sexta-feira, 30 de julho de 2010

Contos Curtos - Por Emerson Wiskow - Miss Goldfinger - MULHER GIGANTE ENTRA NA SALA - Sobre escrever, baforadas e coisas...- Noite. Verão.- Do Allan -

Contos Curtos - Por Emerson Wiskow - Miss Goldfinger - MULHER GIGANTE ENTRA NA SALA - Sobre escrever, baforadas e coisas...- Noite. Verão.- Do Allan - Minimundo

Miss Goldfinger

Um pouco depois da madrugada gélida. Assim mesmo, nua. E é louca e tenho medo dela. Não confio. Tem sonhos estranhos, gosta de armas. Sei que tem uma. Como sei? Essa manhã descobri, ao vê-la ali, em pé, em minha frente. E, claro, apontava a arma pra mim.
Enquanto isto cantarolava Goldfinger, tema do filme 007. Então riu, brincou que disparava e continuava com aquilo ali. Depois disse que gostaria de assaltar um banco, depois que gostaria de atirar num homem. Depois me ameaçou, dizendo que não a enganasse nunca. Pedi para que ela largasse aquela merda.

MULHER GIGANTE ENTRA NA SALA

Maiko observa por alguns minutos Tóquio lá embaixo. Olha em direção ao horizonte e espera novamente que algum monstro gigante surja por entre os aranha-céu. Ele não vem.
Ela suspira e entra na sala-de bate-papo. Uma sala do Brasil. Algum brasileiro estará on line e disposto a conversar com uma garota que deseja que um montro surja e destrua Tóquio? Ela pensa e sorri com seu pensamento.

Sobre escrever, baforadas e coisas...

Recebi o link para ler esse texto da escritora Márcia Denser. Na verdade recebi um trecho do texto, li e depois fui lá no Portal Cronópios ler o restante. Vai lá que vale.
«Assim como ele, me sinto tão longe e absurdamente tão próxima do mundo, dos outros, da vida, do ano de 2010, dum bar na Vila Madalena onde alguém senta ao meu lado e pergunta se estou escrevendo um novo livro e nesse caso porque à mão? Coisa mais antiga, compra um laptop, fone de ouvido, aí sim você fica muito mais out and nowhere (sic), mas não devia fumar, aliás aqui é proibido, saca, é proibido em todo lugar, se liga, apaga isso, não dá mole pro segurança, pede um suco de acerola, tigela de açaí, taí o convite do lançamento do meu novo livro, vai ser na Fenac, das 19h às 21h, vão ter umas leituras, conto contigo, convida aí teu amigo, coquetel, claro, chás e sucos bem natureba, e vê se não atrasa porque fecha.

Noite. Verão.

Vermelho. Tinha sempre um sofá vermelho. O sofá vermelho. Seu sofá vermelho. Retorcia-se, alongava-se. Esperava, esticada, encolhida. O sofá fazia-se cama, casa, refúgio, horas. Desgraçado. Pensava. Não há mais horas. Há ele entre as ruas, entre elas, entre as portas de bares que convidam. Mais um pouco. Agonia. Quente entre as pernas, coxas. Tudo arde aqui dentro. O vermelho do sofá, as coisas aqui dentro.

Do Allan

«...sabia que tinha alguma coisa fora do lugar em mim. Eu era uma soma de todos os erros: bebia, era preguiçoso, não tinha um deus, idéias, ideais, nem me preocupava com política.
Eu estava ancorado no nada, uma espécie de não-ser. E aceitava isso. Eu estava longe de ser uma pessoa interessante. Não queria ser uma pessoa interessante, dava muito trabalho.
Eu queria mesmo um espaço sossegado e obscuro pra viver a minha solidão. Por outro lado, de porre, eu abria o berreiro, pirava, queria tudo e não conseguia nada. Um tipo de comportamento não se casava com o outro. Pouco me importava.»
«Esses tempos estava passando uma temporada nas trevas e uma querida amiga me mandou esse trecho do Bukowski.
Preciso reler com urgência tudo dele. Seus livros sempre foram um oráculo.

Minimundo

Era a noite mais quente dos últimos quinze anos. Manuela tinha a sensação de estar dentro de um forno de microondas. Sentia-se desconfortável e angustiada com todo aquele calor.
Faltava-lhe o ar e suas axilas grudavam, as virilhas estavam irritadas e avermelhadas. Tinha trinta e sete anos e uma vida de solidão. As vezes conseguia um homem e dividia com ele a cama por um, dois dias. O último bateu um recorde, ou ela bateu.
Ficaram juntos por três meses. Manuela não sabia qual era o seu problema. Manuela sempre pensou que havia um problema, lembranças de sua tia Rita que não hesitava em chamá-la de solteirona frustrada. E claro, Manuela era frustrada. Sem homem. Uma mulher sem homem só pode ser uma mulher frustrada.
Todos pensavam assim, mesmo as que nada diziam. Ela mesma concordava em silêncio. Suas amigas tinham sempre algum homem e por mais cafajeste que fossem, elas tinham um.
Minimundo. De repente Manuela sentiu-se presa, como se tivesse ficando louca e desesperada. Era o Minimundo. O SEU Minimundo. E ainda havia o calor infernal que inundava a cidade e o seu apartamento. Manuela descobriu-se mais solitária do que nunca, talvez por causa da onda de calor que assolava Porto Alegre.


Leia estes contos completos a partir de segunda feira 02/08/2010

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