sábado, 29 de maio de 2010

O IMAGINARIO NO TEXTO ANGOLANO - BOAVENTURA CARDOSO - A ARVORE QUE TINHA BATUCADA - Por Manuel Fragata de Morais

O IMAGINARIO NO TEXTO ANGOLANO - BOAVENTURA CARDOSO - A ARVORE QUE TINHA BATUCADA - Por Manuel Fragata de Morais

BOAVENTURA CARDOSO - Nasceu em Luanda a 26 de Julho de 1944. É licenciado em Ciências Sociais e membro fundador da União dos escritores Angolanos, com vasta carreira no Governo. Autor de vários livros, segundo Luandino Vieira, é um escritor revelado no pós-independência e dono já, em sua bibliografia, de títulos importantes na afirmação e redefinição da literatura angolana contemporânea. O excerto aqui inserido faz parte do livro «A Morte do Velho Kipacaça».

A ARVORE QUE TINHA BATUCADA

Pintadas de fresco na memória, cenas de O Laço da Meia-Noite. Teimosamente: apesar do esforço. E passava das onze da noite, vinha assim do cinema, noctívago quase só. E vinha assim andando e assim andando, noctambulosamente, passos quase na fronteira luz e escuridão: linha divisória de espaços sociais. Tinha nó na garganta: medo engravatado.

Silêncio cortado: cão a ladrar. E acelerei então: o passo. Cacimbante, luarenta: a noite. Capim seco tinha então cheiro de queimadura. E tinha pirilampo, pontinho luminoso: adiante. Sem intermitência, não era pirilampo: certifiquei. E experimentei então descontrair assim: assobiando. Breve sensação de segurança.

Porém minhas pernas não estavam então acompanhar o esforço para me descontrair assim. Pontinhos luminosos agora estavam então aumentar. E parei: assustado. Mas impetuosamente veio então assomo de coragem: decidido, retomei o passo. Sob a minha cabeça. Os pontinhos luminosos. E dos lados: os pontinhos luminosos. Sem querer tossi então e alguém também tossiu. E tossi: tossiu.

Tossia e na noite luarenta ecoavam tosses. E retive então o passo assim e olhei assim para os lados: ninguém! Oh! outra vez: na passada. E assobiei então e o silêncio da noite que apenas de vez em quando era cortado pelo vento e o silêncio da noite se engravidou então de assobios. Fui! Fui! Fui! E deixei de assobiar, mas o silêncio continuou a se encher de assobios. E imobilizei então de novo o passo. E ouvi então.

Sem comentários:

Enviar um comentário