MABANGAS - Por Manuel Fragata de Morais
Esta crónica faz parte do livro «A SONHAR SE FEZ VERDADE - CONTOS JUVENIS».
Agarrar umas trinta mabangas das grandes e tirar as conchas.
Numa panela média pôr dibungo, tomate maduro, kiabos e cebola a gosto.
Juntar jindungo para fazer chorar e não esquecer o azeite de palma e sal.
Refogar tudo e servir com funji.
(Receita encontrada dentro de uma mabanga gigante)
Ao ver os bravos pescadores partirem para o mar alto em seus dongos, sempre pensara que desenvolveria a arte de escrever para poder relatar suas estórias de barcos, de kiandas e outros espíritos do mar.
Talvez também por ter nascido no mato em sítio onde nem sequer lagoa havia. O rio que mais perto passava era o Lucala.
Vi pela primeira vez o mar quando o meu padrinho, o senhor Gomes, que entre os brancos do café era conhecido por Pipa pela maneira como bebia vinho, veio viver para Luanda, dois anos antes da independência. Não irei descrever a sensação de angústia e êxtase que senti ao contemplar aquela vastidão infindável de água verde e azul, como se Deus tivesse reunido todas as águas do mundo.
Porém tudo isso lá vai, como também o senhor Gomes, meu padrinho.
A partir dessa data considerei-me novamente órfão, mais uma vez abandonado. Meu pai havia morrido afogado uma noite de luar no Kwanza, junto ao Dondo. Minha mãe, a mestre cozinheira lá em casa, na sua loucura fora apanhada por um jacaré, no rio Lucala.
Creio ser oportuno mencionar terem sido essas curiosidades pelas coisas das águas que deram azo ao meu infortúnio, embora haja muita gente que não acredite nestas coisas, e esses, os incrédulos, dificilmente se afogam nas majestosas águas da baía de Luanda.
O meu pai, como referi anteriormente, foi encontrado na margem esquerda do rio Kwanza, num banco de areia. As autoridades afirmaram, à época, que tivesse quiçá mergulhado, sofrido uma congestão e, após, o seu corpo arrastado até ao banco de areia na margem.
Com a devida solidariedade que o momento impunha, fizeram notar sem rodeios ao meu padrinho, a sorte que o meu pai tivera em afogar-se num momento em que as chuvas eram ariscas, não obstante a sua época, senão o rio estaria cheio e tumultuoso, o que teria impedido o aparecimento do corpo e, já reconfortado, mandou organizar um batuque daqueles que só mesmo no mato. E é verdade, ainda hoje se fala desse acontecimento.
Leia este tema completo a partir de 13/09/2010
Agarrar umas trinta mabangas das grandes e tirar as conchas.
Numa panela média pôr dibungo, tomate maduro, kiabos e cebola a gosto.
Juntar jindungo para fazer chorar e não esquecer o azeite de palma e sal.
Refogar tudo e servir com funji.
(Receita encontrada dentro de uma mabanga gigante)
Ao ver os bravos pescadores partirem para o mar alto em seus dongos, sempre pensara que desenvolveria a arte de escrever para poder relatar suas estórias de barcos, de kiandas e outros espíritos do mar.
Talvez também por ter nascido no mato em sítio onde nem sequer lagoa havia. O rio que mais perto passava era o Lucala.
Vi pela primeira vez o mar quando o meu padrinho, o senhor Gomes, que entre os brancos do café era conhecido por Pipa pela maneira como bebia vinho, veio viver para Luanda, dois anos antes da independência. Não irei descrever a sensação de angústia e êxtase que senti ao contemplar aquela vastidão infindável de água verde e azul, como se Deus tivesse reunido todas as águas do mundo.
Porém tudo isso lá vai, como também o senhor Gomes, meu padrinho.
A partir dessa data considerei-me novamente órfão, mais uma vez abandonado. Meu pai havia morrido afogado uma noite de luar no Kwanza, junto ao Dondo. Minha mãe, a mestre cozinheira lá em casa, na sua loucura fora apanhada por um jacaré, no rio Lucala.
Creio ser oportuno mencionar terem sido essas curiosidades pelas coisas das águas que deram azo ao meu infortúnio, embora haja muita gente que não acredite nestas coisas, e esses, os incrédulos, dificilmente se afogam nas majestosas águas da baía de Luanda.
O meu pai, como referi anteriormente, foi encontrado na margem esquerda do rio Kwanza, num banco de areia. As autoridades afirmaram, à época, que tivesse quiçá mergulhado, sofrido uma congestão e, após, o seu corpo arrastado até ao banco de areia na margem.
Com a devida solidariedade que o momento impunha, fizeram notar sem rodeios ao meu padrinho, a sorte que o meu pai tivera em afogar-se num momento em que as chuvas eram ariscas, não obstante a sua época, senão o rio estaria cheio e tumultuoso, o que teria impedido o aparecimento do corpo e, já reconfortado, mandou organizar um batuque daqueles que só mesmo no mato. E é verdade, ainda hoje se fala desse acontecimento.
Leia este tema completo a partir de 13/09/2010
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