sexta-feira, 16 de julho de 2010

Vou-me embora para uma qualquer Pasárgada - Por Afonso Santana

Vou-me embora para uma qualquer Pasárgada - Por Afonso Santana

Na continuação do texto glosando o poema de Manuel Bandeira «Vou-me embora para Pasárgada» (ver número anterior e anteriores e este seguindo a sucessão) vou repetir que o titulo base do meu trabalho é «Vou -me embora».

Mas ir embora é mesmo ir embora? Quer dizer, não serão antes e apenas palavras que se lançam, um desabafo, um desejo, uma fantasia? No fundo ir embora é sempre não ficar num dado lado mas ir para um outro. Ora, a autora que trouxe hoje, foi objecto desta recolha há cerca de dois anos, sensivelmente e como só agora a vou publicar de facto verifico que é escritora e poetisa com vários trabalhos publicados que poderão ver carregando no seu nome : Lizete Abrahão.

Ora a Lizete, e ela que me desculpe a familiaridade, «quer» de facto ir-se embora mas fica...as razões da sua vontade de se ir embora prendem-se com a rotina, de uma forma geral (vão ler tudo a seguir) e as razões para não se ir embora (vou recortar aqui um bocado do texto dela) são sobretudo medo da não - rotina, do não habitual, de um desconhecido horrível - ou simplesmente e em suma «uma grande vontade de ficar»:

«Ai, mas tenho medo de que o vento me arranque a roupa e me deixe nua! Tenho medo que o mar me molhe a carne e que as aves, lugubremente, piem, no ar. Ai, tenho medo de sair para a rua, deslumbrada, e pressentir em mim todos os olhos como se vissem uma desvairada... Temo que as paisagens morram como todas as coisas morrem... Para lá das paredes indormidas, os candeeiros podem se cansar e palpebrar em sono...
Ai! Um não sei quem vai ficar à espreita, escondido no mistério da noite, e eu que havia até decorado a melodia do seu corpo! Para mais nada isso me serve!»

O texto da Lizete Abrahão até está bem escrito, para além de um excesso de adjectivação não tenho grandes reparos a fazer-lhe, mas nota-se desde o início que falta também convicção: ir-se embora com a vida, quer dizer, sair da rotina, pode ser também ficar no mesmo lugar, mudando simplesmente de vida: portanto pode ir-se e pode não se ir (do mesmo lugar) e estas coisas quando não implicam mudanças geográficas, quando dependem exclusivamente da vontade, não são propriamente como mudar de camisa: o ambiente, a envolvente que fica é a mesma e o seu peso avassalador torna o trabalho de ir não indo numa tarefa hercúlea.

Leia este texto completo a partir de segunda feira 19/07/2010

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