Memória de Natal - Reflexão de Michel Crayon
No Natal é sempre tempo para memórias e mais memórias. Ele são aquelas memórias que nos acompanham no dia a dia, as que aparecem especialmente para festejar connosco o período natalício e por último, e para mim as mais importantes por agora, há aquelas memórias que nos são contadas por aqueles que encontramos nas nossas carinhosas consoadas e que normalmente apenas vemos uma ou duas vezes por ano ou nem isso.
No Natal é sempre tempo para memórias e mais memórias. Ele são aquelas memórias que nos acompanham no dia a dia, as que aparecem especialmente para festejar connosco o período natalício e por último, e para mim as mais importantes por agora, há aquelas memórias que nos são contadas por aqueles que encontramos nas nossas carinhosas consoadas e que normalmente apenas vemos uma ou duas vezes por ano ou nem isso.
E é claro que, se nós vemos essas pessoas, que trazem memórias, apenas uma ou duas vezes por ano, elas também nos vêm a nós uma ou duas vezes por ano e salta-se desde logo e muitas vezes com aquela afirmativa pergunta cuja resposta se divide depois em fases: «Então o que há de novo? Tudo bem?»
Normalmente as respostas dividem-se consoante a idade das pessoas e a sua condição familiar, económica e social do momento. Quem está pior do que estava no ano anterior tem sempre tendência a dizer que «está tudo na mesma!» porque não tem ainda (e sublinho o ainda) embalagem suficiente para nos fazer o choradinho do ano anterior. Esse choradinho tem de ser acompanhado, não à guitarra ou ao piano, mas tem de parecer sempre ser um choradinho por despoletamento remoto.
«Eu até nem ia falar nada disto, mas a tua prima (tia, irmã, irmão, cunhada, sogra, avó, avô, etc.) quando se queixou à bocado do reumático (das dores nas costas, da operação ao furúnculo, etc.) acabou por me puxar coisas que eu não tinha vontade de dizer aqui, nesta maravilhosa noite de consoada, mas...». E depois vem a história, a verdadeira história que por alguns minutos ou algumas horas se escondeu debaixo do «está tudo na mesma».
Então não é que não só não está tudo na mesma, o que já era mau, como ainda por cima a coisa piorou? O processo de queixa é um processo contínuo ou em estilo dominó, pelo que a nossa tendência, de auto-defesa legítima - diga-se de passagem - é desde logo arrastar o nosso interlocutor para um canto onde ele se nos possa queixar baixinho sem que os outros o ouçam.
Para ele é bom (sempre está mais á vontade e sem temores ou vergonhas públicas) e para nós é óptimo porque impedimos assim na nossa fraca possibilidade o escalar do efeito dominó da queixa na sala. Não resolvemos nada, apenas ouvimos atentamente, metemos uma colher de quando em vez para não dar ao outro a impressão de que está a monologar estando de facto a monologar, quando a coisa começa a direccionar-se para as lágrimas vamos rápido buscar o mantimento da alma (vinho, cerveja, champanhe, whisky ou mesmo um rissol de camarão para acompanhar) e ouvimos, ouvimos e ouvimos.
Não pensem que se trata de qualquer cinismo da minha parte quando confesso o meu comportamento assim: é assim mesmo que ele deve ser porque o nosso interlocutor quer apenas queixar-se, não quer sugestões para resolver os seus problemas. Os problemas dele conhece-os ele melhor do que qualquer um e as soluções que nós eventual e ingenuamente apontássemos já tinham por ele sido tentadas, esgotadas e dado todas em resultado zero.
Leia este tema completo a partir de 06/12/2010
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