Alzheimer – Recordações de uma vida - Por Arlete Piedade
O velho homem, recebeu-me sorridente á porta do seu apartamento e estendeu-me a mão num cumprimento caloroso, convidando-me a entrar. Lá do quarto, a idosa e quase inválida esposa, murmurou qualquer coisa numa voz quase inaudível, querendo também chamar-me a atenção para ser consolada após uma noite de dores e sonos interrompidos.
Entrei e dirigi-me á cozinha, depois de dar uns bons dias carinhosos á ex-enfermeira, que tinha prestado serviço no hospital do estado numa cidade angolana, ao lado do seu marido, também antigo enfermeiro agora reformado e doente com a famigerada doença de Alzheimer.
Depois de servir o pequeno almoço e ajudar na higiene matinal da senhora doce e carente de atenções que a família não podia prestar a tempo inteiro por razões da vida profissional dos tempos modernos, que nos deixaram a quase todos sem tempo para dedicar aos mais velhos, dirigi-me á cozinha, para confeccionar o almoço do casal, ao qual eu me juntaria.
Estava na altura de ir escutando as recordações do velho senhor, que embora doente de Alzheimer, e muitas vezes esquecendo-se qual a utilidade das coisas no seu lar, recordava com todos os detalhes acontecimentos dos tempos áureos em que vivia em Angola, entre os anos de 1956 a 1974, em que a exemplo de muitos portugueses naquela época, teve que regressar devido á revolução do 25 de Abril desse ano.
Naquele dia era a recordação de um tornado que atravessou a rua principal da cidade, na hora do almoço, em que se dirigia a pé do hospital onde trabalhava, para a sua habitação para almoçar. No meio da rua, dois negros transportavam um depósito de água de 100 litros, destinado ao serviço da sua patroa, para cozinhar e limpar.
A água corrente era luxo de poucos, mas devido á população negra ser largamente superior em número aos brancos era comum, os casais brancos terem serviçais negros para o serviço doméstico, para os trabalhos mais pesados, como ir buscar água, lenha, cozinhar, tratar dos animais domésticos, entre outras.
Então rindo, lá me contava ele como tentava correr pela rua para se desviar do tornado mas devido a uma dor ciática de que padecia e que o fazia coxear, não conseguia correr e a sua esposa da janela da moradia a algumas centenas de metros, assistia a tudo gritando aterrorizada e mandando-o fugir do caminho do fenómeno meteorológico.
Leia este tema completo a partir de 04/10/2010
O velho homem, recebeu-me sorridente á porta do seu apartamento e estendeu-me a mão num cumprimento caloroso, convidando-me a entrar. Lá do quarto, a idosa e quase inválida esposa, murmurou qualquer coisa numa voz quase inaudível, querendo também chamar-me a atenção para ser consolada após uma noite de dores e sonos interrompidos.
Entrei e dirigi-me á cozinha, depois de dar uns bons dias carinhosos á ex-enfermeira, que tinha prestado serviço no hospital do estado numa cidade angolana, ao lado do seu marido, também antigo enfermeiro agora reformado e doente com a famigerada doença de Alzheimer.
Depois de servir o pequeno almoço e ajudar na higiene matinal da senhora doce e carente de atenções que a família não podia prestar a tempo inteiro por razões da vida profissional dos tempos modernos, que nos deixaram a quase todos sem tempo para dedicar aos mais velhos, dirigi-me á cozinha, para confeccionar o almoço do casal, ao qual eu me juntaria.
Estava na altura de ir escutando as recordações do velho senhor, que embora doente de Alzheimer, e muitas vezes esquecendo-se qual a utilidade das coisas no seu lar, recordava com todos os detalhes acontecimentos dos tempos áureos em que vivia em Angola, entre os anos de 1956 a 1974, em que a exemplo de muitos portugueses naquela época, teve que regressar devido á revolução do 25 de Abril desse ano.
Naquele dia era a recordação de um tornado que atravessou a rua principal da cidade, na hora do almoço, em que se dirigia a pé do hospital onde trabalhava, para a sua habitação para almoçar. No meio da rua, dois negros transportavam um depósito de água de 100 litros, destinado ao serviço da sua patroa, para cozinhar e limpar.
A água corrente era luxo de poucos, mas devido á população negra ser largamente superior em número aos brancos era comum, os casais brancos terem serviçais negros para o serviço doméstico, para os trabalhos mais pesados, como ir buscar água, lenha, cozinhar, tratar dos animais domésticos, entre outras.
Então rindo, lá me contava ele como tentava correr pela rua para se desviar do tornado mas devido a uma dor ciática de que padecia e que o fazia coxear, não conseguia correr e a sua esposa da janela da moradia a algumas centenas de metros, assistia a tudo gritando aterrorizada e mandando-o fugir do caminho do fenómeno meteorológico.
Leia este tema completo a partir de 04/10/2010
Cara Arlete, que fada és,
ResponderEliminarLindo oseu relato. Esse mal parece querer instalar-se nas pessoas que mais precisam da presença de afeto e carinho.
Convido a todos:
-Vamos nos irmanar nessa tarefa?
Quase todos os domingos vou passear com meu vô, é a minha contribuição. Em 26 de março de 2011 irá completar 92 anos.
ResponderEliminar