COLUNA UM - Daniel Teixeira - A permuta de ilusões
Os portugueses são conhecidos em Portugal através de um chavão secular que se tem mantido contra todos os ventos, todos os adamastores e todas as marés: de uma forma geral não acreditam no seu país, diz-se e quando as coisas correm menos bem passam pura e simplesmente as fronteiras e vão para um outro país onde, alegadamente, as condições são melhores. Aliás são sempre melhores mesmo que sejam piores, no seu sentido mais profundo, porque são diferentes.
Antero de Quental, a quem tomo a liberdade de pedir emprestadas estas palavras que se seguem dizia:
«O que realmente fomos; nulos, graças à monarquia aristocrática!
Essa monarquia, acostumando o povo a servir, habituando-o à inércia de quem espera tudo de cima, obliterou o sentimento instintivo da liberdade, quebrou a energia das vontades, adormeceu a iniciativa; quando mais tarde lhe deram a liberdade, não a compreendeu; ainda hoje a não compreende, nem sabe usar dela.
As revoluções podem chamar por ele, sacudi-lo com força: continua dormindo sempre o seu sono secular!» (in Causas da Decadência dos Povos Peninsulares , III)
O português, nas palavras de Jaime Cortesão, quando se trata de erguer o seu país revela uma enorme indolência. «O nosso grande mal é uma doença da vontade cujos sintomas se chamam o desalento, o pessimismo, o abandono fatalista, uma inerte cobardia e a falta de confiança no esforço próprio» (cf. J.C., Da Renascença Portuguesa e seus Intuitos, A Águia. 1912 ).
Ainda, e continuando esta saga de depressivas citações: «Os portugueses sempre procuraram fora do seu país a solução para os seus problemas internos. Como notou António José Saraiva, em vez de se empenharem em desenvolver Portugal, preferiram investir em expedições, conquistas além-mar ou mesmo na emigração. Ora, à medida que prosseguiram nesta prática foram-se tornando cada vez mais pobres e dependentes do exterior.» Carlos Fontes In Lusotopia.
Será claro que não vou eu - o simples Daniel Teixeira de meu nome - dizer o que quer que seja contra tão abalizadas referências, nomeadamente perguntando o que há para desenvolver nesta terriola, o que há que faculte uma não inércia (quer dizer um movimento em frente) ou a possibilidade de investir noutra coisa senão em expedições porta fora uma vez que acho, na minha opinião, que por aqui já não há mais nada a desenvolver: batemos no fundo económico da escassez e no topo do desenvolvimento possível qual bola de ping pong.
Mas no contexto em que escrevo (ver o título acima em caso de dúvida) não posso deixar de recordar-me da fábula das lebres e das rãs de Esopo: na verdade nós, portugueses tivemos, e na minha opinião já não temos estes problemas todos (temos outros)...fomos nulos segundo Antero de Quental, inertes cobardes conforme Jaime Cortezão e não nos empenhámos em desenvolver Portugal segundo António José Saraiva, mas...já segundo Esopo, alto!!! e pára a corrida para o lago afogador: haverá sempre quem esteja pior que nós.
Leia este tema completo a partir de 15/11/2010
Os portugueses são conhecidos em Portugal através de um chavão secular que se tem mantido contra todos os ventos, todos os adamastores e todas as marés: de uma forma geral não acreditam no seu país, diz-se e quando as coisas correm menos bem passam pura e simplesmente as fronteiras e vão para um outro país onde, alegadamente, as condições são melhores. Aliás são sempre melhores mesmo que sejam piores, no seu sentido mais profundo, porque são diferentes.
Antero de Quental, a quem tomo a liberdade de pedir emprestadas estas palavras que se seguem dizia:
«O que realmente fomos; nulos, graças à monarquia aristocrática!
Essa monarquia, acostumando o povo a servir, habituando-o à inércia de quem espera tudo de cima, obliterou o sentimento instintivo da liberdade, quebrou a energia das vontades, adormeceu a iniciativa; quando mais tarde lhe deram a liberdade, não a compreendeu; ainda hoje a não compreende, nem sabe usar dela.
As revoluções podem chamar por ele, sacudi-lo com força: continua dormindo sempre o seu sono secular!» (in Causas da Decadência dos Povos Peninsulares , III)
O português, nas palavras de Jaime Cortesão, quando se trata de erguer o seu país revela uma enorme indolência. «O nosso grande mal é uma doença da vontade cujos sintomas se chamam o desalento, o pessimismo, o abandono fatalista, uma inerte cobardia e a falta de confiança no esforço próprio» (cf. J.C., Da Renascença Portuguesa e seus Intuitos, A Águia. 1912 ).
Ainda, e continuando esta saga de depressivas citações: «Os portugueses sempre procuraram fora do seu país a solução para os seus problemas internos. Como notou António José Saraiva, em vez de se empenharem em desenvolver Portugal, preferiram investir em expedições, conquistas além-mar ou mesmo na emigração. Ora, à medida que prosseguiram nesta prática foram-se tornando cada vez mais pobres e dependentes do exterior.» Carlos Fontes In Lusotopia.
Será claro que não vou eu - o simples Daniel Teixeira de meu nome - dizer o que quer que seja contra tão abalizadas referências, nomeadamente perguntando o que há para desenvolver nesta terriola, o que há que faculte uma não inércia (quer dizer um movimento em frente) ou a possibilidade de investir noutra coisa senão em expedições porta fora uma vez que acho, na minha opinião, que por aqui já não há mais nada a desenvolver: batemos no fundo económico da escassez e no topo do desenvolvimento possível qual bola de ping pong.
Mas no contexto em que escrevo (ver o título acima em caso de dúvida) não posso deixar de recordar-me da fábula das lebres e das rãs de Esopo: na verdade nós, portugueses tivemos, e na minha opinião já não temos estes problemas todos (temos outros)...fomos nulos segundo Antero de Quental, inertes cobardes conforme Jaime Cortezão e não nos empenhámos em desenvolver Portugal segundo António José Saraiva, mas...já segundo Esopo, alto!!! e pára a corrida para o lago afogador: haverá sempre quem esteja pior que nós.
Leia este tema completo a partir de 15/11/2010
Daniel, Muito interessante abordagem da questão que a todos, Portugueses, não cessa de intrigar. Cumpramos, aqui, os sonhos que ali projectamos!
ResponderEliminarExcelente coluna, mais uma vez. Um abraço, Ilona