sábado, 26 de fevereiro de 2011

Um conto de Ilona Bastos - VOANDO COM O VENTO

Um conto de Ilona Bastos - VOANDO COM O VENTO

VOANDO COM O VENTO

Era uma vez uma pequena pastora chamada Rosa Branca, que vivia com os pais no sopé de uma montanha. De criança, haviam-na incumbido de subir ao monte todos os dias, para guardar o rebanho. E a pequenita, envolta na sua capa de lã, trepava com esforço, encosta acima, até pastagens verdes e tenras.

Ora acontece que certo dia, achando-se Rosa Branca no topo da montanha, entretida a atirar pedras ao longe, para o cão as abocanhar e trazer de volta, ouviu um som sibilante.

Olhou em redor, para baixo e para cima, e acabou por compreender que nada de visível ou tocável emitira tal ruído, pelo que o mesmo se apresentava como que originado do ar. Era o ar que falava, ou melhor, o ar em movimento: o vento.


O vento que, no céu muito azul, impelia as nuvens, pujantes e luminosas, a grande velocidade, qual cajado de pastor guiando o seu rebanho para o norte. O vento que, ao ouvido de Rosa Branca, murmurava, sussurrava, brincando-lhe com os braços e as pernas, puxando-lhe o cabelo, roçando-lhe a cara.

A menina sorriu de prazer. E logo, numa troca de sons e aragens, o vento criou uma relação amigável com a pequena pastora, ao ponto de nesse fim de tarde, de regresso a casa, montanha abaixo, sentir a garota que o vento a acompanhava e amparava na descida.

No dia seguinte, também para a subida - esta mais difícil - o vento deu o seu contributo, empurrando energicamente Rosa Branca, de tal forma que lhe bastou dar amplas passadas pelo ar, que do resto a aragem se encarregou. E em três tempos chegou às pastagens do alto.

Como se entendiam, que ideias ou correntes trocavam, não é sabido, apenas que desde então Rosa Branca deixou de se fazer transportar de carroça, carro ou camioneta, pois que voava com o vento: se queria subir, de imediato um impulso do ar a fazia ascender; se desejava descer, súbita rajada a empurrava em tal sentido - tudo por modos que as distâncias deixaram de existir e, como é costume dizer-se, do longe se fez perto.

O tempo foi passando, Rosa Branca cresceu e, dotada de tal atributo, cansou-se de permanecer na Aldeia. Disse então aos pais que desejava mudar-se para a Grande Cidade, o que estes aceitaram. Na verdade de nada lhes servia levantar oposição - pois pode alguém prender o vento? E à pequena pastora, de mochila às costas, bastou declarar suavemente:

- Para a cidade, vamos!

Ao primeiro passo, o vento empurrou-a, ao segundo passo, o vento dominou-a, e ao terceiro passo, lá ia a menina de cabelos no ar, os braços abertos, as pernas movendo-se em largas passadas pelos verdes campos fora.

Chegada à Grande Cidade, Rosa Branca buscou acomodações em casa de uma parente de há muito saída da Aldeia. A prima Margarida recebeu Rosa Branca com agrado, mas disse-lhe que era pobre, que por isso apenas poderia dar-lhe abrigo no seu lar, com cama e roupa lavada. Quanto ao sustento, devia Rosa Branca buscá-lo fora. Havia, por isso, necessidade de que a pequena pastora arranjasse emprego.

Afoita e resoluta, a moça disse que em nada a abalava tal ideia, pois que de muito criança se habituara a labutar. E saiu em busca de trabalho.

Quando descia a Grande Avenida - uma das principais da cidade -, suavemente impelida pela mesma brisa que afagava o mármore das frontarias, Rosa Branca avistou um letreiro, dependurado de uma vitrina, que pedia para aquela loja uma empregada.

Sem hesitar, a menina entrou, e meia dúzia de palavras trocadas já se encontrava cá fora, com um lenço a tapar-lhe os caracóis escuros, um balde com água e detergente numa mão, e uma esponja na outra. Seguia-a a dona do estabelecimento, segurando um pequeno escadote e fazendo-lhe recomendações para que não caísse.

Ora cair! Como se o vento desamparasse alguma vez a sua protegida!

Leia este tema completo a partir de 28/2/2011




1 comentário:

  1. Querida Ilona,
    Que mais dizer-lhe...?
    Adorei............
    Um grande abraço
    Cremilde

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