MITOLOGIA E ELITES - Por Daniel Teixeira
Antes de começarmos, e porque vamos agora passar por uma parte, que normalmente é considerada menos científica, no sentido positivista ou empirista do termo, e como forma de esclarecimento que nos parece impor-se, importa dizer que a análise da mitologia que fazemos não pretende ser uma análise científica sobre a verdade ou falsidade das afirmações feitas pelos mitólogos.
A mitologia tem o valor que tem enquanto forma de pensamento humano e não enquanto manifestação de uma realidade retratada. O verdadeiro interesse dos mitos reside no facto de eles nos fazerem recuar a eras em que os indivíduos se encontravam radicados à terra e quando pouca destrinça se fazia entre o real e o irreal, pelo menos na mente dos mitólogos e naqueles que acreditavam na verdade relativa dos mitos.
O que resta ainda em dúvida, e que provavelmente nunca será esclarecido, é saber até que ponto o mito foi ou pode ser considerado um fenómeno com aceitação social representativa e não se tratar apenas e só de uma construção poética de elites culturais para outras elites culturais.
A Estética tem bastantes respostas a dar sobre esta questão e pode-se inclusivamente perguntar, num outro plano simultâneo, se o embelezamento da história contada através da junção de elementos fantásticos cada vez mais elaborados ou mais de acordo com a época em que eram contadas as histórias não seria um factor essencial para o seu não perecimento enquanto história.
Sabemos que a Eneida se baseia na Odisseia ou Ulisseia, por exemplo, e podemos perguntar-nos sempre se para além dos elementos específicos que forçosamente tinham de diferenciar uma e outra, dados os objectivos diferentes porque foram feitas as obras, a Eneida teria a mesma aceitação que teve em Roma se fosse contada tal e qual o foi a Ulisseia, ressalvadas as emendas necessárias e indispensáveis ao objectivo proposto.
Sendo a sociedade grega uma sociedade aristocrática falta saber até que ponto a cultura dessa sociedade aristocrática se propagou e desenvolveu nas classes não aristocráticas, e parece-nos claro que o desenvolvimento desse tipo de cultura foi nulo, tendo de haver, isso sim, uma versão ou várias versões da mitologia grega feitas pelas classes mais baixas ou pobres da sociedade grega para seu próprio consumo, se quisermos aceitar o princípio da sua validade psicológica social.
A parte mística, que foi provavelmente aquela que menos transformações sofreu, provavelmente terá estado mais próxima das versões originais e por isso mesmo terá tido um tempo de vida alargado ao ponto de ser referida ainda em construções religiosas muito posteriores à construção e vigência da mitologia grega.
Leia este tema completo a partir de 13/09/2010
Antes de começarmos, e porque vamos agora passar por uma parte, que normalmente é considerada menos científica, no sentido positivista ou empirista do termo, e como forma de esclarecimento que nos parece impor-se, importa dizer que a análise da mitologia que fazemos não pretende ser uma análise científica sobre a verdade ou falsidade das afirmações feitas pelos mitólogos.
A mitologia tem o valor que tem enquanto forma de pensamento humano e não enquanto manifestação de uma realidade retratada. O verdadeiro interesse dos mitos reside no facto de eles nos fazerem recuar a eras em que os indivíduos se encontravam radicados à terra e quando pouca destrinça se fazia entre o real e o irreal, pelo menos na mente dos mitólogos e naqueles que acreditavam na verdade relativa dos mitos.
O que resta ainda em dúvida, e que provavelmente nunca será esclarecido, é saber até que ponto o mito foi ou pode ser considerado um fenómeno com aceitação social representativa e não se tratar apenas e só de uma construção poética de elites culturais para outras elites culturais.
A Estética tem bastantes respostas a dar sobre esta questão e pode-se inclusivamente perguntar, num outro plano simultâneo, se o embelezamento da história contada através da junção de elementos fantásticos cada vez mais elaborados ou mais de acordo com a época em que eram contadas as histórias não seria um factor essencial para o seu não perecimento enquanto história.
Sabemos que a Eneida se baseia na Odisseia ou Ulisseia, por exemplo, e podemos perguntar-nos sempre se para além dos elementos específicos que forçosamente tinham de diferenciar uma e outra, dados os objectivos diferentes porque foram feitas as obras, a Eneida teria a mesma aceitação que teve em Roma se fosse contada tal e qual o foi a Ulisseia, ressalvadas as emendas necessárias e indispensáveis ao objectivo proposto.
Sendo a sociedade grega uma sociedade aristocrática falta saber até que ponto a cultura dessa sociedade aristocrática se propagou e desenvolveu nas classes não aristocráticas, e parece-nos claro que o desenvolvimento desse tipo de cultura foi nulo, tendo de haver, isso sim, uma versão ou várias versões da mitologia grega feitas pelas classes mais baixas ou pobres da sociedade grega para seu próprio consumo, se quisermos aceitar o princípio da sua validade psicológica social.
A parte mística, que foi provavelmente aquela que menos transformações sofreu, provavelmente terá estado mais próxima das versões originais e por isso mesmo terá tido um tempo de vida alargado ao ponto de ser referida ainda em construções religiosas muito posteriores à construção e vigência da mitologia grega.
Leia este tema completo a partir de 13/09/2010
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