sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Conto - Por Emerson Wiskow - SE TUDO FOSSE TRISTEZA

Conto - Por Emerson Wiskow - SE TUDO FOSSE TRISTEZA

Ela queria saber porquê Dostoiévski escrevia coisas tão tristes e melancólicas. Ora, eu não soube responder. Juliana sempre foi complicada, eu nunca consegui entendê-la muito bem. Nunca consegui entender mulher alguma. Ela entrou em meu quarto, olhou para as paredes e depois para mim, enquanto eu acendia um cigarro.

Sentou-se em minha cama e perguntou-me:
- Porquê Dostoiévski escrevia coisas tão tristes?
Olhei para ela e sorri enquanto pensava no que responder.
- Deve ser por causa do frio. Sempre imaginei Dostoiévski como um homem velho, de barba grande e grisalha, vivendo em um pequeno quarto com todo aquele frio. Bebendo vodca, solitário. Acho que ele só poderia escrever coisas tristes vivendo assim - respondi.

Ela continuou olhando-me fixamente nos olhos e disse:
- Você não possui poesia. Se fosse você, provavelmente escreveria sobre uma camponesa russa de peitos grandes.
- Talvez...
- Pois é! O mundo não precisa de escritores como você - disse Juliana.

Juliana estava certa, provavelmente eu escreveria sobre uma russa de peitos grandes. Se eu conhecesse alguma russa, mas não conhecia.
- Dostoiévski escrevia em um quarto frio e escuro, enchia a cara de vodca, depois colocava o seu casacão e saía pelas ruas na madrugada gelada. Perdia-se em jogos e depois voltava para o seu quarto solitário. Ele ouvia o vento assoviar em seus ouvidos e sonhava com uma bela mulher para aquecer-lhe naquelas noites geladas.

- Quem te contou isso? - perguntou Juliana com um olhar vago.
- Eu imagino que tenha sido assim.
- Você acredita que existem pessoas que nasceram para sofrer, para levar uma vida miserável e triste? Pessoas que sempre serão solitárias, por mais que desejem o contrário - perguntou Juliana.

- Acredito. Acho que sim.
- Às vezes eu quero morrer, tenho necessidade de morrer - disse Juliana.
- Besteira. Tudo ficará bem.
Juliana olhou em redor do quarto, deu um belo sorriso e disse:
- Este quarto é um chiqueiro! Está precisando de um toque feminino - afirmou Juliana sorrindo.

Leia este conto completo a partir de 30/08/2010

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