Cansaço - Por Wilson Torres
Sinto que o percurso é curto e enredado entre os meus e os teus dedos, percorridas que são céleres as distâncias enquanto os nossos corpos permanecem estendidos, deitados como corpos de outros que não nós colados em silêncio que é ao mesmo tempo grito vindo de dentro de nós como o fogo ardendo que não queima.
Sinto que o percurso é curto e enredado entre os meus e os teus dedos, percorridas que são céleres as distâncias enquanto os nossos corpos permanecem estendidos, deitados como corpos de outros que não nós colados em silêncio que é ao mesmo tempo grito vindo de dentro de nós como o fogo ardendo que não queima.
Seja tudo suor ou lágrimas (nunca se sabe) os nossos desejos antes tão desejados foram agora cumpridos como num relógio e consumidos - deles nada mais resta.
No silêncio dos corpos as argolas de fumo consomem-se no ar enquanto na tua fonte escorre o líquido que te molha e me enerva. E é uma chuva entre ervas que se dilui como eu me diluo nesta vontade de partir para o laranja tardio que aparece atrás do monte e das árvores entrando pela janela aberta onde balouçam as cortinas que não fizeste.
Calmo estou, mesmo assim, calmos estamos (tu estás sempre calma - ou será apática?) e os teus dedos percorrem o percurso do meu corpo. Pudera, não tens outra coisa que fazer senão entreteres-te, brincar, como brincas sempre.
Inebriam-te as sereias cantando à passagem na viela escura em que se tornou o quarto em noite já cansada de navegar e eu vejo-me em rosto inocente, imaginando de novo a vitrina baça da loja, com roupas, cestos e cordas e sinais em fogo de luzes e fumo na neblina em que nos reencontrámos.
Ainda sou o mesmo, ainda me sinto o mesmo. Mas tu já não és...eras livre, filha da rebeldia que o sangue derramado sagrou em mãe forte, senhora da floresta e do deserto. Eu ainda sou, ainda sou, na noite incerta que vibra ainda aos passos dos assassinos da tua vontade de seres.
Cubro-me no meu mundo, tenho medo do teu, mas da sombra escaldante desce sempre o movimento curvo das tuas asas. Estás aí, estás aqui, quisera que não estivesses. Passado tempo, todo o tempo em que ainda tenho de ficar não querendo, uso o manto nocturno mas não sei se o sonho constante nas horas perdidas em ti me volta ao corpo ou se o teu e o meu desejo renascendo vencem a castidade da minha ausência.
Leia este tema completo a partir de 06/12/2010
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