A PALAVRA - Por Manuel Fragata de Morais - Esta crónica faz parte do livro «MEMORIAS DA ILHA».
Há muito que me preocupo com a Palavra, não no sentido etimológico, mas sim a partir do livro primeiro, bíblico.
Há muito que me preocupo com a Palavra, não no sentido etimológico, mas sim a partir do livro primeiro, bíblico.
Ao tentar encontrar uma explicação para mim aceitável, começo por visualizar o Criador, sozinho e a «viver» no abstracto, nem nas trevas nem nas luzes. Qualquer uma delas inexistia, aliás nem o sentido de abstracto tinha despacho oficial.
Tudo teve existência formal a partir da palavra, para quem acredita no Livro. Só pode.
Tudo teve existência formal a partir da palavra, para quem acredita no Livro. Só pode.
Vamos que, de repente e sem mais, o Ente dá conta da sua solidão infinda e acha merecer companhia. Reinventa-se próprio e cria a Palavra, para dar sentido aos actos pessoais, já que sem ela, nunca poderia ter ordenado faça-se isto ou aquilo, separem-se os céus da terra e haja dia, haja noite. A criação da vida foi pois um acto linguístico. E aqui é onde mais sofro, porque me questiono em que língua terá o Ente falado, primeiramente consigo próprio (quando qualquer rugido serviria) e, seguidamente, com Adão.
E Adão para com Eva e seus filhos, que língua terá usado? A mesma, vulgarizando deste modo a língua divina que os precedeu?
O que terá levado Adão, perante o facto de ter de nomear a bicharada nos ares, nos mares e na terra, a chamar porco ao porco, e não pig, cochon, ngulu? Com que intenção? Simples alcunhas atiradas aos ventos, ou produto de uma observação e reflexão propositadas, todavia sem sentido já que, imagino, os conceitos, a existirem, seriam novidade?
Se formos a fazer contas, porque tudo foi elaborado em seis dias úteis de trabalho, e partindo do pressuposto de que haveria mais espécies animais e vegetais do que hoje, logo chegaremos à conclusão que a matemática está errada.
Seriam necessários muito mais dias para Adão inventar a palavra adequada e colá-la ao respectivo endereço, sem perigo de repetição ou amnésia, sem esquecer ainda de que, naquela altura, na floresta os bichos falavam. Até que ponto poderiam ter interferido nos seus próprios nomes? Porque é que a cobra aceitou ser denominada de cobra e não de Afonso ou Marinela, por exemplo?
Leia este tema completo a partir de 27/09/2010
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