domingo, 27 de março de 2011

COLUNA UM - Daniel Teixeira - A Teoria e a Prática



COLUNA UM - Daniel Teixeira - A Teoria e a Prática


A teoria e a prática, de uma forma global, sempre foram entendidas em campos diferenciados; ser-se um teórico é normalmente entendido quase como se se fosse um sonhador ou mais exactamente é entendido como sendo-se alguém que na «prática» não sabe fazer nada ou sabe fazer muito pouco.


Já um prático é entendido como sendo uma pessoa que resolve as situações da melhor maneira sem grandes preocupações sobretudo na forma como resolve. Os fins justificam os meios neste último caso (quase entendido embora subentendido) enquanto que no caso acima, o do teórico, este não resolve nada também, mas não só, porque está «paralisado» por princípios que lhe tolhem os meios.


No fundo um e outro são quase água com azeite também; não se misturam. Um teórico tem de envergar a farda do prático para realizar coisas enquanto que o prático tem de envergar a farda do teórico para pensar. Só assim será possível, passar, como se diz, da teoria à prática. Estas serão as ideias correntes o que não quer dizer que quer uma quer outra correspondem quer à realidade quer à nossa prática do dia a dia e à aplicação das teorias que vamos entendendo no jornal, rádio e portal no nosso dia a dia.


No mesmo campo, ainda que bastante diferente mas seguindo uma lógica quase similar. temos a divisão entre «inspiração» e técnica: a inspiração será um dado, um dom quando constante ou um momento ou uma sucessão de momentos quando mais espaçados ou esporádicos.


A técnica é o tradicional «saber fazer»: no campo da escrita, onde vogamos maioritariamente no nosso jornal, trata-se neste caso de saber como se colocam as palavras num dado contexto que se pretende que atinja um dado fim que normalmente é a sua perfeição quanto baste e a sua capacidade de ser recebida pelo leitor ou pelo próprio «prático» num exercício sempre primeiro de auto-satisfação.


E este exercício de auto-satisfação talvez seja o elemento maior de encontro entre o «inspirado» e o «técnico»: são eles os primeiros críticos da sua forma e do conteúdo que trazem da ponta da caneta (do teclado actualmente). Se está bom para o próprio (nunca está quando se é perfeccionista ao quase extremo) está bom para sair, quer dizer, para ser publicado. Nalguns casos (em muitos mesmo) este debate é quase eterno: quer dizer, ainda não está bom hoje e não está bom nos próximos tempos que se vão repetindo ao longo do tempo.


Trata-se da falta de confiança, do debate entre a teoria (de ter feito) e a prática de colocar cá fora, quer dizer, colocar em exposição mais ou menos pública. Encontramos de novo o embate entre a teoria e a prática num nível já liberto das conotações que lhe foram dadas no início: mas estarão elas (as tais conotações) definitivamente afastadas?


Não me parece... O teórico, à força de radiografar o papel que tem entre mãos há dias ou há anos tem de tomar, um dia, uma opção: joga então muitas vezes mão do tal conceito do prático acima (no inicio) referido. E é então o que se chama de «meia bola e força»: um acto prático que se distingue contudo por resultar do esgotamento da reflexão: quer dizer, a coisa já foi vista tantas vezes que «certamente» que está boa e para além do mais «que se lixe»: estamos fartos de ver esse papel e de estar a pensar nele.



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