domingo, 6 de março de 2011

Texto sobre Florbela Espanca - Parte VII - FLORBELA VISTA POR NUNO JUDICE - Por Daniel Teixeira

Texto sobre Florbela Espanca - Parte VII - FLORBELA VISTA POR NUNO JUDICE - Por Daniel Teixeira

FLORBELA VISTA POR NUNO JUDICE

Contudo, e porque nos interessa realçar este aspecto desde logo, sendo a forma fechada (dez sílabas serão sempre dez sílabas métricas), Nuno Júdice acrescenta, tal como nós faremos quando chegar a altura, que essa revitalização do verso em decassílabo é obtida através da exploração do campo temático por um lado e pela introdução de uma subtil forma de diálogo íntimo no corpo do poema (o que já entra dentro do campo estético do poema) através da introdução de um eu dialogante.


«(…)»Como o consegue?! (a revitalização). Sobretudo é no plano temático que a novidade se impõe. E, antes de mais – diz Júdice – pela criação de uma figura dupla – «Sonho que sou a Poetisa eleita» (in Vaidade – Livro de Mágoas) (…) Essa figura, sem atingir o estatuto do heterónimo pessoano, inscreve-se no entanto dentro do mesmo espaço fenomenológico, ou seja, reflecte a crise do sujeito – e da sinceridade poética – que obriga à constatação, perfeitamente moderna, de que a única forma que o Poeta tem de conseguir afirmar a sua subjectividade é anular o seu Eu e projectar-se num Outro».


Aqui interessa sublinhar dois pontos no que se refere às observações de Nuno Júdice: este autor faz a ligação entre o conteúdo da poesia de Florbela e a forma (enriquecida) dentro do verso / poema. Ora, é nosso entender, que o campo temático nada tem a ver com a estética interior do poema de forma a determinar através de uma conjunção reflexa a avaliação dessa mesma estética. Qualquer que seja o campo temático que se enquadre e que se ajuste mantendo-se a forma como plástica do belo o enriquecimento existe…


Ainda, e por outro lado, não existe qualquer anulação do Eu Florbeliano através da introdução do Outro (Florbeliano). E importa esclarecer este aspecto porquanto a anulação / aniquilação hegeliana do ser enquanto ser está fora de causa (aqui trata-se do ser do eu, ou seja da substância do eu) e qualquer conceito de anulação só pode entrar no campo defendido por W. Dilthey em que a anulação do eu implica a sua entrega perante a predominância do outro ou dos outros como ser antropológico ou ser inserido num processo que já não é do eu em si mas do outro em si.


Confusão esta que parece ser partilhada por alguns autores que sobre Florbela têm escrito também como veremos mais à frente. Uma coisa é, e será sempre, o eu e o outro enquanto outro de mim e outra coisa totalmente distinta será o outro enquanto outro, que pelo facto de ser originalmente de mim e continuar a ser cada vez mais remotamente se afasta do eu inicial ou do eu de partida passando a conter já não o eu substante mas sim as replicações sucessivas e de qualidades diferentes do eu dentro do outro de mim.

Leia este tema completo a partir de 07/03/2011

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