A Purificação - Por Daniel Teixeira
Qualquer ser vivo superior tem de se manter limpo, eliminar substâncias incomodas que, precisamente por isso, são definidas por «sujidade». No caso do homem, a limpeza é uma vivência marcante da infância. A limpeza impõe limites. Experimenta-se o facto de os outros se encontrarem prontos a excluir o indivíduo sujo com a própria sujidade, e como mediante determinados procedimentos pode ser readquirido um estatuto aceitável.
A limpeza é por isso um processo social. Quem quer pertencer a um grupo tem de se conformar com o seu padrão de «pureza». O indivíduo rejeitado, o marginal, o rebelde são considerados sujos. Os grupos que se isolam podem fazê-lo evocando uma pureza particular, exacerbada.
Correspondentemente, os esquemas de actuação relacionados com a limpeza, tão carregados emocionalmente, tornaram-se demonstrações rituais. Celebrando a eliminação do que é incómodo, eles raiam um domínio que é avaliado de modo superior, seja ele a própria comunidade em face do «exterior» caótico ou um grupo esotérico fora da sociedade normal.
Estes esquemas de actuação proporcionam o acesso a esse domínio e assim a um estatuto superior. Eles representam a antítese entre um estado negativo e um estado positivo e por isso são apropriados para eliminar um estado que seja realmente desagradável e perturbador conduzindo a um estado melhor, a um estado «puro». Deste modo, todos os rituais de purificação fazem parte do trato com o sagrado de todas as formas de iniciação.
No entanto, são também aplicados em situações de crise, de loucura, de doença, de sentimento de culpa. Na medida em que o ritual se torna útil a uma finalidade claramente discernida, ele adquire um carácter mágico.
O meio mais habitual de purificação é a água e, nos rituais de purificação gregos, o contacto com a água é fundamental. Acresce a isso ainda a prática da fumigação para afastar maus cheiros, uma forma primitiva de desinfecção. Ulisses «enxofra» a sala após o banho de sangue que provocou. Possivelmente a palavra grega para "purificar" é derivada da palavra semita para o «fumigar».
Leia este tema completo a partir de 30/08/2010
Qualquer ser vivo superior tem de se manter limpo, eliminar substâncias incomodas que, precisamente por isso, são definidas por «sujidade». No caso do homem, a limpeza é uma vivência marcante da infância. A limpeza impõe limites. Experimenta-se o facto de os outros se encontrarem prontos a excluir o indivíduo sujo com a própria sujidade, e como mediante determinados procedimentos pode ser readquirido um estatuto aceitável.
A limpeza é por isso um processo social. Quem quer pertencer a um grupo tem de se conformar com o seu padrão de «pureza». O indivíduo rejeitado, o marginal, o rebelde são considerados sujos. Os grupos que se isolam podem fazê-lo evocando uma pureza particular, exacerbada.
Correspondentemente, os esquemas de actuação relacionados com a limpeza, tão carregados emocionalmente, tornaram-se demonstrações rituais. Celebrando a eliminação do que é incómodo, eles raiam um domínio que é avaliado de modo superior, seja ele a própria comunidade em face do «exterior» caótico ou um grupo esotérico fora da sociedade normal.
Estes esquemas de actuação proporcionam o acesso a esse domínio e assim a um estatuto superior. Eles representam a antítese entre um estado negativo e um estado positivo e por isso são apropriados para eliminar um estado que seja realmente desagradável e perturbador conduzindo a um estado melhor, a um estado «puro». Deste modo, todos os rituais de purificação fazem parte do trato com o sagrado de todas as formas de iniciação.
No entanto, são também aplicados em situações de crise, de loucura, de doença, de sentimento de culpa. Na medida em que o ritual se torna útil a uma finalidade claramente discernida, ele adquire um carácter mágico.
O meio mais habitual de purificação é a água e, nos rituais de purificação gregos, o contacto com a água é fundamental. Acresce a isso ainda a prática da fumigação para afastar maus cheiros, uma forma primitiva de desinfecção. Ulisses «enxofra» a sala após o banho de sangue que provocou. Possivelmente a palavra grega para "purificar" é derivada da palavra semita para o «fumigar».
Leia este tema completo a partir de 30/08/2010
Que belo texto, Daniel.
ResponderEliminarHoje, não preciso ler mais nada!
Caro Daniel;
ResponderEliminarPor esses dias, não estou conseguindo comentar os textos do Raizoline - coisas de rede de informática.
Mas, gostaria de dizer que a leitura do seu fantástico texto "A Purificação", publicado no ROL desta semana, me levaram imediatamente à correlação do conteúdo com minha realidade.
E então, imagens e mais imagens foram se sucedendo na mente:
- a lavagem das escadarias da Igreja do Bomfim, em Salvador;
- a benzição de minha vó - onde cada aspecto de doença ia sendo costurado num novelo de linha;
- a "benção das chaves", feita para dezenas de milhares de pessoas, numa praça, durante a festa do Divino Pai Eterno;
- o batismo dos evangélicos, no ribeirão dos Moleques - que os meninos das famílias católicas (meu caso) acompanhavam curiosos;
- uma foto onde eu e minha irmã estamos em traje branco, vestidos para a cerimônia da "primeira comunhão";
- o "benzedor" no meio do pasto, ao lado de meu pai, fazendo sinais no ar e rezando baixinho e, anunciando depois: "Seo Davi, as cobras vão continuar por aí e, mas nunca mais vão ofender nem gente, nem cria!";
- a bandeira do Divino sendo conduzida por meu pai a todos os cantos da nossa casinha de pau a pique, na fazendola de meu avô;
- a persignação do grupo de amigos, antes do banho, no amanhecer do dia de São João. Rapaz, tantas imagens vindo, tantas lembranças...
"A Purificação" é um grande e muito informativo texto, demonstrando o quão funda é a relação humana com o sagrado, com a crença na relação e intervenção divina. Gostei muito.
Parabéns, Daniel!
Se-Gyn