domingo, 30 de janeiro de 2011

COLUNA UM - Daniel Teixeira - A dispersão da notícia

COLUNA UM - Daniel Teixeira - A dispersão da notícia

Desde longos tempos que o homem teve a necessidade de tornar públicas alguns aspectos da sua vida pessoal ou da sua comunidade exteriorizando essas mesmas noticias de acontecimentos de forma a que «se saiba».

Exemplos da publicidade dos actos nos tempos modernos não faltam e da sua eficácia enquanto forma também não faltam: em teoria temos a obrigação de saber todas as leis, decretos e regulamentos publicados em jornal oficial ou meio tido como tal (a internet por exemplo) e por vezes não se chega bem a saber se o objectivo da publicação não é precisamente o de tornar desconhecido ou sem importância visível para nós dados factos que até nos interessam e dos quais vimos a tomar conhecimento no emaranhado noticioso se acontece a «sorte» de alguém lhe notar uma dada incongruência (normalmente coisa que vá contra o seu próprio interesse ou do grupo no qual se insere).

O primeiro jornal conhecido ou pelo menos mais conhecido era em pedra esculpida e destinava-se a informar os cidadãos de Roma de dados decretos, normalmente lançamento de novos impostos mais pesados - ou mais leves, até podia acontecer, não (?).

Igualmente e por estranha curiosidade que não será assim tão estranha se virmos a importância que dados cidadãos tinham em Roma, havia também uma secção de Necrologia noticiando os falecimentos desses mesmos cidadãos mais importantes. Acho que o canteiro (profissional no retalho da pedra e não espaço de flores) não tinha (m) como é evidente voz activa sobre aquilo que publicava(m) e era um ou vários mero(s) artesão(ões) que disso tratavam na maior ou na menor dependendo das condições de trabalho.

Mas, de uma forma ou de outra, e metendo um pouco de imaginação aqui e tendo em consideração os laços de apadrinhamento e afilhamento que existiam em Roma e que ainda existem por todo o lado parece-me claro que pelo menos o «mestre» dos canteiros cortadores da pedra noticiosa tinha grandes possibilidades de ser contactado por outros poderosos para escalar e dar relevo a fulano (morto) seu conhecido ou seu padrinho do que iria depois poder dar a outro fulano igualmente falecido.

O tempo não sendo elástico é lógico que as coisas se pensem assim. O meu problema aqui passada esta parte histórica (um pouco macabra mas tão distante que não se nota muito) é, esse meu problema, o de fazer notar uma forma de dar relevo a uma coisa (uma noticia mortuária) que no fundo não trazia benefício nenhum ao falecido (isto visto pelos nossos olhos porque naquele tempo as comendas aos deuses tinham alguma importância) e que acabava, mesmo talhada na pedra, por ser efémera: no dia seguinte ou na semana seguinte um novo rol de falecidos (e de impostos) era mandado para publicação e tudo passava a zero quase absoluto em termos de perenidade.

Ora o tema desta crónica é a dispersão da noticia e parece-me que não ando de todo afastado do sumário inicial: quer dizer, se uns eram elevados a posições mais favoráveis no jornal outros eram, logicamente, relegados para posições menos favoráveis. Este facto seria sempre fatal, quer dizer, teria sempre de acontecer, porque na «folha» da pedra existem posições de texto de mais fácil leitura que outros. O problema é que por este sistema da cunha se contrariava a ordem natural das coisas: talvez a cronologia da ordem de chegada das noticias, por exemplo, em condições de igualdade relativa de estatutos.

Leia este tema completo a partir de 31/1/2011

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