sábado, 19 de fevereiro de 2011

Poesia Africana - Por Wilson Torres - «Oh Angola meu berço do Infinito» - João Maimona; Os rios atônitos - José Eduardo Agualusa; Costuras - Doriana

Poesia Africana - Por Wilson Torres - «Oh Angola meu berço do Infinito» - João Maimona; Os rios atônitos - José Eduardo Agualusa; Costuras - Doriana

«Oh Angola meu berço do Infinito» - João Maimona

Oh Angola meu berço do Infinito
meu rio da aurora
minha fonte do crepúsculo
Aprendi a angolar
pelas terras obedientes de Maquela
(onde nasci)
pelas árvores negras de Samba-Caju
pelos jardins perdidos de Ndalatandu
pelos cajueiros ardentes de Catete
pelos caminhos sinuosos de Sambizanga
pelos eucaliptos das Cacilhas
Angolei contigo nas sendas do incêndio
onde os teus filhos comeram balas
e
regurgitaram sangue torturado
onde os teus filhos transformaram a epiderme
em cinzas


Os rios atônitos - José Eduardo Agualusa

Os rios atônitos
(Ouvindo «Kongo», por Miriam Makeba)
Há palavras a dormir sobre o seu largo
assombro
Por exemplo, se dizes Quanza ou dizes Congo
é como se houvesse pronunciado os próprios
rios
Ou seja, as águas
pesadas de lama, os peixes todos e os perigos
inumeráveis
O musgo das margens, o escuro
mistério em movimento.

Costuras - Doriana

A vida bordou surpresas em ponto agrilhão
Tecias auroras carsidas.
Desfiaste o tecido para o crivo; esqueceste chulear as baínhas.
Não pudeste atingir a perfeição dos deuses,
gostei do passajado feito quando tudo se desmanchou
Continuo trajando o vestido da tua oferta.

baloiça o tempo na folha da goiabeira
baloiça oh folha!
que o silêncio geométrico multiplica a esfera:
a noite aleita o traçado dos morcegos
sombras mudas enamoram açucenas
a memória afaga paralelos idos
e o corpo se desfaz em loiras labaredas.
balança o tempo nas folhas da minha terra,
balança oh terra!
já o meu corpo se desfaz na geografia da espera.

Leia este tema completo a partir de 21/2/2011

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