sábado, 27 de novembro de 2010

Um Conto - Por Emerson Wiskow - Como um casal

Um Conto - Por Emerson Wiskow - Como um casal

Enquanto ela foi ao banheiro aproveitei para contar o dinheiro. Magali voltou sorrindo, algumas mulheres ganham você pelo sorriso. Magali tinha o sorriso e um belo rosto. Não resisti. Cabelos curtos e pretos, do tipo esguia, pele clara e um belo rosto. Bom, isto eu já disse. Ela sorriu para mim e fechou a porta do pequeno quarto. - São trinta reais. - cobrou-me ela, parada em minha frente. Retirei o dinheiro do bolso, fingi que contava-o pela primeira vez e então entreguei-o.

Magali pegou os «trinta» e saiu novamente do quarto. - Já volto, não fuja daí! - disse ela com um leve sorriso. O que um sorriso não faz. Fiquei encantado com a garota.
Esperei novamente, eu sempre esperava. Enquanto ela não voltava eu olhava para as paredes daquele quartinho sujo, de ar pesado.

Olhei para o colchão jogado no chão, o lençol encardido e desarrumado. «Bom, esta é a minha vida», pensei. Magali voltou e desta vez foi eu quem sorriu. Sempre é bom ver uma mulher voltar.
Olhei para o seu pequeno piercing cravado no nariz, uma pedrinha brilhante. Olhei para o seu corpo esguio e tive vontade de beijá-la.

- Eu queria surfar em Bali. - disse Magali enquanto baixava a calcinha. Eu a observava em silêncio, achando bela e suave aquela jovem prostituta que sonhava surfar em Bali.
O quarto deveria ter uns 2 por 2 , talvez menos, sempre fui mal em relação a medidas, mas o fato é que o quarto era realmente muito pequeno. Tinha um colchão de solteiro jogado ao chão, um cabide para pendurar as roupas, um pequeno cesto de lixo e nós dois.

Uma luz muito fraca iluminava o quartinho, o que contribuía ainda mais para deixá-lo com um aspecto de decadência. Aquilo era a decadência, amenizada apenas pelo sorriso de Magali.
Lá fora a noite arrastava-se morna e abafada, as águas do Guaíba pareciam descansar em leves movimentos. Os navios ancorados, alguns gigantes, adormeciam nas margens do rio.

Antes, porém, os trilhos do metrô. De repente o som da música e o murmúrio que vinha de fora do quarto era cortado pelo som do metrô que atravessava a cidade. Aquela enorme serpente iluminada passava veloz, via-se as pessoas dentro dela, como fantasmas que corriam na noite abafada.

O inferninho, as putas, os amores perdidos, os trilhos do metrô, o metrô, o porto, os velhos navios e o Guaíba. Porto Alegre respirava em seus vários mundos, enquanto Magali sorria para mim dentro do quartinho com ar rançoso.

Leia este tema completo a partir de 29/11/2010

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