PROSA E POETICA DE ILONA BASTOS - Prosa poética I, Prosa Poética II, Poema Ecos.
I
E difícil, sim, prosseguir esta caminhada solitária em que não existe resposta aos nossos apelos. Como o conseguimos antes? Levados por um impulso inicial, que nada parecia deter ou refrear. Não contava, então, o silêncio que perseguia as nossas palavras. Nem o eco, por vezes perturbante, das releituras insistentes que fazíamos, esperançados de encontrar a resposta na própria pergunta formulada.
Depois, não sei porquê, tudo se tornou diferente. Onde dantes se avistava um campo fértil - em que uma nova planta sempre se destacava, do solo surgida -, nasceu um deserto com as suas dunas, apenas interrompido por súbitos e tristes oásis, que mais faziam sobressair a desolação em redor.
II
Quando saí, ouvi da casa vizinha palavras de admoestação suave:
«Hoje estás muito rabino, gato!»
Também eu, antes de fechar a porta da rua, me voltara para trás, recomendando:
«Porta-te bem, cãozinho! Ficas a tomar conta da casa...»
Agora, deslizando sobre o alcatrão, passo pela montra de uma loja, diante da qual um senhor de cabelo branco se interessa pelos artigos expostos. Ao seu colo, tão atento quanto o dono, um pequeno rafeiro de pêlo dourado estende o focinho delicado para o vidro.
Não consigo deixar de virar a cabeça, para acompanhar por mais tempo aquela cena graciosa. E parece-me curioso o facto de tratamos os nossos animais como se fossem crianças.
ECOS
Mesmo que aos ouvidos
me não cheguem,
os ecos existem, eu sei.
Largados no espaço, talvez.
Aos meus anseios, eu sinto,
uma voz responde,
inaudível mas forte,
ao longe criada, difundida
pelos confins do Universo.
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