VOZES - Conto de Liliana Josué
Sinto o fumo da estupidez à minha volta. Tem um cheiro intenso a mesquinho; qualquer coisa insuportável.
Sento-me num banco de tampo forrado a oleado amarelo e branco, da ampla cozinha desolada e fria, assim como eu. A máquina lava a roupa pachorrenta num gesto teatral de infinitude.
Meu corpo balança ligeiramente ao ritmo do seu tambor num impulso quase inconsciente mas inevitável, enquanto um murmúrio de canção sai dos meus lábios entrecortado pela minha falha de memoria do seu todo.
Sigo o vazio num vago olhar de espírito ausente e corpo presente. O óculo da máquina, semelhante a vigias de barco, mostra seu mar revoltoso de espuma branca.
Um estranho odor surge inesperadamente do silêncio deslizando nas paredes geladas. Tremo de frio, aconchego o casaco mais ao corpo enquanto tomo consciência da minha realidade, e é quando surgem as vozes emboloradas escorrendo estupidez, como panela ao lume vertendo o caldo pelas bordas.
Salpicam-me os seus borrifos e escaldam-me a mente. Tento fugir mas não vou a tempo e acabo polvilhada de nódoas enquanto o meu cérebro é martelado por essas vozes:
- Não é assim… está mal… mas está mal!!!
Virou para esquerda? Errado, o correcto seria para a direita! Ai virou para a direita também? Desculpe, não sabia. E que eu olho e a posição é sempre a mesma! Talvez fosse melhor virar para a esquerda e para a direita…! Também virou para a esquerda e para a direita…? Ah! não sabia. Mas vire, vire sempre - !!
Eu canso de explicar saber que é assim que as coisas se processam mas não sinto qualquer receptividade. Os cenhos tornam-se de um macio duvidoso e voltam à carga forçando simpatia: - Ai sim…? Mas vire, vire sempre!!
A máquina acorda-me irritantemente numa centrifugação barulhenta, e em forma de protesto atira com a espuma de mar para o chão.
Observo-a surpreendida enquanto barafusto num despertar de factos e considerações reais.
Sinto o fumo da estupidez à minha volta. Tem um cheiro intenso a mesquinho; qualquer coisa insuportável.
Sento-me num banco de tampo forrado a oleado amarelo e branco, da ampla cozinha desolada e fria, assim como eu. A máquina lava a roupa pachorrenta num gesto teatral de infinitude.
Meu corpo balança ligeiramente ao ritmo do seu tambor num impulso quase inconsciente mas inevitável, enquanto um murmúrio de canção sai dos meus lábios entrecortado pela minha falha de memoria do seu todo.
Sigo o vazio num vago olhar de espírito ausente e corpo presente. O óculo da máquina, semelhante a vigias de barco, mostra seu mar revoltoso de espuma branca.
Um estranho odor surge inesperadamente do silêncio deslizando nas paredes geladas. Tremo de frio, aconchego o casaco mais ao corpo enquanto tomo consciência da minha realidade, e é quando surgem as vozes emboloradas escorrendo estupidez, como panela ao lume vertendo o caldo pelas bordas.
Salpicam-me os seus borrifos e escaldam-me a mente. Tento fugir mas não vou a tempo e acabo polvilhada de nódoas enquanto o meu cérebro é martelado por essas vozes:
- Não é assim… está mal… mas está mal!!!
Virou para esquerda? Errado, o correcto seria para a direita! Ai virou para a direita também? Desculpe, não sabia. E que eu olho e a posição é sempre a mesma! Talvez fosse melhor virar para a esquerda e para a direita…! Também virou para a esquerda e para a direita…? Ah! não sabia. Mas vire, vire sempre - !!
Eu canso de explicar saber que é assim que as coisas se processam mas não sinto qualquer receptividade. Os cenhos tornam-se de um macio duvidoso e voltam à carga forçando simpatia: - Ai sim…? Mas vire, vire sempre!!
A máquina acorda-me irritantemente numa centrifugação barulhenta, e em forma de protesto atira com a espuma de mar para o chão.
Observo-a surpreendida enquanto barafusto num despertar de factos e considerações reais.
Sem comentários:
Enviar um comentário