domingo, 9 de maio de 2010

Poesia de Abilio Pacheco - mixórdia de maio - para o dia das mães - Umbroso -I - II - III - IV - V

Poesia de Abilio Pacheco - mixórdia de maio - para o dia das mães - Umbroso -I - II - III - IV - V

mixórdia de maio - para o dia das mães


maio
madres, Maria e mulheres
nubens, grinaldas de laranjeiras
bocas, primaveras de trópico:
olhos atônitos de cheiros
pele plena de luzes e cores

como por ordem na idéia
e dizer coisa com coisa
se maio me mixordia?

Umbroso
I
Saio desse morto com algo dele que é meu
e deixo nele algo meu que lhe pertence.
Pouco importa o que deixo
mas o que prendo à força na mão gauche.

II
Saio desse morto levando na mão sinistra
um punhado do que nos é comum
e sigo por um corredor ocre de ocaso.
A destra vazia, a outra cerrada;
O morto, olvido, jaz! é passado!
mas o punho penso é presente.

III
Atravesso um corredor feito uma gruta
e mantenho a mão inábil fechada
como se retivesse rara poeira,
como se protegesse nobre efervescente,
como se – mais que tudo –
estivesse determinada à briga.

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