O almoço - Por Manuel Fragata de Morais - Este conto faz parte do seu livro «INKUNA MINHA TERRA».
Fora jurado amor à primeira vista. Ninguém duvidava, ao ouvir Malaquias «Gordo» contar, com paixão, a estória do seu matrimónio, que engorda há quinze anos. Conhecera a então futura esposa num dos programas matinais de culinária, que a T.V.I. (televisão de Inkuna) quinzenalmente apresentava naqueles anos idos.
A fama de bom garfo, aliada ao facto de ser dono do mais famoso restaurante de luxo de Katola, levara a que o convidassem a presidir ao júri do concurso. Aos concorrentes era atribuído um valioso prémio, com base na receita mais original, no prato melhor confeccionado perante as inquiridoras câmaras televisivas, e nas parcas chamadas telefónicas recebidas no programa, sobretudo de aborrecidas donas de casa querendo dar palpites gastronómicos.
Embasbacado, mesmerizado nos jeitos e trejeitos culinários das mãos da fada Serafina Coquillage (assim se inscrevera), entrou em acelerada órbita amorosa quando ela, sem o querer, acariciou castamente o corpo engordurado do coelho.
Ao esquartejá-lo, cada golpe de retalho, era uma insinuante flechada de Cupido no já esfrangalhado coração de Malaquias que, boquiaberto, inalava os suados respirares da amada.
Quando Serafina começou a temperar o bicho com sal, pimenta, vinho branco (um copo), alhos e louro (uma folha), Malaquias havia tomado a decisão mais intempestiva e séria de sua vida.
Se a senhora fosse solteira, ou desimpedida, nada, mas absolutamente nada, se interporia no caminho de sua felicidade. Chamaria a si a grata tarefa de desencalhar aquela frágil nave das rochas do desamor e da solidão para, incólumes, navegarem os mares doces da vida compartilhada entre caçarolas, almoços, amores e jantares.
O continuado carinho demonstrado por Serafina, ao segurar o tacho que levou a lume com o azeite (cinco ou seis colheres de sopa), a cebola picada, o ramo de salsa e um pouquinho de água, para refogar o inditoso lapin, confirmou a justeza das suas pretensões.
Mulher assim não era para andar à solta, a desperdiçar tempo e talento em programas de televisão, ainda por cima para gente que nem apreciava ou entendia a arte e o amor envolvidos. Era um atirar de pérolas aos porcos...
Leia este conto completo a partir de 09/08/2010
Fora jurado amor à primeira vista. Ninguém duvidava, ao ouvir Malaquias «Gordo» contar, com paixão, a estória do seu matrimónio, que engorda há quinze anos. Conhecera a então futura esposa num dos programas matinais de culinária, que a T.V.I. (televisão de Inkuna) quinzenalmente apresentava naqueles anos idos.
A fama de bom garfo, aliada ao facto de ser dono do mais famoso restaurante de luxo de Katola, levara a que o convidassem a presidir ao júri do concurso. Aos concorrentes era atribuído um valioso prémio, com base na receita mais original, no prato melhor confeccionado perante as inquiridoras câmaras televisivas, e nas parcas chamadas telefónicas recebidas no programa, sobretudo de aborrecidas donas de casa querendo dar palpites gastronómicos.
Embasbacado, mesmerizado nos jeitos e trejeitos culinários das mãos da fada Serafina Coquillage (assim se inscrevera), entrou em acelerada órbita amorosa quando ela, sem o querer, acariciou castamente o corpo engordurado do coelho.
Ao esquartejá-lo, cada golpe de retalho, era uma insinuante flechada de Cupido no já esfrangalhado coração de Malaquias que, boquiaberto, inalava os suados respirares da amada.
Quando Serafina começou a temperar o bicho com sal, pimenta, vinho branco (um copo), alhos e louro (uma folha), Malaquias havia tomado a decisão mais intempestiva e séria de sua vida.
Se a senhora fosse solteira, ou desimpedida, nada, mas absolutamente nada, se interporia no caminho de sua felicidade. Chamaria a si a grata tarefa de desencalhar aquela frágil nave das rochas do desamor e da solidão para, incólumes, navegarem os mares doces da vida compartilhada entre caçarolas, almoços, amores e jantares.
O continuado carinho demonstrado por Serafina, ao segurar o tacho que levou a lume com o azeite (cinco ou seis colheres de sopa), a cebola picada, o ramo de salsa e um pouquinho de água, para refogar o inditoso lapin, confirmou a justeza das suas pretensões.
Mulher assim não era para andar à solta, a desperdiçar tempo e talento em programas de televisão, ainda por cima para gente que nem apreciava ou entendia a arte e o amor envolvidos. Era um atirar de pérolas aos porcos...
Leia este conto completo a partir de 09/08/2010
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