comecei a me irritar. Ana Maria estava com o olhar mais preocupado que antes.
- Fique tranquila que tudo vai dar certo. Tenha fé.

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