domingo, 17 de outubro de 2010

Coluna: Antônio Carlos Affonso dos Santos. ACAS, o Caipira Urbano. - PERSONAGENS DO BRASIL – O CEGO ADERALDO

Coluna: Antônio Carlos Affonso dos Santos. ACAS, o Caipira Urbano. - PERSONAGENS DO BRASIL – O CEGO ADERALDO


Ao tempo em que Elis Regina, que se estivesse viva faria 66 anos de idade neste mês de março do ano de 2011, apresentava o Programa «O fino da Bossa», na TV Record de São Paulo, ela me impressionou com uns versos de cantadores nordestinos. Era um trecho de uma contenda (desafio) entre o Cego Deraldo e Zé Pretinho. Eu, que sempre adorei – e adoro - a Elis, extasiei-me diante daquelas falas tão coerentes, ao mesmo tempo em que banalizava o conteúdo da fala do oponente.

A saber:
-Cego Deraldo: «Arre com tanta conversa, desse nego capivara/Não há quem cuspa pra cima, que não lhe caia na cara/Quem a paca cara compra, pagará a paca cara...»
-Zé Pretinho: «Cego seu mote é «facinho», digo e vou comprovar/Quem a paca cara compra, cara a paca pagará..»

E segue:
-Zé Pretinho: «Eu vou mudar de toada, pra uma que mete medo/Nunca encontrei cantador, que desmanchasse esse enredo/É um dedo é um dado é um dia, é um dia é um dado é um dedo...»
-Cego Deraldo: «Zé Preto, este teu enredo te serve de zombaria/Tu hoje cegas de raiva/O diabo é teu guia/É um dia é um dedo é um dado, é um dado é um dedo é um dia...»
(Consta em várias publicações que 80.000 réis foram divididos entre os dois cantadores nessa noite. O ano era 1914!!!!!!!!!!!!!)

QUEM ERA O CEGO ADERALDO?

Aderaldo Ferreira de Araújo, o cego Aderaldo (alguns o tratam como Deraldo), nasceu na cidade do Crato (CE), em 24 de junho de 1878 e morreu em Fortaleza (CE) em 29 de junho de 1967; portanto aos 89 anos de idade. Consta-se que ainda recém nascido foi morar em Quixadá (CE).

O cego Aderaldo nunca se casou, porém criou 24 filhos adotivos, muitos deles viajavam com o cantador pelos sertões nordestinos, onde Aderaldo mostrava (e vendia) sua arte..
Em 1914, disputou o desafio, famosíssimo, com o cantador Zé Pretinho, do Piauí (vide também inicio e final deste artigo). Tal desafio os tornou consagrados, pois os versos foram registrados (e publicados na literatura de cordel), pelo cordelista Firmino Teixeira do Amaral, com o título de «A Peleja do Cego Aderaldo e Zé Pretinho».
As trovas apresentadas no intróito deste artigo fazem parte de tal publicação, histórica, do cordelista Firmino, de cujo original que se encontra no site do Ministério da Educação - onde está materializado (link).
Analisando antiga edição da revista «O Cruzeiro», em texto de Rachel de Queiróz, de 3 de outubro de 1959, conheci um pouco mais o cego Aderaldo, também conhecido por «Cego Aderaldo». Vou tentar aqui sintetizar tudo que a imortal escritora falou a respeito desse «vivente».

Leia este tema completo a partir de 18/10/2010

1 comentário:

  1. Uma satisfação enorme tenho ao ler textos como este sobre o cego Aderaldo e , em decorrência, sobre a cultura popular que viça neste nordeste brasileiro. Parabéns à equipe da Raiz on line.

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