sábado, 26 de fevereiro de 2011

Um Conto - Por Emerson Wiskow - Milonovisk

Um Conto - Por Emerson Wiskow - Milonovisk


No pátio, Milonovisk olhou em volta, a cabeça girou lentamente desenhando um meio círculo. Apenas muros. Viu apenas muros. Frios, altos, indestrutíveis, pareciam eternos. Estava congelado, o corpo todo, os pés... «Ah, como estão gelados os meus pés», pensou Milonovisk.
As mãos mal moviam-se. Milonovisk acocorou-se lentamente, não porquê quisesse, mas porque era apenas assim que ele conseguia mover-se. Lentamente. Ele gemeu ao abaixar-se, os ossos estalaram como se algo tivesse quebrado dentro do seu corpo.

Olhou para o céu com um ar vago e infinito. O céu pareceu-lhe uma pintura sombria, com pinceladas bruscas. Era uma massa gigante carregada de tintas. A neve novamente começou a cair, ele sentiu os primeiros flocos tocaram-lhe o rosto duro. Milonovisk olhou para baixo, para o chão, e cravou os dedos na neve como se fossem um arado. Ou seria uma garra? Passou uma, duas, três vezes, sempre com força.

Olhou novamente para os muros pálidos, pareceram gigantes e intransponiveis. Lá fora tudo parecia vasto, interminável e eterno. Encolheu-se ainda mais, estava gelado. A quanto tempo ele via aquele cenário imutável? Aqueles muros gelados, aquelas paredes que iam em direção ao céu. Aquele céu monstruoso e feio, que davam-lhe a sensação de estar dentro de uma gigantesca câmara de gelo. Tinham-se passados muitos anos.

Sentiu vontade de fumar, uma vontade gigantesca, tudo ali parecia gigantesco. Naquele momento só desejava fumar um cigarro, uma bagana que fosse. A vontade devorava-o por dentro, arrancava pedaços, comia-lhe as entranhas. Em um gesto desesperado Milonovisk levantou-se, os ossos estalaram e ele enfiou as mão entre os bolsos numa procura inútil de encontrar um cigarro, um resto de fumo.

Milonovisk sabia que não encontraria, que seus bolsos estavam vazios. A neve continuava a cair sobre ele, agora com mais intensidade e indiferença. Caía sobre o pátio gélido, sobre o longo muro que o cercava, sobre sua cabeça congelada.
De súbito a sirene tocou. Um grito longo, estridente e eterno. Milonovisk continuou a vasculhar os bolsos a procura de um cigarro, mesmo sabendo que nada encontraria ali. Como se aquilo satisfazesse sua vontade de dar uma tragada.

Leia este tema completo a partir de 28/2/2011

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