sábado, 22 de janeiro de 2011

José Varzeano - Lembrando o Dr. João Francisco Dias no 90º aniversário do seu nascimento

José Varzeano - Lembrando o Dr. João Francisco Dias no 90º aniversário do seu nascimento

(PUBLICADO NO JORNAL DO ALGARVE DE 22 DE DEZEMBRO DE 1988)

Há quinze anos publicámos nas páginas deste semanário, um pequeno «escrito» sobre esta FIGURA que, como então referi, não cheguei a conhecer. Era como que uma pequena «biografia» alicerçada em recortes de jornais e noutros dados que recolhi.

Lembrava-o na passagem do 18º aniversário do seu falecimento e o então escrito serviu-me mais tarde para o referir num trabalho publicado sobre Alcoutim e o seu concelho.
Para aqueles que nunca ouviram falar no Dr. João Francisco Dias, direi que nasceu em Corte Velha, freguesia de Odeleite, concelho de Castro Marim.

Licenciou-se em medicina na Universidade de Coimbra, em 1927 e, depois de uma curtíssima passagem pela terra natal, fixou-se na vila de Alcoutim, que amou como poucos e onde veio a falecer com apenas 57 anos, quando muito ainda havia a esperar da sua inteligência, competência profissional, enorme capacidade de trabalho e amor ao próximo.

Bom médico, excelente cirurgião, fundou o Hospital da Misericórdia, fazendo sozinho o trabalho de uma equipa médica. De tal maneira que o seu nome começou a ser conhecido nas zonas circunvizinhas mas rapidamente se alastrou a todo o Sul do país e zona confinante espanhola, aparecendo na vila, para o consultar, gente de terras bem distantes que quase sempre desenganados, encontravam aqui a sua última esperança, muitas vezes concretizada.
Alcoutim era nessa altura, uma vila hospital!

Mas não era só a competência profissional que trazia aqui os doentes. Além desse prestígio, gozava o Dr. Dias da fama de ter um bondoso coração e tanto tratava os que podiam pagar, como os que não tinham posses para isso, chegando mesmo, nos casos mais gritantes, a pagar do seu bolso os medicamentos.

Lá por não ter dinheiro não se deixa de tratar – era a frase que habitualmente pronunciava. E era assim.

[Monte da Corte Velha, freguesia de Odeleite, concelho de Castro Marim. Foto JV, 1972 - Terra da naturalidade do Dr. João Dias]
«O Dr. João Francisco Dias! Um santo!

Não, um homem com as fraquezas inerentes à condição humana; mas um homem com excelsas qualidades», foi assim que o definiu o Prof. Trindade e Lima, que bem o conheceu.

Não nos iremos alongar mais, mas era conveniente fazer este pequeno resumo para aqueles que o não conhecem. Dois factos passados comigo, são elucidativos do nome que ganhou, ao qual o de Alcoutim andou sempre associado. Quando em 1967 tivemos conhecimento de ter sido colocado na pequena vila raiana, a primeira informação que sobre ela tivemos, a trezentos e tal quilómetros de distância, foi-nos dada da seguinte maneira: «Olhe, teve um médico excepcional, depois do seu falecimento, aquilo morreu».

Anos depois (1980), as andanças profissionais trouxeram-nos para uma cidade piscatória no centro do país.

Conhecemos então um velho pescador oriundo de Quarteira que para aqui veio, em novo, à procura de melhores condições de trabalho, que obteve e por cá ficou, constituindo família.

Quando lhe falámos de Alcoutim, uma vila do Algarve, disse-nos que dela só sabia ter existido um médico que «fazia milagres» e onde ia muita gente dos seus sítios. Isto aconteceu vinte e cinco anos após o falecimento do ilustre médico!

São dois pequenos episodios que testemunhámos e penso, confirmam o que atrás escrevemos.

Leia este tema completo a partir de 24/1/2011

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