Confissão - Reflexão de Michel Crayon
Estou verdadeiramente debilitado, anquilosado, lixado, ...dito no que se refere à escrita manual. Sempre que pego na caneta sinto o «peso» psicológico do teclado incidir-me sobre os ombros com todas as teclas atijoladas (vem de tijolo) e a mão fugidia a querer lançar-se para um imaginário rato ainda por cima compatível com a Miscrosoft e o Windows, do Gates, do Bill, desse destruidor da história e das formas de cultura tradicional. Todos estão conluiados para me ensombrarem a capacidade do meu trabalho de escrita manual, e isto em cada linha, em cada palavra, em cada letra. Um verdadeiro martírio...
Já nem consigo escrever a letra «a» sem passar pelo arroba (@ é assim para quem não saiba) e da correcção do símbolo feito letra a que sou obrigado fica uma aproximação de letra que só eu entendo. A minha mãe, a minha mãezinha, não entende o que se passa comigo, não entende o meu problema, não me entende a mim, eu que fui um indivíduo de escrita exemplar, de letra arredondada em círculos exactos perfeitamente medíveis pelo «pi erre ao quadrado», uma pessoa de letras com curvas harmoniosas nas perninhas de ligação entre letras nas sílabas, nas palavras, nas letras isoladas, com uma acentuação bem desenhada com especial ênfase nos telhadinhos do til e do acento circunflexo e estou agora reduzido a isto, à decrepitude letral.
Andei próximo da letra trabalhada pelos monges medievais mesmo no rascunho em papel de embrulho, utilizava um cursivo inglês tipo contabilidade durante anos treinado em aulas de caligrafia e o meu francês antigo abarrocado merecia uma iluminura na primeira letra de cada página.
Agora o que me sai são garatujas, meras garatujas, letra de macaco, de babuíno, de troglodita diz-me a minha mãezinha.
Estou consciente do drama e esforço-me para corrigir os meus problemas mas sinto um impulso quase irresistível para largar a caneta cada vez que pego nela, sinto vontade de me abarcar no teclado, qual navio sedento de gasóleo, sinto vontade de estender as mãos à dactilógrafo profissional e teclar, teclar, teclar.
Para quem não sabe na dactilografia são oito dedos para as letras e os dois polegares para o tabulador - para quem tenha ainda todos os dedos activos - isto embora eu sempre tenha achado que um só dedo para o tabulador era suficiente, e muito mais isso é verdade agora nos teclados de computador em que o tradicional travessão da porrada tem tendência a ficar cada vez mais curto, mais exíguo de extensão, mais sensível ao toque, também. Mas, estou a desviar-me da questão principal...
Leia este tema completo a partir de 13/09/2010
Estou verdadeiramente debilitado, anquilosado, lixado, ...dito no que se refere à escrita manual. Sempre que pego na caneta sinto o «peso» psicológico do teclado incidir-me sobre os ombros com todas as teclas atijoladas (vem de tijolo) e a mão fugidia a querer lançar-se para um imaginário rato ainda por cima compatível com a Miscrosoft e o Windows, do Gates, do Bill, desse destruidor da história e das formas de cultura tradicional. Todos estão conluiados para me ensombrarem a capacidade do meu trabalho de escrita manual, e isto em cada linha, em cada palavra, em cada letra. Um verdadeiro martírio...
Já nem consigo escrever a letra «a» sem passar pelo arroba (@ é assim para quem não saiba) e da correcção do símbolo feito letra a que sou obrigado fica uma aproximação de letra que só eu entendo. A minha mãe, a minha mãezinha, não entende o que se passa comigo, não entende o meu problema, não me entende a mim, eu que fui um indivíduo de escrita exemplar, de letra arredondada em círculos exactos perfeitamente medíveis pelo «pi erre ao quadrado», uma pessoa de letras com curvas harmoniosas nas perninhas de ligação entre letras nas sílabas, nas palavras, nas letras isoladas, com uma acentuação bem desenhada com especial ênfase nos telhadinhos do til e do acento circunflexo e estou agora reduzido a isto, à decrepitude letral.
Andei próximo da letra trabalhada pelos monges medievais mesmo no rascunho em papel de embrulho, utilizava um cursivo inglês tipo contabilidade durante anos treinado em aulas de caligrafia e o meu francês antigo abarrocado merecia uma iluminura na primeira letra de cada página.
Agora o que me sai são garatujas, meras garatujas, letra de macaco, de babuíno, de troglodita diz-me a minha mãezinha.
Estou consciente do drama e esforço-me para corrigir os meus problemas mas sinto um impulso quase irresistível para largar a caneta cada vez que pego nela, sinto vontade de me abarcar no teclado, qual navio sedento de gasóleo, sinto vontade de estender as mãos à dactilógrafo profissional e teclar, teclar, teclar.
Para quem não sabe na dactilografia são oito dedos para as letras e os dois polegares para o tabulador - para quem tenha ainda todos os dedos activos - isto embora eu sempre tenha achado que um só dedo para o tabulador era suficiente, e muito mais isso é verdade agora nos teclados de computador em que o tradicional travessão da porrada tem tendência a ficar cada vez mais curto, mais exíguo de extensão, mais sensível ao toque, também. Mas, estou a desviar-me da questão principal...
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