O nascimento do Rã vulgo Grenouille - Reflexão de Michel Crayon
A história foi-me contada assim e não ponho nem retiro nada àquilo que me foi dito. Há pessoas que quando contam um conto acrescentam um ponto mas eu não sou desses, sou a excepção a essa regra arbitrariamente colocada por alguém que fazia da mentira ou do acrescento sobre o contado profissão, métier, job e que provavelmente ganhava algum com isso.
Já Virgílio, ou foi o Horácio (?), dizia que ia contar sobre as tragédias gregas a sua versão, que essas tragédias eram todas uma grande aldrabice, mas que ele as ia envolver com um tal e tão espesso manto que as pessoas teriam um enorme prazer em lê-las, escritas pela sua pena.
Lançava então o Virgílio/Horácio (agora não dá para confirmar quem foi o gajo que disse isto mas isso é de somenos importância) o tema da sobreposição da forma ao conteúdo: as pessoas iam ler as tragédias gregas não pelo que elas significavam mas sim pela roupagem que ele lhes ia meter. Breve, não se apalpava a mulher, olhava-se para a sua vestimenta o que não deixa de ter o seu interesse quando se dá rédea solta à imaginação.
Neste caso que me contaram, o do nascimento do Rã (se tivesse nascido em França era Grenouille) a coisa passou-se assim: havia o Rã e uma vaca. A mãe do Rã e a vaca (com letra pequena) estavam ambas prenhes, grávidas, de esperanças no caso da senhora e sem esperança alguma no caso da vaca.
Foi chamado o veterinário da aldeia, um ser rubicundo que recebia à colheita (actualmente é no fim do mês, para quem não sabe) que presto agarrou na mula, colocou-se em cima dela e deslocou-a à força de chibata em direcção à quinta do pai e da mãe do futuro Rã (sobre este nome direi qualquer coisa mais à frente) e isto, no que se refere ao veterinário porque o trabalho não abundava, a agricultura e a pecuária estavam em crise como sempre têm estado e o trabalho de matar moscas com uma espátula de plástico não enche barriga.
Na mesma altura e como se tivessem combinado e como se isso fosse possível pois que com a Natureza não se combina nada, a mãe do futuro Rã entrou em contracções: as vacas não têm isso ou se têm ninguém lhes chama isso porque uma vaca é uma vaca.
Chamaram então para a senhora uma parteira da aldeia, profissional competente ainda que não encartada mas naquele tempo não se ligava muito a títulos...aliás penso que o veterinário também não era veterinário de facto, desenrascava-se no métier, tinha até estatisticamente uma percentagem de sucesso nas suas intervenções superior à média europeia e morava logo ali, a dois passos da quinta, ou seja, cerca de cinco quilómetros em caminhos de terra batida.
Os «colegas» chegaram quase ao mesmo tempo: cumprimentaram-se, trocaram algumas impressões sobre os últimos casos, meteram moedas na máquina e fizeram sair dois cafezinhos e por ali ficaram em cavaqueira até que o futuro pai do Rã berrou lá de cima e a vaca mugiu aterradoramente.
Leia este tema completo a partir de 22/11/2010
A história foi-me contada assim e não ponho nem retiro nada àquilo que me foi dito. Há pessoas que quando contam um conto acrescentam um ponto mas eu não sou desses, sou a excepção a essa regra arbitrariamente colocada por alguém que fazia da mentira ou do acrescento sobre o contado profissão, métier, job e que provavelmente ganhava algum com isso.
Já Virgílio, ou foi o Horácio (?), dizia que ia contar sobre as tragédias gregas a sua versão, que essas tragédias eram todas uma grande aldrabice, mas que ele as ia envolver com um tal e tão espesso manto que as pessoas teriam um enorme prazer em lê-las, escritas pela sua pena.
Lançava então o Virgílio/Horácio (agora não dá para confirmar quem foi o gajo que disse isto mas isso é de somenos importância) o tema da sobreposição da forma ao conteúdo: as pessoas iam ler as tragédias gregas não pelo que elas significavam mas sim pela roupagem que ele lhes ia meter. Breve, não se apalpava a mulher, olhava-se para a sua vestimenta o que não deixa de ter o seu interesse quando se dá rédea solta à imaginação.
Neste caso que me contaram, o do nascimento do Rã (se tivesse nascido em França era Grenouille) a coisa passou-se assim: havia o Rã e uma vaca. A mãe do Rã e a vaca (com letra pequena) estavam ambas prenhes, grávidas, de esperanças no caso da senhora e sem esperança alguma no caso da vaca.
Foi chamado o veterinário da aldeia, um ser rubicundo que recebia à colheita (actualmente é no fim do mês, para quem não sabe) que presto agarrou na mula, colocou-se em cima dela e deslocou-a à força de chibata em direcção à quinta do pai e da mãe do futuro Rã (sobre este nome direi qualquer coisa mais à frente) e isto, no que se refere ao veterinário porque o trabalho não abundava, a agricultura e a pecuária estavam em crise como sempre têm estado e o trabalho de matar moscas com uma espátula de plástico não enche barriga.
Na mesma altura e como se tivessem combinado e como se isso fosse possível pois que com a Natureza não se combina nada, a mãe do futuro Rã entrou em contracções: as vacas não têm isso ou se têm ninguém lhes chama isso porque uma vaca é uma vaca.
Chamaram então para a senhora uma parteira da aldeia, profissional competente ainda que não encartada mas naquele tempo não se ligava muito a títulos...aliás penso que o veterinário também não era veterinário de facto, desenrascava-se no métier, tinha até estatisticamente uma percentagem de sucesso nas suas intervenções superior à média europeia e morava logo ali, a dois passos da quinta, ou seja, cerca de cinco quilómetros em caminhos de terra batida.
Os «colegas» chegaram quase ao mesmo tempo: cumprimentaram-se, trocaram algumas impressões sobre os últimos casos, meteram moedas na máquina e fizeram sair dois cafezinhos e por ali ficaram em cavaqueira até que o futuro pai do Rã berrou lá de cima e a vaca mugiu aterradoramente.
Leia este tema completo a partir de 22/11/2010
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