COLUNA UM - Daniel Teixeira - Espaços Fechados
Dentro das coisas que tenho aprendido melhor desde o início da elaboração deste jornal e agora da rádio e portal Raizonline é que é absolutamente normal viver-se em espaços culturais estanques mesmo que a língua seja a mesma e que não é de todo legítimo esperar-se que haja uma compreensão mesmo aproximada que seja entre universos geograficamente distanciados mesmo que o intercâmbio cultural seja constante e expectantemente aproximador.
A unidade da língua, mesmo coberta pelos dialectos e linguajares locais é uma matéria que acho extremamente interessante ser explorada porque de uma forma ou de outra acaba por sintomaticamente aceitar e rejeitar aquilo que é parecido e aquilo que é distante, respectivamente, em termos de formação cultural historicamente cimentada.
Isto para dizer entre outras coisas o seguinte: uma ouvinte minha (brasileira) insiste para que eu não diga «vou meter uma música» mas sim que devo dizer «vou colocar uma música» porque ao que me parece (tenho quase a certeza) o termo «meter» no Brasil (ou em parte dele) terá uma conotação que aqui não tem: ora aqui em Portugal não se pode «colocar» uma coisa em que não se mexe: colocar tem uma maior relação com o posicionamento (para a esquerda, para a direita, para cima, para baixo, de uma coisa) do que propriamente com o acto de «meter», introduzir.
Mas não é isto o mais importante que eu quero realçar neste meu texto: temos um colaborador, que eu respeito muito, o Cecílio Elias Netto, do Jornal a Província de Piracicaba que me surpreendeu há dias com a defesa da pena de morte: questão que não tem nada a ver com a ordem cultural europeia e por isso me surpreendeu embora haja como será evidente quem ache por aqui essa medida necessária especialmente quando se trata de casos mais chocantes e dos chamados crimes horrendos.
Estranhei mas acabei por aceitar que fosse possível um intelectual com fortes raízes na cultura de raiz ter essas ideias. Agora esta semana surpreendeu-me de novo com o artigo que publicamos hoje e que fala da possível legalização da maconha (liamba, por aqui, acho eu, não chegando ao haxixe).
O problema se é que existe problema é que todo o discurso do Cecílio Elias Netto se circunscreve aos saberes da América latina (refere Fernando Henriques Cardoso - brasileiro e Mário Vargas llosa - peruano como defensores da legalização do consumo da tal de maconha), não fazendo qualquer referência ao que se passa nesse campo na Europa onde na maior parte dos países é permitido o consumo (mas não o tráfico, como é claro).
Ao mesmo tempo são fornecidas drogas de substituição (Metadona) para os viciados em heroína. Não vamos falar aqui das possíveis vantagens ou desvantagens de uma coisa e outra porque o que me interessa ver é o enclausuramento do raciocínio em ambiência não universal e logo local.
Embora os temas sejam complexos e polémicos e não fique nada mal analisar uma coisa em ambiência local, tendo em consideração que os problemas têm lugar a nível local, há também um outro aspecto (e gostaria que lessem a crónica do Cecílio) é que o discurso é, pelo menos aparentemente de esquerda naquela tradição europeia e mundial, ao referir uma pretensa teoria da conspiração (esta de origem americana do norte) sobre a docilização dos consumidores de tabaco e a pretensa eliminação de ensaio da sua vontade livre (de fumar - que é um vício - e teste para outras operações igualmente conspirativas).
Leia este tema completo a partir de 24/1/2011
Dentro das coisas que tenho aprendido melhor desde o início da elaboração deste jornal e agora da rádio e portal Raizonline é que é absolutamente normal viver-se em espaços culturais estanques mesmo que a língua seja a mesma e que não é de todo legítimo esperar-se que haja uma compreensão mesmo aproximada que seja entre universos geograficamente distanciados mesmo que o intercâmbio cultural seja constante e expectantemente aproximador.
A unidade da língua, mesmo coberta pelos dialectos e linguajares locais é uma matéria que acho extremamente interessante ser explorada porque de uma forma ou de outra acaba por sintomaticamente aceitar e rejeitar aquilo que é parecido e aquilo que é distante, respectivamente, em termos de formação cultural historicamente cimentada.
Isto para dizer entre outras coisas o seguinte: uma ouvinte minha (brasileira) insiste para que eu não diga «vou meter uma música» mas sim que devo dizer «vou colocar uma música» porque ao que me parece (tenho quase a certeza) o termo «meter» no Brasil (ou em parte dele) terá uma conotação que aqui não tem: ora aqui em Portugal não se pode «colocar» uma coisa em que não se mexe: colocar tem uma maior relação com o posicionamento (para a esquerda, para a direita, para cima, para baixo, de uma coisa) do que propriamente com o acto de «meter», introduzir.
Mas não é isto o mais importante que eu quero realçar neste meu texto: temos um colaborador, que eu respeito muito, o Cecílio Elias Netto, do Jornal a Província de Piracicaba que me surpreendeu há dias com a defesa da pena de morte: questão que não tem nada a ver com a ordem cultural europeia e por isso me surpreendeu embora haja como será evidente quem ache por aqui essa medida necessária especialmente quando se trata de casos mais chocantes e dos chamados crimes horrendos.
Estranhei mas acabei por aceitar que fosse possível um intelectual com fortes raízes na cultura de raiz ter essas ideias. Agora esta semana surpreendeu-me de novo com o artigo que publicamos hoje e que fala da possível legalização da maconha (liamba, por aqui, acho eu, não chegando ao haxixe).
O problema se é que existe problema é que todo o discurso do Cecílio Elias Netto se circunscreve aos saberes da América latina (refere Fernando Henriques Cardoso - brasileiro e Mário Vargas llosa - peruano como defensores da legalização do consumo da tal de maconha), não fazendo qualquer referência ao que se passa nesse campo na Europa onde na maior parte dos países é permitido o consumo (mas não o tráfico, como é claro).
Ao mesmo tempo são fornecidas drogas de substituição (Metadona) para os viciados em heroína. Não vamos falar aqui das possíveis vantagens ou desvantagens de uma coisa e outra porque o que me interessa ver é o enclausuramento do raciocínio em ambiência não universal e logo local.
Embora os temas sejam complexos e polémicos e não fique nada mal analisar uma coisa em ambiência local, tendo em consideração que os problemas têm lugar a nível local, há também um outro aspecto (e gostaria que lessem a crónica do Cecílio) é que o discurso é, pelo menos aparentemente de esquerda naquela tradição europeia e mundial, ao referir uma pretensa teoria da conspiração (esta de origem americana do norte) sobre a docilização dos consumidores de tabaco e a pretensa eliminação de ensaio da sua vontade livre (de fumar - que é um vício - e teste para outras operações igualmente conspirativas).
Leia este tema completo a partir de 24/1/2011
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