FOI O BICHO - Reflexão de Michel Crayon
Era um grande pássaro, um pássaro enorme, de asas negras e peito acinzentado e ele rodava, rodava , rodava à minha volta como se estivesse preso num mastro pelas pernas, fazendo círculos quase perfeitos e largando pios profundos, que soavam como gritos de criança e pareciam começar nas suas entranhas, como se fossem expirados por um sopro ainda maior que ele, maior que os seus pulmões.
Era um Haiaiaiai! prolongado que durava minutos, muitos minutos, ou era impressão minha, e acabava num som rouco, como se o ar sorvido antes se não tivesse ainda esgotado dentro dele. Era um roncar em cordas agudas, forte, ensurdecedor, como se os ruídos da própria terra e o ar à sua volta nada fossem comparados com ele, com o gritado.
Depois havia o índio que era um índio com uma só pena presa tombada da cabeça por uma fita que parecia de couro, pintada com uma enormidade de cores em pequenos quadrados e um rosto que parecia cavado na pedra, sem expressão, de olhos fechados e cabeça tombada, cantando e rezando, como se estivesse a invocar aquela terra muito vermelho acastanhada, seca, batida pelo sol que passava pelos meus olhos à frente e atrás das asas do enorme pássaro.
Durou tudo muito tempo, não sei bem quanto tempo demorou até que o animal, que estava preso no seu circulo de voo, parecendo estar preso pelas pernas, começou a alargar os círculos que fazia, como se o elástico do seu arco se fosse esticando e sempre gritando passou rente a mim uma vez e outra vez e por fim lá partiu, também não sei para onde nem em que direcção.
Tinha os meus olhos protegidos com os braços e a partir de certa altura preferi não olhar para o pássaro e cruzava ainda com mais força os dedos, entrelaçando-os junto aos olhos, como se isso para mim fosse a esperança, aquilo que me restava, a melhor arma que o meu medo arranjara: não ver para evitar sofrer.
Era um grande pássaro, um pássaro enorme, de asas negras e peito acinzentado e ele rodava, rodava , rodava à minha volta como se estivesse preso num mastro pelas pernas, fazendo círculos quase perfeitos e largando pios profundos, que soavam como gritos de criança e pareciam começar nas suas entranhas, como se fossem expirados por um sopro ainda maior que ele, maior que os seus pulmões.
Era um Haiaiaiai! prolongado que durava minutos, muitos minutos, ou era impressão minha, e acabava num som rouco, como se o ar sorvido antes se não tivesse ainda esgotado dentro dele. Era um roncar em cordas agudas, forte, ensurdecedor, como se os ruídos da própria terra e o ar à sua volta nada fossem comparados com ele, com o gritado.
Depois havia o índio que era um índio com uma só pena presa tombada da cabeça por uma fita que parecia de couro, pintada com uma enormidade de cores em pequenos quadrados e um rosto que parecia cavado na pedra, sem expressão, de olhos fechados e cabeça tombada, cantando e rezando, como se estivesse a invocar aquela terra muito vermelho acastanhada, seca, batida pelo sol que passava pelos meus olhos à frente e atrás das asas do enorme pássaro.
Durou tudo muito tempo, não sei bem quanto tempo demorou até que o animal, que estava preso no seu circulo de voo, parecendo estar preso pelas pernas, começou a alargar os círculos que fazia, como se o elástico do seu arco se fosse esticando e sempre gritando passou rente a mim uma vez e outra vez e por fim lá partiu, também não sei para onde nem em que direcção.
Tinha os meus olhos protegidos com os braços e a partir de certa altura preferi não olhar para o pássaro e cruzava ainda com mais força os dedos, entrelaçando-os junto aos olhos, como se isso para mim fosse a esperança, aquilo que me restava, a melhor arma que o meu medo arranjara: não ver para evitar sofrer.
Leia este conto completo a partir de segunda feira 12/07/2010
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