segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

CRONICA DE UM DIA ESPECIAL OU O LANÇAMENTO D`A TERRA E A GUERRA PELA PAZ - João Furtado

CRONICA DE UM DIA ESPECIAL OU O LANÇAMENTO D`A TERRA E A GUERRA PELA PAZ - João Furtado

Aproximava a hora do lançamento. Não era o primeiro, era o Segundo, mas o mesmo friozinho nas entranhas… O frio de alerta do medo de fracas. No primeiro sentiu e no Segundo estava a sentir o mesmo.
A apresentadora, amiga Antonieta Lopes estava atrasada. Eram dezoito horas e cinco minuto. Das outras duas vezes, ela havia chegado muito antes da hora marcada. Na verdade também tinha feito, alias o primeiro lançamento, de uma Antologia da U.L.L.A., a Antologia do Amor. Rapidamente fiz uma retrospectiva dos últimos dias, cada vez mais nervoso e com menos sono. A noite passada eu não consegui pregar um olho, passei todo ele acordado....

O meu percurso de escrita, o começo há quase trinta anos, em São Tomé, quando por preguiça fiz uma redação em dez minutos... ainda recordo o nome da professora, a Alda Bandeira, não sei por onde ela actualmente anda, talvez esteja em São Tomé, talvez na China ou no Japão ou talvez em Portugal ou nos Estados Unidos, eu estou na Cidade da Praia, na Ilha de Santiago Menor, em Lem Ferreira.

Trabalho durante o dia nos T.A.C.V. Cabo Verde Airlines e a noite… bem a noite tenho as minhas insónias e tenho que optar ou cair em depressão e me viciar nos comprimidos de sono, diazepam por exemplo, ou arranjar uma maneira de tornar a noite minha amiga… escolhi brincar com letras e formar palavras e junta-las e dar algum sentido e formar frases e com frases algo que se possa ler…

Tudo isto correu na minha cabeça tal um filme de segundos… A redacção teve umas dez curtas linhas e três ou quatro minúscula frases… se fosse um homem de boa memoria até podia transcreve-lo agora, mas infelizmente estou cada vez mais esquecido. Não esqueço é do Gabriel Maquengo, meu colega de turma, ambos já éramos adultos naquela altura, também éramos muito amigos, eu e ele, já chegamos a ficar quase até meia noite a falar na marginal da Baia da Ana Chaves.

Estudávamos a noite e saiamos por volta das vinte e uma horas. Ele o Maquengo era muito bom da prosa. Ele me fazia lembrar de um outro amigo, o Senhor Damatta. Tanto o Maquengo como o senhor Damatta não escreviam, desenhavam as letras, eu com os meus rabiscos passava horas pasmado a contemplar os escritos de ambos. Ele o Maquengo «gastou» uma folha completa.

A minha redacção era um pequeno poema dedicado ao pôr-do-sol. Na verdade escrevi um poema para a esbelta e bela e dengosa professora, Alda Bandeira, apenas troquei o nome dela por «pôr-do-sol» e… Eureka… até que enfim… Eu consegui, um vinte, sai do meu habitual nove e meio à onze para um vinte decorado com um grandessíssimo «Muito Bom»… naquela noite, se a memoria não me falha, está a falhar constantemente, chegamos, eu e o Maquengo, até quase duas horas de madrugada a filosofar sobre as nossas redacções… as duas maneiras de escrita, que julgávamos ser as únicas.

As minhas parcas e rabiscadas palavras e o meu «VINTE» e a página cheia e belamente desenhada do «VINTE» do Maquengo, uma impecável redacção, tanto sintáxica como morfologicamente…

Foi assim que eu descobri que sabia brincar com coisas sérias e o Maquengo talvez tivesse descoberto como utilizar bem os conhecimentos, muitos, que ele era dono e senhor.
Há mais de vinte e cinco anos que não vejo nem o Maquengo nem nenhum dos meus colegas e professores de então. No dia 17 de Dezembro de 2010, naquele momento estava cada vez mais nervoso a espera da minha amiga Antonieta Lopes e não cansava de ligar por telemóvel para a irmã dela e minha amiga também, Ana Semedo e que com toda a calma do mundo me dizia:

- Já estamos a chegar!

Os segundos pareciam minutos e os minutos pareciam horas...
Os convidados já haviam chegado, muitos prometeram e não vieram, é normal, da próxima virão, ficava a esperança, foi assim no primeiro, será assim no próximo. O importante são os presentes, a sala estava cheia.

Um amigo, o vereador da Câmara da Praia, Tober, chegou e pediu desculpas, não podia estar presente, tinha uma irmã doente, que viria a falecer no dia seguinte e tinha que sair. Fiquei muito triste… lembrei-me da minha irmã, a Biçosa que também entrou em estado de coma antes de morrer… as lágrimas vieram aos meus olhos, enfim.

Leia este tema completo a partir de 4/1/2011

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