domingo, 28 de novembro de 2010

COLUNA UM - Daniel Teixeira - O decote da Rita

COLUNA UM - Daniel Teixeira - O decote da Rita

Nem sei - e nem vou perguntar a quem sabe - se o nome da pessoa em questão é mesmo este mas vou servir-me deste facto acontecido algures nos EUA onde uma série de televisão portuguesa foi premiada com um Emmy para fazer reparar que o que mais referido tem sido pelos média é precisamente o decote da Rita.

Ainda nesta mesma semana e já publicado na anterior semana o Cecílio Elias Netto se tinha debruçado sobre as questões de vestir, não pelo decote de Dilma, mas pelo facto da «inteligente» jornalista que cobria um dado evento não ter encontrado, se calhar, outra coisa para dizer sobre a recém-eleita Presidente do Brasil que a mesma tinha repetido na Cerimónia um dos fatos / vestidos que tinha usado na Campanha...

Pois bem, é muito comum este erro de análise ou de interpretação, ou seja, tomar a parte pelo todo e vice versa: uma pessoa quanto mais vezes percorre uma dada estrada melhor vai conhecendo essa estrada e maior tendência tem para pensar que as outras estradas que não percorreu ainda serão pelo menos parecidas com aquela que percorre.

Quando se depara numa outra estrada com a diferença entre uma e outra depressa lhe é possível chegar à conclusão que aquela estrada que percorre agora é totalmente diferente da outra que percorria descartando por insignificantes as semelhanças que continuam a existir entre as duas estradas.
Neste caso da Rita bastou um decote para fazer esquecer o mais importante que seria o Emmy e daqui tiro o chapéu a quem teve a ideia, se eventualmente não se tratou apenas de um bambúrrio.
E será preocupante sim, analisar agora como as coisas são frágeis na sua essência primeira neste nosso mundo de fragilidades aceleradas: as coisas em si não são frágeis, no seu sentido intrínseco, dentro de si mesmas, nos casos em que não são mesmo e de facto...apenas a mediatização acaba por conseguir obter estes efeitos o que visto à lupa acaba por constatar-se ser cada vez mais preocupante.
Não se trata de um mediatismo qualquer nem sequer da força do mediatismo por si mesma: trata-se isso sim daquela coisa a que se chama alienação e trata-se da fragilidade dos princípios básicos, da inexistência deles em muitos casos ou de um jogo entre vários valores que são postos num mesmo campo em simultâneo originando uma quase natural atrapalhação na escolha daquele que deve ser considerado mais importante.
Lembro-me agora de uma história com alguns anos em que uma serviçal (naquele tempo seria assim) vendo que o seu patrão e senhor não chegava para o jantar terá esperado à volta da mesa uma ou duas horas e depois terá resolvido levantar a mesma convencida que estava que o patrão teria ficado a jantar algures sem que disso a tivesse informado.
Chegado depois, algumas horas depois, terá o referido senhor achado estranho que a mesa estivesse vazia e terá questionado a serviçal que lhe respondeu: «Mas eu julguei...(que já não vinha - não chegou a acrescentar porque foi interrompida por um brusco) : «Não tinha que julgar nada!!Quem julga são os Juízes!!»
E é verdade, em certo sentido passe o caricato da questão...em última instância e quando não há acordo entre as partes nos casos em que é possível fazê-lo, quem julga são de facto os Juízes...mas essencialmente tanto a serviçal como nós todos no nosso dia a dia fazemos julgamentos, tomamos decisões, optamos entre A e B ou C, etc.
E os média e as pessoas que lêem, ouvem ou vêm os média deste tipo optaram pelo decote da Rita tal como a jornalista referida pelo Cecílio Elias Netto terá optado por esse facto provavelmente transcendente para ela que é a Dilma (futura Presidente do Brasil) ter cometido esse verdadeiro acto de insensatez que foi o de vestir uma roupa que já tinha usado em cerimónia igualmente pública.
Ora eu julgo (também julgo) que vivemos num mundo verdadeiramente surrealista - para ser pelo menos tendencialmente simpático - onde existem dois tipos de coisas perfeitamente desligadas uma da outra: um mundo virtual (de conveniência ou para ser visto) e um mundo real onde tem lugar o acontecido.

Leia este tema completo a partir de 29/11/2010

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