sábado, 26 de fevereiro de 2011

As vizinhas - Conto por Arlete Piedade

As vizinhas - Conto por Arlete Piedade

Era nos arredores do aeroporto de Luanda que a casa alugada do casal de enfermeiros, se situava, numa rua sossegada, em que a única casa vizinha se situava a cerca de 200 metros, separada por uma extensão de terreno baldio, sem nada que impedisse a vista, a não ser aquelas centenas de metros.


Os enfermeiros tinham-se conhecido em Lisboa, no hospital onde ele já trabalhava e ela fora colocada, concluído que fora o curso de enfermagem, há cerca de 10 anos antes. Daí ao namoro e ao consequente casamento fora um percurso normal e habitual naquele tempo, em meados da década de cinquenta do século passado.

Para trás tinham ficado as terras de origem de cada um, no interior centro do país e a infância e juventude passadas naqueles tempos de dificuldades que nós hoje dificilmente conseguimos imaginar.
Eles tinham crescido no tempo da guerra e sabiam dar o valor ás dificuldades que os pais tinham passado para criar uma casa cheia de filhos, onde muitas vezes a imaginação e algumas ervas do quintal, eram os únicos ingredientes disponíveis para o jantar.

Assim quando o enfermeiro recebeu uma proposta para ir trabalhar para Angola, contratado pelo governo, e sem previsões de quando poderia regressar a Portugal, a hipótese mais viável foi apressar o casamento e propor levar consigo a esposa, também enfermeira. Assim, foram os dois com contrato para África, sem saberem as dificuldades que os esperavam, mas confiantes nos seus conhecimentos, na sua juventude e no amor que os unia.

Depois de nove anos de trabalho em diversas cidades de Angola sem descanso, e já com dois filhos pequenos, surgiu a oportunidade de virem passar as primeiras férias que tinham vindo a acumular, com a família a Portugal. Durante nove meses reviram amigos, mataram saudades, deram a conhecer os filhos á família, até que receberam uma carta de um médico amigo propondo um novo trabalho em Luanda.

Regressados a Africa, alugaram aquela casa de rés do chão, numa rua quase deserta perto do aeroporto e do novo local de trabalho do enfermeiro, e continuaram a sua vida rotineira, nos três anos seguintes.

Ao longe viam os movimentos dos vizinhos, na casa de primeiro andar encimada por um largo terraço, onde a dona da casa estendia roupa para secar. As vezes havia visitas na casa dos vizinhos e todos no terraço confraternizavam alegremente, juntamente com as crianças, filhos dos casais. Os metros que os separavam impediam que se distinguisse claramente os rostos e os detalhes, mas as movimentações eram visíveis, assim como o eco das risadas e das conversas que chegavam nas asas do vento.

Durante os dias de semana, cada família saía de casa nos seus carros para se dirigir á cidade e para os seus locais de trabalho. Viam-se ao longe, eram vizinhos, mas não havia um motivo para estreitarem relações ou para um conhecimento mais próximo.
Um dia uma carta chegou de Lisboa. Era da mãe da enfermeira e entre outras, dava notícia que uma amiga de infância e de escola, de sua filha, também se encontrava a trabalhar e a viver em Africa. A enfermeira ficou muito contente, pois era uma mulher afectuosa e que estimava as suas amigas, em especial aquela de quem já nada sabia há cerca de 20 anos, desde que tinham crescido e cada uma seguido a sua vida.

Leia este tema completo a partir de 28/2/2011

3 comentários:

  1. Gostei bastante e fez-me lembrar reencontro em Luanda, em ocasiões diferentes, com duas amigas de longa data que não via há mais de vinte anos.
    Um grande abraço de parabéns,
    Cremilde

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  2. Muito interessante o que se passou!!! Realmente
    às vezes sucede cada coisa engraçada! Comigo sucedeu simplesmente encontrar um colega da Faculdade de Ciências de Lisboa nas barcas que ligam o Rio a Niterói.
    Depois não voltámos a ver-nos mas o meu colega também estava a viver do lado de Niterói.
    Gostei muito do seu conto. Parabéns!!!
    Maria

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  3. Olá Arlete

    Que conto interessante.
    Gostei muito.
    Liliana

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