Dois Contos - Por Emerson Wiskow - Omeletes (Parte 1 e 2) - A cidade que lembrava Arles
OMELETES - Parte 1
OMELETES - Parte 1
A televisão estava ligada enquanto Marlene fazia alguns omeletes para o nosso jantar. Conheci Marlene em uma festa e logo que a vi fiquei atraído por aquela morena de quadril largo, bunda grande e rosto bonito. Ela estava parada, sozinha, fumando um cigarro quando eu resolvi abordá-la. Convidei-a para beber uma cerveja comigo, ela aceitou e hoje está aqui, preparando um omelete para nós dois.
Marlene vive reclamando do seu quadril, diz que é muito grande, reclama da sua celulite, fala que é muito bunduda. Eu adoro a sua celulite, o seu quadril largo e a sua grande bunda. Aprendi a gostar dos seus omeletes. Era a única coisa que ela sabia fazer - omeletes -. Marlene sempre comentava: «E é só quebrar alguns ovos, bater, colocar um salzinho e o omelete está pronto».
Marlene não gostava de cozinhar, sempre pensei em ter uma mulher que soubesse cozinhar. Mas daí apareceram os quadris, as bundas grandes e os cabelos negros. Não se pode ter tudo, saber cozinhar para mim ficou em segundo, terceiro plano. Então comecei a comer os omeletes que Marlene preparava, e para falar a verdade eu não os agüentava mais. Mesmo assim eu continuava comendo e dizendo que estava ótimo. Ah! O amor...
A cidade que lembrava Arles
Cheguei num dia muito claro. Havia luminosidade por todos os lados, uma luz prateada que se refletia nas vidraças das lojas, nas janelas e nos automóveis. Um belo dia de primavera.
Tive a sensação de estar em Arles e que a qualquer momento encontraria Van Gogh andando pelas calçadas com alguma tela debaixo do braço. Mas a verdade é que a cidade não era Arles e não que havia mais Van Goghs. Então saí andando pelo centro da cidade a procura de um lugar para me alojar.
Ainda não sabia muito bem quanto tempo eu ficaria na cidade. Meus olhos ardiam sob aquela luminosidade, às vezes, dependendo para onde eu olhava eles lacrimejavam como se chorassem pela perda de um grande amor. Bom, eu já havia perdido alguns e muitas vezes não conseguira chorar. Talvez fosse uma espécie de efeito retardado.
Continuei andando até encontrar uma pequena pensão muito antiga, localizada numa rua também muito antiga, calçada com pedras que dizem serem do tempo de D. Pedro II. Parece que eu estava rodeado por história. A luz da cidade remetia a Van Gogh, as pedras a D. Pedro II. O quarto não lembrava nada. Era um desses simples moquifos baratos.
Abri a janela e deixei entrar no quarto aquela luz maravilhosa, os raios de sol fizeram um lastro de luz e poeira como se fossem espectros navegando, flutuando. Eu ainda não tinha desistido de escrever. Quer dizer, ainda estava tentando escrever alguma coisa e pretendia escrever alguns contos por ali. No resto era vagabundar no melhor estilo Henry Miller.
Depois de abrir a janela resolvi me jogar na cama e descansar um pouco. Eu estava quebrado, com o corpo moído por causa da viagem de ônibus. Acabei adormecendo como uma personagem de conto de fadas. Não com lindos cabelos loiros e com o corpo cheirando a suaves flores do campo, mas fedendo a suor e com cabelos desgrenhados. Além de estar com o rabo quase assado por causa do calor.
No meio da tarde, por volta das quatro horas acordei com o som alto que vinha do quarto ao lado. Alguém estava com a corda toda ouvindo Bruno e Marrone. Reconheci logo, claro, muitas vezes eu ouvira aquela música nos inferninhos que eu frequentara. Eu era um mestre nisso. Um mestre da chinelagem. O pretenso escritor que passava noites ouvindo músicas de corno, fumando e bebendo cerveja rodeado por putas. Era uma beleza.
