Conspiração - Conto por Roberto Kusiak
Palácio do Javali, 24 de agosto de 1954.
O inverno rigoroso finalmente se rendia para um dia ensolarado. As pastagens ainda estavam secas, queimadas pelas geadas intensas que castigaram os pampas. O gado na pradaria aos poucos se recuperava, graças à silagem estocada nos enormes galpões da fazenda. Os pessegueiros já davam sinais de que em breve a primavera coloriria outra vez aquelas coxilhas com seu verde exuberante, pontilhado de pingos roxos das azedinhas. Algumas cotias já rondavam os jardins, um pouco tímidas. Ao longe, o quero-quero tentava despistar um chimango que rondava seu ninho.
Deitado em sua rede, sorvia um chimarrão na cuia uruguaia, sua preferida, enfeitada com um bocal de prata para acompanhar a bomba, encomenda que havia feito dois meses antes. Tinha o pensamento longe que, vez que outra, era quebrado pelo relinchar dos potros no alto da coxilha.
A situação no país estava lhe tirando o sono. Sabia em seu íntimo que havia uma conspiração contra si. «Coisa da elite café-com-leite, que não aceita a liberdade que dei ao povo, à nação, rompi grilhões, dei direitos nunca antes almejados pelo sofrido povo. Os militares. Há dedo dos militares nessa história. Já mataram o Alcântara. O Manoel está certo, vou precisar das forças do exército do sul. Se pensam que me entregarei aos comunas, estão enganados».
Jarbas veio lhe trazer outra chaleira com água quente para que continuasse a apreciar seu «mate», cevado com erva da própria fazenda.
- Deseja mais alguma coisa, senhor?
- Peça para o Antenor encilhar o Ruano. Avise também o Libório para dar uma espiada lá no Cantão. Desconfio que tenha algum comuna rondando por aí.
- Sim senhor. O Manfredo lhe mandou um telegrama reafirmando seu apoio. Ele está vindo para cá. O restante dos Ministros continua mantendo a sua renúncia.
- Eles não vão me derrubar, Jarbas. Estão enganados. Um taura não se entrega tão fácil numa peleia. Não podemos se entregar pros home de jeito nenhum.
- Com sua licença, senhor.
Leia este tema completo a partir de 25/10/2010
Palácio do Javali, 24 de agosto de 1954.
O inverno rigoroso finalmente se rendia para um dia ensolarado. As pastagens ainda estavam secas, queimadas pelas geadas intensas que castigaram os pampas. O gado na pradaria aos poucos se recuperava, graças à silagem estocada nos enormes galpões da fazenda. Os pessegueiros já davam sinais de que em breve a primavera coloriria outra vez aquelas coxilhas com seu verde exuberante, pontilhado de pingos roxos das azedinhas. Algumas cotias já rondavam os jardins, um pouco tímidas. Ao longe, o quero-quero tentava despistar um chimango que rondava seu ninho.
Deitado em sua rede, sorvia um chimarrão na cuia uruguaia, sua preferida, enfeitada com um bocal de prata para acompanhar a bomba, encomenda que havia feito dois meses antes. Tinha o pensamento longe que, vez que outra, era quebrado pelo relinchar dos potros no alto da coxilha.
A situação no país estava lhe tirando o sono. Sabia em seu íntimo que havia uma conspiração contra si. «Coisa da elite café-com-leite, que não aceita a liberdade que dei ao povo, à nação, rompi grilhões, dei direitos nunca antes almejados pelo sofrido povo. Os militares. Há dedo dos militares nessa história. Já mataram o Alcântara. O Manoel está certo, vou precisar das forças do exército do sul. Se pensam que me entregarei aos comunas, estão enganados».
Jarbas veio lhe trazer outra chaleira com água quente para que continuasse a apreciar seu «mate», cevado com erva da própria fazenda.
- Deseja mais alguma coisa, senhor?
- Peça para o Antenor encilhar o Ruano. Avise também o Libório para dar uma espiada lá no Cantão. Desconfio que tenha algum comuna rondando por aí.
- Sim senhor. O Manfredo lhe mandou um telegrama reafirmando seu apoio. Ele está vindo para cá. O restante dos Ministros continua mantendo a sua renúncia.
- Eles não vão me derrubar, Jarbas. Estão enganados. Um taura não se entrega tão fácil numa peleia. Não podemos se entregar pros home de jeito nenhum.
- Com sua licença, senhor.
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