O Justo e o Correto - Conto por Roberto Kusiak
- Nem tudo que é justo é correto, e nem tudo que é correto é justo. Sabia desta?
- Mas o que é que você está falando? Bebeu? Pegue a da esquerda ali na frente.
Fabio riu, arranhou a marcha da viatura quando reduziu da terceira para a segunda. Pegou a estrada à esquerda na bifurcação, a mais esburacada. Meu corpo sacolejava todo, meu ciático fisgava, os gases prestes a escapulir do intestino (maldita comida daquela empresa, acho que colocam alguma porcaria no feijão).
Ainda bem que ele se habilitou para conduzir viatura, minha bursite agradeceu. Já não aguentava mais dirigir por doze horas naquelas poeirentas estradas esburacadas do interior do município. O corpo já não é o mesmo de vinte anos atrás, quando tudo era aventura e noitadas. Agora ele reclama de tudo.
A coluna reclama dos buracos, do peso do colete, da pistola, dos carregadores sobressalentes, da algema, do apito, do celular, do bloco de anotações, até da caneta. Já o ciático, este ingrato, reclama do cinto que aperta, do revólver e das munições extras – polícia tem que andar com arma reserva sempre, ainda mais nos dias de hoje -.
Há vinte anos não tinha tudo isso. Saíamos para a rua apenas com o cinturão, um oitão, uma dúzia de cartuchos e um bastão. Eram outros tempos, bandido respeitava polícia. Hoje não, mudou tudo, vagabundo, além de atirar para matar, ainda tem mais direitos que nós, homens direitos.
Tenho pena do Fabio, daqui a dez anos vai estar pior que eu, não há corpo que resista a toda esta parafernália sem reclamar.
O pior é que ele acabou de se formar, isso significa que vai adoecer cedo, mais cedo do que eu, que estou com quarenta. Se ele chegar aos trinta e cinco sem uma hérnia de disco, vai ser milagre.
- Então? Perguntou Fabio.
- Então o quê? Pergunto enquanto acendo um cigarro.
- Já pensou?
- No quê?
- No que te falei.
- Sei lá. Você já me falou tantas coisas hoje, tá pior que mulher, não fecha a matraca nunca. Como é que vou saber do que você está falando?
- Do justo e do correto. E mulher é a tua mãe.
Leia este tema completo a partir de 27/09/2010
- Nem tudo que é justo é correto, e nem tudo que é correto é justo. Sabia desta?
- Mas o que é que você está falando? Bebeu? Pegue a da esquerda ali na frente.
Fabio riu, arranhou a marcha da viatura quando reduziu da terceira para a segunda. Pegou a estrada à esquerda na bifurcação, a mais esburacada. Meu corpo sacolejava todo, meu ciático fisgava, os gases prestes a escapulir do intestino (maldita comida daquela empresa, acho que colocam alguma porcaria no feijão).
Ainda bem que ele se habilitou para conduzir viatura, minha bursite agradeceu. Já não aguentava mais dirigir por doze horas naquelas poeirentas estradas esburacadas do interior do município. O corpo já não é o mesmo de vinte anos atrás, quando tudo era aventura e noitadas. Agora ele reclama de tudo.
A coluna reclama dos buracos, do peso do colete, da pistola, dos carregadores sobressalentes, da algema, do apito, do celular, do bloco de anotações, até da caneta. Já o ciático, este ingrato, reclama do cinto que aperta, do revólver e das munições extras – polícia tem que andar com arma reserva sempre, ainda mais nos dias de hoje -.
Há vinte anos não tinha tudo isso. Saíamos para a rua apenas com o cinturão, um oitão, uma dúzia de cartuchos e um bastão. Eram outros tempos, bandido respeitava polícia. Hoje não, mudou tudo, vagabundo, além de atirar para matar, ainda tem mais direitos que nós, homens direitos.
Tenho pena do Fabio, daqui a dez anos vai estar pior que eu, não há corpo que resista a toda esta parafernália sem reclamar.
O pior é que ele acabou de se formar, isso significa que vai adoecer cedo, mais cedo do que eu, que estou com quarenta. Se ele chegar aos trinta e cinco sem uma hérnia de disco, vai ser milagre.
- Então? Perguntou Fabio.
- Então o quê? Pergunto enquanto acendo um cigarro.
- Já pensou?
- No quê?
- No que te falei.
- Sei lá. Você já me falou tantas coisas hoje, tá pior que mulher, não fecha a matraca nunca. Como é que vou saber do que você está falando?
- Do justo e do correto. E mulher é a tua mãe.
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