domingo, 6 de junho de 2010

Luiz Vaz de Camões - Representante típico da Renascença e um dos maiores poetas da língua portuguesa.- Por Arlete B. Deretti Fernandes.

Luiz Vaz de Camões - Representante típico da Renascença e um dos maiores poetas da língua portuguesa.- Por Arlete B. Deretti Fernandes.

O barco vinha da China com destino à India, no entanto naufragou ao chegar à foz do rio Mekong. Conforme descreveu Diogo do Couto, cronista da época, «salvaram-se todos despidos e o Camões, por dita, escapou com Os Lusíadas e (... ) ali afogou-se uma moça china (Dinamene), que trazia, muito formosa, com que vinha embarcado, e muito obrigado, e em terra fez sonetos à sua morte em que entrou aquele que diz: «Alma minha».

Dinamene, um dos grandes amores do poeta, morria no naufrágio; porém o manuscrito de Os Lusíadas estava salvo. Era mais um episódio da vida aventurosa de Camões.

Este é um dos mais conhecidos sonetos de Camões:
Alma minha gentil, que te partiste
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de ca me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
Neste soneto o apelo aos sentidos é transcendentalizado, imaterializado buscando Dinamene no Céu, em Deus, entendidos como valores filosóficos, míticos, e não apenas religiosos ou cristãos.

A morte implica uma espécie de purificação. A amada, que partiu para esse «mundo das idéias e formas eternas», também se torna objeto de elevação e saudade. Mas a «reminiscência», neste caso, tem mão dupla: do poeta, que se eleva à beleza imaterial da amada, como usual, e também na direção oposta, pois o poeta sugere a possibilidade de que a amada se lembre dele, «lá do assento etéreo».

O poeta equilibra a expressão de seus transes existenciais com a disciplina clássica.

Emoção e razão, expressão pessoal e imitação modelam uma dicção sóbria, contida, mas nem por isso menos comovente. Mesmo quando aproveita o material autobiográfico, não há o desespero dos românticos. A morte da amada serve também ao exercício poético da imitação, no caso, do modelo petrarquista: «Quest anima gentil che si diparte / Anzi tempo chiamata a l'altra vita».

Observe que, curiosamente, em «Alma minha...» o ouvido de Camões foi indiferente a uma cacofonia («maminha»), que hoje seria de todo modo evitada.

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