Amazônia: Era Uma Vez no Futuro? - Marina Silva - Enviado por Alexandre Pimentel
Marina visualiza o potencial positivo do Brasil neste texto de 1997. O texto Amazônia: Era uma Vez no Futuro? ... foi publicado pela primeira vez no volume «O Livro da Profecia, o Brasil no Terceiro Milênio», Vários Autores, Senado Federal , 973 pp., 1997, pp. 517-521.
Nasci na floresta e nela vivi até os 16 anos. Formei a base de minha personalidade num ambiente marcado pelo silêncio, a intuição e a religiosidade. Depois vim para a cidade e vivi o oposto: estridência, racionalidade, exposição, materialismo. Levou tempo até que as contradições fossem encontrando, dentro de mim, alguma serenidade.
Marina visualiza o potencial positivo do Brasil neste texto de 1997. O texto Amazônia: Era uma Vez no Futuro? ... foi publicado pela primeira vez no volume «O Livro da Profecia, o Brasil no Terceiro Milênio», Vários Autores, Senado Federal , 973 pp., 1997, pp. 517-521.
Nasci na floresta e nela vivi até os 16 anos. Formei a base de minha personalidade num ambiente marcado pelo silêncio, a intuição e a religiosidade. Depois vim para a cidade e vivi o oposto: estridência, racionalidade, exposição, materialismo. Levou tempo até que as contradições fossem encontrando, dentro de mim, alguma serenidade.
Hoje sou um rio, que junta as contribuições de diversos afluentes e vai se matizando aos poucos, crescendo com a diversidade. Entre enchentes e vazantes, tempestades e calmarias, descubro e faço o meu caminho, vencendo alguns obstáculos e contornando outros. E agradeço a oportunidade que a vida me deu de conhecer duas margens, floresta e cidade, razão e intuição.
Encontrei num livro de Krishnamurti a seguinte frase: «O que sois o mundo é.» De fato, costumamos atribuir ao mundo exterior os dilemas que na verdade se encontram dentro de nós mesmos. Mas como isso é inevitável, e como tenho encontrado muita concordância em muitas pessoas, ouso dizer que as contradições que vivi não são apenas minhas, mas de toda a humanidade. E nestes tempos de desastres ecológicos é impossível não perceber que o impasse entre civilizações e natureza chegou ao seu ponto mais agudo - ou está perto disso.
Todo o futuro depende da solução desse impasse. Mesmo uma solução parcial e provisória já é bem-vinda, pois nos faz ganhar tempo, um tempo precioso no qual podemos renovar forças e buscar alternativas.
Não se trata de anunciar o apocalipse ou prever catástrofes, mas está claro que já estamos vivendo significativas mudanças nos alicerces da vida. As alterações ambientais estão mudando as condições de sobrevivência. O esgotamento do petróleo levará à descoberta de novas fontes de energia. O crescimento populacional e as migrações já estão tornando obsoletos os mapas e os livros de geografia. As comunicações e a informática estão modificando as culturas. O avanço da biotecnologia já propicia o surgimento de novas formas de vida, ferindo, inclusive, condutas éticas historicamente consolidadas.
Encontrei num livro de Krishnamurti a seguinte frase: «O que sois o mundo é.» De fato, costumamos atribuir ao mundo exterior os dilemas que na verdade se encontram dentro de nós mesmos. Mas como isso é inevitável, e como tenho encontrado muita concordância em muitas pessoas, ouso dizer que as contradições que vivi não são apenas minhas, mas de toda a humanidade. E nestes tempos de desastres ecológicos é impossível não perceber que o impasse entre civilizações e natureza chegou ao seu ponto mais agudo - ou está perto disso.
Todo o futuro depende da solução desse impasse. Mesmo uma solução parcial e provisória já é bem-vinda, pois nos faz ganhar tempo, um tempo precioso no qual podemos renovar forças e buscar alternativas.
Não se trata de anunciar o apocalipse ou prever catástrofes, mas está claro que já estamos vivendo significativas mudanças nos alicerces da vida. As alterações ambientais estão mudando as condições de sobrevivência. O esgotamento do petróleo levará à descoberta de novas fontes de energia. O crescimento populacional e as migrações já estão tornando obsoletos os mapas e os livros de geografia. As comunicações e a informática estão modificando as culturas. O avanço da biotecnologia já propicia o surgimento de novas formas de vida, ferindo, inclusive, condutas éticas historicamente consolidadas.
E, sobretudo, os desdobramentos sociais de uma nova (des) ordem econômica parecem criar um abismo entre as populações e países, radicalizando a velha fórmula: os ricos mais ricos, os pobres mais pobres. Enfim, em poucas décadas, uma humanidade diferente desta viverá num planeta diferente deste. E ainda não está decidido se isso será terrível ou maravilhoso, se continuaremos juntos ou cada vez mais divididos em dois mundos, de incluídos e excluídos.
Leia este tema completo a partir de 11/10/2010
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