Leia este tema completo a partir de 11/10/2010
Marlene vive reclamando do seu quadril, diz que é muito grande, reclama da sua celulite, fala que é muito bunduda. Eu adoro a sua celulite, o seu quadril largo e a sua grande bunda. Aprendi a gostar dos seus omeletes. Era a única coisa que ela sabia fazer - omeletes -. Marlene sempre comentava: «E é só quebrar alguns ovos, bater, colocar um salzinho e o omelete está pronto».
Marlene não gostava de cozinhar, sempre pensei em ter uma mulher que soubesse cozinhar. Mas daí apareceram os quadris, as bundas grandes e os cabelos negros. Não se pode ter tudo, saber cozinhar para mim ficou em segundo, terceiro plano. Então comecei a comer os omeletes que Marlene preparava, e para falar a verdade eu não os agüentava mais. Mesmo assim eu continuava comendo e dizendo que estava ótimo. Ah! O amor...
A cidade que lembrava Arles
Cheguei num dia muito claro. Havia luminosidade por todos os lados, uma luz prateada que se refletia nas vidraças das lojas, nas janelas e nos automóveis. Um belo dia de primavera.
Tive a sensação de estar em Arles e que a qualquer momento encontraria Van Gogh andando pelas calçadas com alguma tela debaixo do braço. Mas a verdade é que a cidade não era Arles e não que havia mais Van Goghs. Então saí andando pelo centro da cidade a procura de um lugar para me alojar.
Ainda não sabia muito bem quanto tempo eu ficaria na cidade. Meus olhos ardiam sob aquela luminosidade, às vezes, dependendo para onde eu olhava eles lacrimejavam como se chorassem pela perda de um grande amor. Bom, eu já havia perdido alguns e muitas vezes não conseguira chorar. Talvez fosse uma espécie de efeito retardado.
Continuei andando até encontrar uma pequena pensão muito antiga, localizada numa rua também muito antiga, calçada com pedras que dizem serem do tempo de D. Pedro II. Parece que eu estava rodeado por história. A luz da cidade remetia a Van Gogh, as pedras a D. Pedro II. O quarto não lembrava nada. Era um desses simples moquifos baratos.
Abri a janela e deixei entrar no quarto aquela luz maravilhosa, os raios de sol fizeram um lastro de luz e poeira como se fossem espectros navegando, flutuando. Eu ainda não tinha desistido de escrever. Quer dizer, ainda estava tentando escrever alguma coisa e pretendia escrever alguns contos por ali. No resto era vagabundar no melhor estilo Henry Miller.
Depois de abrir a janela resolvi me jogar na cama e descansar um pouco. Eu estava quebrado, com o corpo moído por causa da viagem de ônibus. Acabei adormecendo como uma personagem de conto de fadas. Não com lindos cabelos loiros e com o corpo cheirando a suaves flores do campo, mas fedendo a suor e com cabelos desgrenhados. Além de estar com o rabo quase assado por causa do calor.
No meio da tarde, por volta das quatro horas acordei com o som alto que vinha do quarto ao lado. Alguém estava com a corda toda ouvindo Bruno e Marrone. Reconheci logo, claro, muitas vezes eu ouvira aquela música nos inferninhos que eu frequentara. Eu era um mestre nisso. Um mestre da chinelagem. O pretenso escritor que passava noites ouvindo músicas de corno, fumando e bebendo cerveja rodeado por putas. Era uma beleza.
Leia este tema completo a partir de 11/10/2010
Gostei imenso do conto "Omeletes". É trágico, duro, humano, verdadeiro, cruel, denso, dramático... .Tomara que mulheres como a Marlene, protagonista do texto, não se vão quando desenhistas de cartuns , subempregados, desempregados e outros menos felizes, quando esses estiverem em tal situação. E as mulheres, que enfeitam o nosso planeta e completam nossas vidas, saibam ter paciência e aguardem por dias melhores.
ResponderEliminarOxalá!