ENVELHECIMENTO E MORTE - Por Carlos Carito
Durante milénios, o homem foi o senhor absoluto da sua morte e das circunstâncias da sua morte. Hoje deixou de o ser. Vejamos como.
Primeiro entendia-se como coisa normal, que o homem sabia que ia morrer, quer se apercebesse disso espontaneamente, quer houvesse necessidade de o informar. Nesse tempo, raramente a morte era súbita, mesmo em caso de acidente ou de guerra, e a morte súbita muito receada, não só porque não permitia o arrependimento, mas porque privava o homem da sua morte. Num tempo em que as doenças ou ferimentos um pouco mais graves eram quase sempre mortais, era relativamente fácil prever a sua morte. As pessoas compreendiam que iam morrer ou, quando o não compreendiam competia a outros adverti-lo.
Durante algum tempo foi o médico, investido dessa função pelo Papa, posteriormente foi o «mensageiro da morte» ao qual a literatura medieval dá aquela figura tétrica do encapuçado com a enxada de lâmina triangular. Quanto mais se sobe no tempo e se sobe na escala social e urbana, menos o homem sente em si mesmo a proximidade da morte, e cada vez precisa mais de se preparar para ela ( tem mais coisas a dispor ) , encarregando – se disso os familiares desde o Sec. XVII.
O moribundo não devia ser privado da sua morte. Tão pouco devia deixar de presidir a ela. Tal como se nascia para o conhecimento público morria-se em público. Desde que alguém estivesse doente, de cama, o quarto enchia-se de gente: pais, filhos, amigos, vizinhos, membros das confrarias. Quando, na rua, os transeuntes encontravam o padre que transportava o viático, o uso e a devoção mandavam que o seguissem até ao quarto do doente, mesmo que o não conhecessem.
Não se julgue que a assistência nos derradeiros momentos era um costume piedoso imposto pela igreja. Os padres, esclarecidos ou protestantes tinham tentado, antes dos médicos que argumentavam razões de higiene pessoal e pública, pôr ordem naquele costume a fim de preparar o doente para um fim edificante.
Ainda no Sec. XIX, pessoas piedosas, depois de terem cedido ao costume, pediam aos numerosos circunstantes que abandonassem o quarto, á excepção do padre, a fim de que nada viesse perturbar o face a face com Deus. Mas o costume mandava que a morte fosse a ocasião de uma cerimónia ritual em que o padre tinha lugar, mas entre os outros participantes. O papel principal competia ao próprio moribundo. Ele presidia e dificilmente hesitava: sabia como se devia comportar tantas tinham sido as vezes em que fora testemunha em cerimónias idênticas.
Leia este tema completo a partir de 22/11/2010
Durante milénios, o homem foi o senhor absoluto da sua morte e das circunstâncias da sua morte. Hoje deixou de o ser. Vejamos como.
Primeiro entendia-se como coisa normal, que o homem sabia que ia morrer, quer se apercebesse disso espontaneamente, quer houvesse necessidade de o informar. Nesse tempo, raramente a morte era súbita, mesmo em caso de acidente ou de guerra, e a morte súbita muito receada, não só porque não permitia o arrependimento, mas porque privava o homem da sua morte. Num tempo em que as doenças ou ferimentos um pouco mais graves eram quase sempre mortais, era relativamente fácil prever a sua morte. As pessoas compreendiam que iam morrer ou, quando o não compreendiam competia a outros adverti-lo.
Durante algum tempo foi o médico, investido dessa função pelo Papa, posteriormente foi o «mensageiro da morte» ao qual a literatura medieval dá aquela figura tétrica do encapuçado com a enxada de lâmina triangular. Quanto mais se sobe no tempo e se sobe na escala social e urbana, menos o homem sente em si mesmo a proximidade da morte, e cada vez precisa mais de se preparar para ela ( tem mais coisas a dispor ) , encarregando – se disso os familiares desde o Sec. XVII.
O moribundo não devia ser privado da sua morte. Tão pouco devia deixar de presidir a ela. Tal como se nascia para o conhecimento público morria-se em público. Desde que alguém estivesse doente, de cama, o quarto enchia-se de gente: pais, filhos, amigos, vizinhos, membros das confrarias. Quando, na rua, os transeuntes encontravam o padre que transportava o viático, o uso e a devoção mandavam que o seguissem até ao quarto do doente, mesmo que o não conhecessem.
Não se julgue que a assistência nos derradeiros momentos era um costume piedoso imposto pela igreja. Os padres, esclarecidos ou protestantes tinham tentado, antes dos médicos que argumentavam razões de higiene pessoal e pública, pôr ordem naquele costume a fim de preparar o doente para um fim edificante.
Ainda no Sec. XIX, pessoas piedosas, depois de terem cedido ao costume, pediam aos numerosos circunstantes que abandonassem o quarto, á excepção do padre, a fim de que nada viesse perturbar o face a face com Deus. Mas o costume mandava que a morte fosse a ocasião de uma cerimónia ritual em que o padre tinha lugar, mas entre os outros participantes. O papel principal competia ao próprio moribundo. Ele presidia e dificilmente hesitava: sabia como se devia comportar tantas tinham sido as vezes em que fora testemunha em cerimónias idênticas.
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