Dos novos e novíssimos - Por Abilio Pacheco
Não sei o que os poucos leitores meus esperam de uma primeira crônica do ano. Talvez esperem que eu fale da posse da Dilma e das conquistas do feminino e quejandos, ou que eu fale da bela Marcela, especialmente não repetindo os discursos maliciosos que circularam por olhos e ecrãs[1], ou das expectativas frente a um novo governo, independentemente de quem esteja lá. Quem sabe esperem análises e opiniões sobre algum assunto da hora, como normalmente se espera de qualquer cronista.
Entretanto, estou mesmo convencido de que estejam esperando que eu fale do ano novo, planos, perspectivas, frustrações de metas não alcançadas em 2010, algo que sirva de aconselhamento ou lição de vida. Não farei isso.
Há vontade sim, mas, além de já terem lido ou mesmo recebido por email tantas e quantas mensagens do tipo (algumas até enfadonhas e outras meio vazias, cheias de lugares comuns)… além disso, outros escritores renomados e melhores que eu fizeram isso. Basta procurar a Receita de Ano Novo de Carlos Drummond de Andrade, tão maltratada em power point, ou a mais recente crônica de Lya Luft na Veja de 05/01/2011.
Ao ler em A arte da celebração, que nos fins de ano e início de outro «nos enchemos de preocupações, acumulamos propósitos, e nos amarguramos» pelas metas não cumpridas e ainda que devemos tentar ser «um pouquinho mais agradáveis e menos tensos», veio-me a mente o rosto de Drummond, logo olhei a foto de Lya e lembrei-me de algo que disse numa das entrevistas do ano passado: literatura é coisa de quem já tem estrada (perdão pelo clichê) e nós jovens ingressamos nela, ou tentamos ingressar nela, de metidos e ansiosos.
Não sei o que os poucos leitores meus esperam de uma primeira crônica do ano. Talvez esperem que eu fale da posse da Dilma e das conquistas do feminino e quejandos, ou que eu fale da bela Marcela, especialmente não repetindo os discursos maliciosos que circularam por olhos e ecrãs[1], ou das expectativas frente a um novo governo, independentemente de quem esteja lá. Quem sabe esperem análises e opiniões sobre algum assunto da hora, como normalmente se espera de qualquer cronista.
Entretanto, estou mesmo convencido de que estejam esperando que eu fale do ano novo, planos, perspectivas, frustrações de metas não alcançadas em 2010, algo que sirva de aconselhamento ou lição de vida. Não farei isso.
Há vontade sim, mas, além de já terem lido ou mesmo recebido por email tantas e quantas mensagens do tipo (algumas até enfadonhas e outras meio vazias, cheias de lugares comuns)… além disso, outros escritores renomados e melhores que eu fizeram isso. Basta procurar a Receita de Ano Novo de Carlos Drummond de Andrade, tão maltratada em power point, ou a mais recente crônica de Lya Luft na Veja de 05/01/2011.
Ao ler em A arte da celebração, que nos fins de ano e início de outro «nos enchemos de preocupações, acumulamos propósitos, e nos amarguramos» pelas metas não cumpridas e ainda que devemos tentar ser «um pouquinho mais agradáveis e menos tensos», veio-me a mente o rosto de Drummond, logo olhei a foto de Lya e lembrei-me de algo que disse numa das entrevistas do ano passado: literatura é coisa de quem já tem estrada (perdão pelo clichê) e nós jovens ingressamos nela, ou tentamos ingressar nela, de metidos e ansiosos.
(Não é uma afirmação peremptória, é uma opinião. A verdade absoluta, coisa exata e precisa, não esperem nesses textos que escrevo aqui. Aliás, não esperem em texto algum. Não creio na relativização exagerada, mas também suspeito de comportamentos inquestionáveis, assim como desgosto da passividade calangante. Assim, leitor, não digo que discorde, mas também não digo que discorde. Escrevemos para vocês tenham ideias, pensamentos e atitudes próprias. Não para criar seguidores. Lembram-se do Prefácio Interessantíssimo de Mário de Andrade?)
Metidos e ansiosos escrevemos, publicamos, colocamos em blogs, sites, participamos de concursos e de antologias. Vociferamos que desejamos ter espaço, que os autores (na verdade, falamos de nosso umbigo) devem ser valorizados em vida; alguns aprendem técnicas de escrita, estudam narratologia ou versificação, poucos vão bem narrar e bem medir; outros negam as técnicas, dizem-nas ultrapassadas e que é preciso inovar, mas terminam ou mimetizando os clássicos ou não inovando em nada. Não estou incluindo aqui aqueles que matam a sintaxe e se perdem na adequação linguística.
Metidos e ansiosos muitas vezes parecemos placebos. O blister é igual, o nome do medicamento também, a cor do revestimento e gosto adocicado em nada se distancia do receitado, mas falta a química, o conteúdo…
As vezes, parecemos frutas pecas. Lá está na mangueira, redonda, cheirosa, rosada ou amarelada, de dar água na boca; cortada é suculenta e de cor agradável, mas o gosto, a substância…
Leia este tema completo a partir de 17/1/2011
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