domingo, 16 de maio de 2010

Síndrome de Deus por Tom Coelho

Síndrome de Deus por Tom Coelho

«Existe uma força vital curativa com a qual o médico tem de contar.
Afinal, não é o médico quem cura doenças: ele deve ser o seu intérprete.»
(Hipócrates)

Dediquei-me nas últimas semanas ao meu check-up anual. Mens sana in corpore sano. Decerto que não se trata de uma atividade lúdica nem tampouco prazerosa. Mas é agradável receber resultados de exames sentenciando que você está bem. Afinal, quem pode prescindir da saúde pública, paga um plano de assistência médica como quem compra um jazigo: espera postergar ao máximo o uso do benefício contratado.
A partir das diversas consultas efetuadas pude estabelecer um padrão de comportamento entre os profissionais que me atenderam que cunharei como «paradigmas médicos».

O primeiro deles é de ordem educacional. Absolutamente todos, sem exceção, recebiam-me com uma indagação inaugural: «Qual seu problema?». Houve variantes como «O que você tem de errado?», ou então, «O que você está sentindo?», esta última revestida de maior humanismo posto que remete a um estado emocional em vez de uma constatação objetiva.

Pode parecer curioso, mas o fato é que eles se surpreendiam quando eu argumentava que estava apenas fazendo um check-up. O cardiologista postulou que eu não tinha nada importante a fazer, o urologista supôs que eu tivesse uma vida promíscua, e o clínico - geral imaginou que eu apenas pretendia um atestado.

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