sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

CORONEL FABRICIANO - 044 - Os tiros -  BENEDITO FRANCO




CORONEL FABRICIANO - 044 - Os tiros - BENEDITO FRANCO

Uma noite em Belo Horizonte fazia muito calor. Muito calor mesmo! Impossível dormir. Na cama, rolava pra lá e pra cá e nada de pegar no sono. Trabalhava numa multi. No dia seguinte iria a Ponte Nova visitar duas usinas de açúcar.

- Em vez de ficar aqui, suado, rolando na cama, sairia agora para Ponte Nova. Adiantaria bem o trabalho de amanhã. Pensei com meus botões.

Animei-me. Levantei-me. Mas lembrei-me de ter que comprar pneus novos, pois o carro, com pneus carecas, estaria inseguro para viagem, ainda mais à noite - onze e meia.

- Vou assim mesmo! E fui.

No caminho, a brisa da noite, noite fresca, noite clara, a lua cheia iluminando a estrada e a paisagem. Cheiro de mato, mato fresco e nada de poluição. Vendo a silhueta das montanhas e quase nenhum movimento de carros, devido ao adiantado da hora, a viagem tornava-se um passeio agradável - e com satisfação o fazia. Tranqüilidade total.

Até a cidade de Mariana tudo às mil maravilhas. Parei para um café.

Saindo, subida forte e depois os morros mais frequentes - serra de Minas - curvas e estrada estreita. Em alguns trechos, os consertos, inclusive alguns sem recapeamento. Em um desses, sem asfalto ainda, mas pronto para recebê-lo, muito cascalho, um dos pneus furou, logo no meio de uma curva bem fechada – essas de 180 graus, como se diz. Encostei do lado de fora da curva, sem visão para frente ou para trás.

No acostamento, comecei a tirar a roda, quando de repente surgiu uma carreta com enorme tanque de leite, numa velocidade! Derrapou para o meu lado e me jogou alguma areia e pedregulhos - naquela velocidade e naquela curva, devido à força centrífuga, derraparia mesmo!

Receoso de novamente acontecer, com resultados desagradáveis, resolvi seguir em frente, mesmo com o pneu furado e sabendo o estragaria por completo - afinal, trocá-lo-ia. Perto, mais à frente, um posto de gasolina, onde tudo se solucionaria.

Rodava e rodava e nada do posto de gasolina. O posto sumiu... desapareceu ... Fiquei preocupado - apreensão faz coisa! Faz coisas!...

Enfim, um poste iluminado, e não um posto. Um grande acampamento do pessoal trabalhador na estrada. Uma só lâmpada acesa, a do poste - o acampamento às escuras.

Estacionei ao lado do poste, debaixo de uma árvore, em frente à guarita tosca de madeira - a portaria. Mais atrás as casas pequenas, também de madeira. Na guarita haveria um vigia - ausente, fiquei na esperança de ele aparecer.

Tudo deserto. Só sons surdos de um forró e farra, bem ao longe, talvez do outro lado do acampamento - o pessoal estaria por lá, o vigia inclusive!


Leia este tema completo a partir de 17/1/2011

Sem comentários:

Enviar um comentário