Um Conto - Por Emerson Wiskow - Noite negra
Bebeu o último gole. Olhou para o lado e sorriu com os olhos de louco. Olhou para a garrafa vazia, depois lançou-a longe com um grande movimento de braço. Sorriu novamente ao ouvir o som da garrafa estilhaçando-se. Era o som de vidro quebrando-se no meio da noite quente. Solidão. Lançou jorros de vômito sobre a vegetação e sobre algumas pedras.
Os olhos encheram-se de lágrimas. Tristeza. Queria estar sobre uma velha ponte medieval feita de pedras, com um rio escuro deslizando lá embaixo, misterioso, perigoso na sua calma aparente. Suicida. Enfiou a mãos nos bolsos da calça suja, velha, puída, e dançou os dedos lá dentro numa procura cega. Tato. Procurou a carteira amassada de cigarros. Retirou-a do bolso com dificuldade, abriu e examinou com esperança. Havia poucos cigarros.
Desanimou-se ainda mais. Quatro cigarros para uma noite de faltas. Acendeu um cigarro e deu uma tragada, depois arrastou o corpo cansado em direção ao centro da cidade. Lá, encontrou movimento, barulho, festa. Andou no meio da multidão suada, elétrica. Passou por uma turma de mulheres que requebravam os quadris, balançavam grandes bundas enfiadas dentro de pequenos shorts e calças coladas ao corpo.
Dançavam lentamente, como se estivessem ensaiando uma dança de acasalamento, sensuais, eróticas. Os corpos suados, elas fumavam, bebiam e dançavam. Alguns vendedores gritavam, anunciavam suas cervejas, cachaças disso e daquilo. Mistura de odores, suor, fumaça de cigarro, maconha, churrasquinho, gordura, cheiro de xampu de puta. Cabelos molhados.
Continuou andando enquanto fumava, tragava e lançava fumaça ao ar. Desviava-se das pessoas com dificuldade. Andou mais e parou diante da multidão. Louco e cansado. Tossiu e desejou matar alguém. Torcia as mãos nervosamente, com força, as veias saltavam-lhe sob a pele vermelha. Parou novamente, a multidão continuava contorcendo-se à sua volta. Homens embriagados, mulheres, algumas crianças, o som explodia.
Partículas de tensão, energia, tudo vibrava como numa febre. Um estranho prazer de tirar uma vida tomava conta do seu corpo. Nunca tinha cometido um assassinato. Agora, desejava ardentemente matar. Tirar uma vida. Desejava chegar ao ponto máximo de sua ação, chegar a um êxtase que pensava poder sentir ao praticar tal ato.
Chegou a deliciar-se com tais pensamentos. Ver um vida esvair-se em suas mãos, o olhar suplicante e angustiado, o desespero e terror no rosto de sua vítima. Voltou a andar, escolhendo, procurando. Sentiu seu coração bater com mais força, ansioso. Parou em uma barraca de bebidas e comprou um copo de cachaça. Bebeu um gole e com os olhos vidrados examinou o movimento das pessoas. Sabia que iria matar.
Leia este tema completo a partir de 31/1/2011
Bebeu o último gole. Olhou para o lado e sorriu com os olhos de louco. Olhou para a garrafa vazia, depois lançou-a longe com um grande movimento de braço. Sorriu novamente ao ouvir o som da garrafa estilhaçando-se. Era o som de vidro quebrando-se no meio da noite quente. Solidão. Lançou jorros de vômito sobre a vegetação e sobre algumas pedras.
Os olhos encheram-se de lágrimas. Tristeza. Queria estar sobre uma velha ponte medieval feita de pedras, com um rio escuro deslizando lá embaixo, misterioso, perigoso na sua calma aparente. Suicida. Enfiou a mãos nos bolsos da calça suja, velha, puída, e dançou os dedos lá dentro numa procura cega. Tato. Procurou a carteira amassada de cigarros. Retirou-a do bolso com dificuldade, abriu e examinou com esperança. Havia poucos cigarros.
Desanimou-se ainda mais. Quatro cigarros para uma noite de faltas. Acendeu um cigarro e deu uma tragada, depois arrastou o corpo cansado em direção ao centro da cidade. Lá, encontrou movimento, barulho, festa. Andou no meio da multidão suada, elétrica. Passou por uma turma de mulheres que requebravam os quadris, balançavam grandes bundas enfiadas dentro de pequenos shorts e calças coladas ao corpo.
Dançavam lentamente, como se estivessem ensaiando uma dança de acasalamento, sensuais, eróticas. Os corpos suados, elas fumavam, bebiam e dançavam. Alguns vendedores gritavam, anunciavam suas cervejas, cachaças disso e daquilo. Mistura de odores, suor, fumaça de cigarro, maconha, churrasquinho, gordura, cheiro de xampu de puta. Cabelos molhados.
Continuou andando enquanto fumava, tragava e lançava fumaça ao ar. Desviava-se das pessoas com dificuldade. Andou mais e parou diante da multidão. Louco e cansado. Tossiu e desejou matar alguém. Torcia as mãos nervosamente, com força, as veias saltavam-lhe sob a pele vermelha. Parou novamente, a multidão continuava contorcendo-se à sua volta. Homens embriagados, mulheres, algumas crianças, o som explodia.
Partículas de tensão, energia, tudo vibrava como numa febre. Um estranho prazer de tirar uma vida tomava conta do seu corpo. Nunca tinha cometido um assassinato. Agora, desejava ardentemente matar. Tirar uma vida. Desejava chegar ao ponto máximo de sua ação, chegar a um êxtase que pensava poder sentir ao praticar tal ato.
Chegou a deliciar-se com tais pensamentos. Ver um vida esvair-se em suas mãos, o olhar suplicante e angustiado, o desespero e terror no rosto de sua vítima. Voltou a andar, escolhendo, procurando. Sentiu seu coração bater com mais força, ansioso. Parou em uma barraca de bebidas e comprou um copo de cachaça. Bebeu um gole e com os olhos vidrados examinou o movimento das pessoas. Sabia que iria matar.
Leia este tema completo a partir de 31/1/2011
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