Conto extremamente triste - Reflexão de Michel Crayon
Eu estou extrema-mente triste, aliás estou sempre extre-mamente triste quando estou triste, não sou de meias tintas nem de alusões afeminadas do género estou tristinho, ou tenha uma neurazinha, ou mais intelectualmente estou deprimido.
Nada disso, quando estou triste é mesmo para valer, de meter o beiço caído até ao chão, de arrastar as mágoas em lamentos lancinantes, de ir à varanda e gritar: estou triste como o caraças, pô !! (Ia escrever porra mas acho que era demasiado alegre).
Pois bem, dentro desta alarvidade de tristeza não há gota de alegria que entre, mesmo que ela esteja a chover. O meu corpo e a minha mente fecham-se, encarquilham-se, é o termo, curvam-se sobre si mesmos e servem de ricochete a toda a possibilidade de alegria que ronde pelas proximidades. Um sorriso, mesmo daqueles simpáticos que noutras alturas me comovem tem o mesmo tratamento durante a minha tristeza do que um palavrão, do que uma bofetada com luva, do que um - mesmo pequeno que seja - aumento dos impostos ou do preço do tabaco.
Para mim estar triste é isso mesmo, sofrer até à última gota esse manancial de tristeza, tê-la nas mãos e jogar com ela, acompanhá-la a todos os momentos (mesmo quando vai à casa de banho), almoçar com ela, a tristeza, e jogar-lhe a mão retendo-a para que ela se não levante da mesa antes de mim. Aliás temos que levantar a mesa e lavar os pratos e por aqui não há baldas.
Por isso, e dada a prática e análise sempre aprofundada que faço, acho que das pessoas que conheço ninguém consegue estar tão triste quanto eu quando está triste. Aliás, é com algum desgosto (e mesmo menosprezo agora que ninguém me lê) que verifico que uma larga maioria das pessoas que conheço e que se põem tristes, muitas vezes por dá cá aquela palha, são simples amadores nesta coisa da tristeza.
Provavelmente isso nasceu com eles, a tal fraca potencialidade para estarem tristes, ou ainda, o que seria muito mais chato, estão tristes, dizem-me que estão tristes, mas de facto não estão tristes. E claro que a algumas pessoas eu topo-as logo, não sou parvo, mas outras conseguem de facto ser convincentes ao ponto de me convencerem que estão mesmo tristes e é nessas alturas que eu levanto os ombros, coloco as mãos em estilo de apanhar (ou prece árabe) e lhes pergunto:
E é isso (?), isso é que é estar triste? Caramba (!) não há tristeza como a minha.
Eu estou extrema-mente triste, aliás estou sempre extre-mamente triste quando estou triste, não sou de meias tintas nem de alusões afeminadas do género estou tristinho, ou tenha uma neurazinha, ou mais intelectualmente estou deprimido.
Nada disso, quando estou triste é mesmo para valer, de meter o beiço caído até ao chão, de arrastar as mágoas em lamentos lancinantes, de ir à varanda e gritar: estou triste como o caraças, pô !! (Ia escrever porra mas acho que era demasiado alegre).
Pois bem, dentro desta alarvidade de tristeza não há gota de alegria que entre, mesmo que ela esteja a chover. O meu corpo e a minha mente fecham-se, encarquilham-se, é o termo, curvam-se sobre si mesmos e servem de ricochete a toda a possibilidade de alegria que ronde pelas proximidades. Um sorriso, mesmo daqueles simpáticos que noutras alturas me comovem tem o mesmo tratamento durante a minha tristeza do que um palavrão, do que uma bofetada com luva, do que um - mesmo pequeno que seja - aumento dos impostos ou do preço do tabaco.
Para mim estar triste é isso mesmo, sofrer até à última gota esse manancial de tristeza, tê-la nas mãos e jogar com ela, acompanhá-la a todos os momentos (mesmo quando vai à casa de banho), almoçar com ela, a tristeza, e jogar-lhe a mão retendo-a para que ela se não levante da mesa antes de mim. Aliás temos que levantar a mesa e lavar os pratos e por aqui não há baldas.
Por isso, e dada a prática e análise sempre aprofundada que faço, acho que das pessoas que conheço ninguém consegue estar tão triste quanto eu quando está triste. Aliás, é com algum desgosto (e mesmo menosprezo agora que ninguém me lê) que verifico que uma larga maioria das pessoas que conheço e que se põem tristes, muitas vezes por dá cá aquela palha, são simples amadores nesta coisa da tristeza.
Provavelmente isso nasceu com eles, a tal fraca potencialidade para estarem tristes, ou ainda, o que seria muito mais chato, estão tristes, dizem-me que estão tristes, mas de facto não estão tristes. E claro que a algumas pessoas eu topo-as logo, não sou parvo, mas outras conseguem de facto ser convincentes ao ponto de me convencerem que estão mesmo tristes e é nessas alturas que eu levanto os ombros, coloco as mãos em estilo de apanhar (ou prece árabe) e lhes pergunto:
E é isso (?), isso é que é estar triste? Caramba (!) não há tristeza como a minha.
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